domingo, 29 de março de 2020

Caroline Kreile Dos Reis morei no interior do Maranhão por 3 anos, o que há é venda de leite cru por pessoas que alimentam suas famílias através da venda de 1 litro de leite a R$1,00. Óbvio que a realidade da indústria requer fiscalização sanitária, mas estamos falando de VONTADE POLÍTICA. Estamos tratando de MATAR A FOME de milhares de pessoas pelo Brasil a fora. Se vc acha isso impossível, então, veja todas as pesquisas sobre indústria da miséria (alimentícia) que se tem. Não se produz alimento, se produz FOME E MISÉRIA. Jogar fora para o COITADINHO do produtor é mais simples do que OBRIGAR A DOAÇÃO EM SITUAÇÃO DE CALAMIDADE. Será que o produtor não teria NENHUMA maneira de tornar esse produto consumível? Teria mas não faz. O sistema que move a lucratividade nesse setor impõe a venda de uma base alimentar não preparada e DERRAMA PELAS CRIMINOSAS VALAS da produção o que alimenta os vermes da miséria. Claro que eles "gostariam muito" de poder doar. Mas esse poder não é dado aos donos do alimento. A fiscalização sanitária NO NOSSO PAÍS é só mais uma engrenagem. Veja os exemplos dos produtores sustentáveis como o MST, desperdício próximo de zero, responsabilidade humanitária. Por isso a reforma agrária é um "problema" pro burguês, ela legaliza a distribuição e equilibra a lucratividade irracional.

https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,industria-de-alimentos-discute-formas-de-combater-desperdicio,70003051028

https://www.diarioinduscom.com/a-realidade-da-fome-no-mundo-e-a-oferta-de-alimentos/

https://www.politize.com.br/fome-no-mundo-causas-e-consequencias/

http://www.pucrs.br/revista/uma-lei-que-mata-de-fome/

http://www.justificando.com/2019/07/22/relatorio-da-onu-indica-que-fome-no-brasil-que-antes-diminuia-voltou-a-crescer/

https://www.gazetadopovo.com.br/agronegocio/agricultura/lei-que-proibe-jogar-alimentos-fora-vira-exemplo-mundial-3m4jleeqk1exidd8hnjalam5n/

Dicas de leitura sobre o tema. Mas o que se produz nas universidades brasileiras sobre o assunto também vale muito a pena.
Adriano Gross Gonçalves inclusive outros alimentos são descartados não só no nosso país. Muitas são as campanhas de grandes chefes pelo mundo em relação ao descarte de alimento. Por exemplo, durante aquela alta do preço de tomate em 2014 (acho), os produtores estavam descartando esse "produto" nas lavouras, sem sequer os noticiários pensarem em relatar o assunto. Enquanto o alimento for pensado como mais um produto da indústria, não haverá ética humanitária sobre acabar com a fome. Quando se pensa em produtores sustentáveis, como o MST por exemplo, esse descarte chega a zero. Mas a produção em larga escala é desumana e se apoia em dispositivos legais para ser cruel. A fome é o produto vendido nós comerciais das grandes empresas. Se produz vontade de comer o que não se pode comprar. Se produz desnutrição e miséria também. Não há uma indústria alimentícia que se habilite em doar por exemplo cestas com seus produtos às pessoas que não poderiam de jeito nenhum comprar, aos miseráveis. Há toneladas de alimento industrializado por exemplo no lixo por perderem a "validade", outra importante invenção desse sistema. Jogar fora alimento nutre a fome de milhares de pessoas no mundo. Comprar alimento de grandes indústrias e pagar para matar gente no mundo inteiro. Infelizmente, é a realidade da alienação do poder de ser consumidor. Somos os que mantém a roda da morte capitalista em constante dinâmica. 
Para eles, é absolutamente "natural" que se jogue fora porque é um "trabalho" desperdiçado. Eles fazem para garantir o equilíbrio financeiro já que não terão livro sobre, então, não vale a pena alimentar mais nada. O lucro é pensado como o único fim e nenhuma proposta de doação se vê porque não há lucro em doar. É uma lógica ao inverso de alimentar. Produzir alimento para ter dinheiro, não é para "matar a fome", mas para sustentar a fome de muitos que perecerão. Garantir que haja fome mantém o leite como um dia produtos mais importantes desse mercado. A fome alimenta a vontade de comer sem ética, comer sem empatia. Comer nesse caso é um privilégio de poucos e a fome um objeto desejado pelo "produtor de alimento".

sábado, 28 de março de 2020

Por Matheus Germino

As carreatas bolsonaristas revelam o que sempre soubemos: nossa elite é perversa e genocida. E a classe trabalhadora, estranhada e desesperada em retornar para sua condição de exploração compulsória brutalizante, imposta pelas forças destrutivas do Capital, é carente das armas da crítica e do desejo real de emancipação humana e civilizatória. A subjetividade do trabalhador foi completamente deformada pelos valores fantasmagóricos e decadentes do capitalismo. Essa crise humanitária pandêmica deixa claro como o dia que, enquanto vivermos sob o modo de vida capitalista, nossa espécie estará condenada à extinção. Que os ignorantes fundamentalistas desapareçam primeiro!

sexta-feira, 27 de março de 2020

Aos que pediram encarecidamente a ditadura militar violentando as pessoas da "oposição", agora é hora de se ver no lugar indigesto da inibição de manifestação POR QUESTÃO DE SAÚDE PÚBLICA. Os que possuem essa mentalidade contraditório que só querem a ditadura contra os SEUS inimigos, agora precisam perceber que buscar se manifestar em favor das suas escolhas (embora, indiscutivelmente irresponsáveis que são) é um direito DEMOCRÁTICO. Sem democracia não há diálogo. A proposta do governador é conservar a saúde pública em equilíbrio, o contraditório quer colocar em risco as vidas para ganhar sua ânsia por guerra e disputas irrelevantes. Quem sai perdendo com a proposta de "manifestação" contrária a vida são os mesmos que se fazem de defensores da vida no caso de aborto. Para eles, expor à morte milhares de pessoas agora não é uma boa saída? Então, a inibição é uma proposta. Tenho certeza que nada mais do que isso será feito.
Fernando Maués pode ter certeza que no máximo, os mais empolgados serão inibidos e duvido muito que seja na bala de borracha. Veja que as manifestações de apoio ao bolsonazi aqui em Belém sempre foram frequentadas pela branquitude. São senhores e senhoras de bens, que andam, que estão em carros, que levam a família tradicional brasileira nas marchas para Jesus. Eu vejo inclusive policiais de alto e baixo escalão aí. Eder Mauro por exemplo é muito influente aqui e não deixará barato. Eu acredito exatamente que por haver oficiais da polícia que são da elite é que a escolta será feita. Dei aula em cursinhos preparatórios para concurso de PM e de PC, eles flertam bastante com o bolsonarismo. São muitos advogados e pós-graduados em diversas áreas em que a grana fala bem mais alto. E eu concordo plenamente com vc que deveríamos fazer algo em contrapartida. Se fosse uma reação, mesmo que virtual, contra o Bolsonazi eles viriam em manada pra cima de qualquer um, mesmo que fosse de modo criminoso. Então, devemos nos preparar para alguma contrapartida coordenada de casa já que esse é o plano #FicarEmCasa.
Não se preocupe, não haverá "cassete no lombo" de ninguém! Não é assim que se dispersa ricos, brancos e sociopatas em Belém. O que vai haver é uma escolta policial vendo a alucinação coletiva e se arriscando. Policiais são negros, são de origem periférica em sua maioria. Jamais poderiam cassetar seus senhores. Infelizmente essa é a realidade. Haverá com certeza escolta com a hostilidade e a prática ostensiva contidas. A quem diz que será violento, não se preocupe, é só o nosso sonho. Quando o sistema se levantaria contra si mesmo da mesma maneira que arrebenta as cabeças em nossas ruas. O que gostei nisso tudo é que há uma voz de governança dizendo que não apoia e levará a polícia como forma de inibição. Pode ter certeza, não haverá mais do que uma escolta.
Infelizmente, não são os engravatados, os donos de empresas, os "manifestantes" de dentro do carro, as madames querendo suas empregadas de volta, que irão morrer em sua maioria. O vírus atinge qualquer pessoa, eu sei. Mas a maioria a morrer sofrendo sufocada será preta, pobre e periférica. Sabemos que isso é uma certeza que os FASCISTAS que apoiam esse governo sabem. Eles sabem e não disfarçam. Para eles, pobres estão condenados, e não se trata de determinismo, é fascismo.  A eugenia é um sintoma de fascismo. Querer "limpar" a sociedade é o principal objetivo dessa "gente". O mal que está banalizado entre pobres que se sentem levados por uma inércia mental chamada "alienação". A falta de "consciência" de classe é a característica mais dolorosa dessa outra doença social. O inimigo a ser vencido pelos fascistas: a igualdade de direitos. Eles querem apartheid. Eles querem holocausto. Eu não tenho nenhuma dúvida de que há MUITOS fascistas entre nós. Não consigo mais vendar os olhos a fim de suportar. De verdade, realmente tentei andar de olhos fechados porque dói ver o suicídio coletivo ao qual estamos expostos, mas é a realidade. E não é porque estou chamando de "suicídio coletivo" que se trata de culpa de quem o faz consigo. Não! A alienação é uma mentalidade mantida e defendida pelo Estado neoliberal, que se mascara de "democrático" até que se estabeleça de fato a morte (cerebral) do Estado, insuficiência política através de um "Estado Mínimo". O Brasil está vivendo uma pseudodemocracia. Nenhum direito mais tem garantia. Nem o direito à vida. É duro mas não podemos negar! Os legisladores estão sendo empurrados a uma camisa de força por um sistema financeiro irracional. É a distopia neofascista capitalista do século XXI.

quarta-feira, 25 de março de 2020

ao seu nascente

Eu sempre sei escrever sobre despedidas...
Eu vou olhar de longe ela casando, amando, sorrindo, gozando, gestando e criando o próprio mundo. Ela é dona de si. Os olhos dela vão longe, não é mais possível me alcançarem. Eu vou ver ela de longe e não importa quantos quilômetros me distanciarem. Os anos também se vão, mas nunca tão longe. Seu vestido branco, único em plena multidão será vestígio de sonhos que eu jamais presenciarei. Ela sorrindo depois de um belo banquete entre amigos, familiares e padrinhos. Serão muitas pessoas por perto e eu de bem distante dizendo sobre amores e ventos num barco à vela afastado do continente. Longínqua. Eu e a neblina que invadiu o dia. Será no meio da praia o casamento dela. Eu já vejo as flores derramando suas pétalas amarelas, vermelhas e brancas pelo tapete de areia. Será simplesmente lindo. E o mar a me levar por onde nenhum amor nunca esteve. Amar de uma lonjura infinita e valente. Perder para si mesmo vendo fantasmas e uma tempestade à sua frente é desgovernante. A quem já naufragou tantas vezes é hora de se propor ir mais longe. Que chegue aonde ninguém podia dizer que chegaria. Vá pra mais perto de si e de sua própria ilha. Leve a imagem dela na sua parede de fotos indeléveis. Por onde for mais breve a fuga e mais certa a partida. Não retorne de onde saiu um dia. Siga, enfrente a si e lembre dela naquele vestido de amor nascente. O sol já lhe dará um poente para se esquecer de si e das suas feridas. Amar é a cura. Amando há de se curar no fim. O tempo é a única parceria nessa viagem dura... Amargura? Demora em mim a braveza ácida do desarmar em desamor as minhas muralhas. Por baixo de tudo, ferida e sangue sal e água. Nenhuma rota perdura infinitamente. Velas soltas no mar apontam um porto em breve. E nenhuma dor encostará em terra.

no fim ela

- eu conto pra ela hoje?
- não. deixe ela feliz por mais esse dia.
- e se morrer hoje...
- será como uma surpresa ruim e não como uma espera dolorosa.
- o que direi?
- que eu não vou sofrer assim pra sempre.
- o que mais?
- que eu vivi o suficiente.
- econômica?
- matemática.
- é sobre nunca mais poder abraçá-la...
- eu estarei viva enquanto ela estiver... em sua mente.
- e o corpo físico?
- nunca foi o bastante.
- o que direi sobre as manhãs, as tardes e as noites dela esperando na sua frente?
- que eu sabia.
- é verdade?
- talvez eu sinta ela do outro lado da margem.
- o oceano de vida que vai separá-las é gigante.
- não acredito em vida após essa. mas sei que seus olhos leram a minha mente por todos esses anos. nunca ninguém chegou em mim tão longe.
-  quais suas últimas palavras a ela?
- eu a amo. e o presente de amar dura por toda eternidade

No Brasil temos uma mentalidade tão carente que idolatramos os funcionários que possuem cargo eletivo. Idolatramos vereadores, deputados, senadores, prefeitos, governadores, presidente e demais funcionários porque temos uma carência de instrução, uma precária educação crítica e uma ignorância absurda sobre nossa própria realidade. Já foi denominado alienação esse estado em que não se sabe de si mesmo ao defender quem não lhe defenderia. A lógica desenhada parece óbvia, mas no Brasil (país do futebol) defender o "seu político" é muito mais comum do que defender o direito de todos ou melhorias para a coletividade. O problema é que a conta chega, o resultado é sentido por todos. Quando defendemos os políticos que deveriam ser nossos funcionários, que deveriam ser cobrados para fazerem da melhor forma as suas funções, perdemos o principal: nossa dignidade enquanto nação. Aqui não vale nada ser honesto e competente. Aqui basta só balançar bandeira e morrer ou matar por gente que NUNCA nem nos conhecerá. Se morrermos ou se nossos parentes morrerem eles jamais vão chorar. Eu queria um país de gente exigente (instruída) e não de torcedores fanáticos por nomes e siglas imundas de tanta corrupção e incompetência. Eu queria um país de gente sensata!
As periferias e as favelas sempre foram alvos das "balas perdidas", mas ninguém sentia. A ascensão da classe média, que promoveu sua voz, fez se ouvir o sofrimento de muita gente. Agora querem retirar o direito de existir. A importância de educar nas áreas periféricas está em garantir que o direito de existir e ter voz na política jamais pereça. Dar voz a quem sempre foi silenciado é uma luta diária da educação antifascista e democrática.
O mal do indivíduo que defende o capitalismo é pensar que a humanidade depende de dinheiro para viver. Não se defende mais a vida das pessoas, mas somente o "direito" de produzir. A alienação é uma forma de suicídio, faz parte da estrutura cultural capitalista indiscutivelmente genocida, Marx comentou a relação de necropolítica da vida privada nesse sistema desumano. Saramago também demonstrou o poder dessa "máquina" em desumanizar a gente. A era bolsonazi brasileira mascarada pela defesa do "bem" maior (capital) não está mais debaixo de máscaras. Defender esse discurso é banalizar a violência contra a própria humanidade coletiva e intrínseca. Muitos fascistas se empenharam na mesma direção, como exemplificou Hannah Arendt em "Eichmann em Jerusalém". O mal é a desumanidade que nos faz nos distanciarmos do que é ser humano e nos aproximarmos de "máquinas da produtividade". Para mim, está mais do que na hora de defendermos a ideia de ser humano, que não é natural. Precisa ser reinventada, mas também ensinada, transmitida e valorizada urgentemente.

terça-feira, 24 de março de 2020

Esse cara está vivendo um mandato histórico. É daqui para o registro dos livros. Ele não está só nos defendendo do vírus, há um mal BEM MAIOR RONDANDO A NOSSA PÁTRIA. O fascismo está correndo por fora como um cão rondando a presa. E eu confio nesse governador! Ele pode nos ajudar a vencer essa batalha. O mandato democrático desses representantes NÃO PODE SER AMEAÇADO com discurso cínico. É a hora de lutar pela democracia! O coronavírus vai nos mostrar quem segura em pé! Estarei do lado dos democratas SEMPRE!

Uma voz se ergue no meio da paranóia...uma mulher se faz ouvir em chamas

Histeria..... palavra tão cara ventilada em discurso politico sem qualquer explicação ou contextualização. Como se histeria fosse algo de um falseamento, de um teor não verdadeiro, de um exagero. Eu, como histérica incurável que sou, penso: nada é mais vivo do que a realidade psíquica de um sujeito, ainda que fictícia e cheia de excessos. Se uma histeria se faz, ouçamos ela. Onde há histeria há um corpo que é palco de muita energia. Onde há histeria há vida, nem que seja em nome do medo da morte e do desamparo. Se um povo histérico desobedece a ordem de um líder sem platéia, esta é uma histeria legitima! Escutemos a histeria!
Os governadores do Brasil estão lutando pela democracia cambaleante. A cada pronunciamento, o estado democrático de direito é alvejado e vacila. É isso que ele pretende. Quanto mais sua verborragia se fizer ecoar, mais o estado de sítio se deflagra e ele ganha condições constitucionais de ser autocrático. Os governadores sabem que estão a um passo de perderem seus cargos e os legisladores estão cientes de que podem perder a vida. O Brasil enfrenta mais do que uma pandemia. Estamos a um passo do fascismo. É inacreditável a irresponsabilidade de quem foi às urnas, às ruas e ao grito para pedir o genocídio. Quem sobreviver aqui nunca esquecerá que foram muitas mãos a pedir guerra civil.
Pode ser. Mas sem dúvida ele está apostando no pior. O que de fato um fascista quer é mortes. Sem dúvida a psicopatia dele está clara. Não se trata de uma "gripizinha" em nenhuma hipótese. E mesmo as medidas de contenção por quarentena ou isolamento não vão garantir um número de mortes "satisfatório", mesmo porque não existe nada próximo disso quando se trata de mortes evitáveis. Os números estão em subnotificação. O estado de Minas já mostra a anormalidade de mortes por problemas respiratórios nunca antes registrada, embora nada prove ainda que tenham sido por causa do novo coronavírus. Então, acredito que não é essa a estratégia de marketing. O que ele está deflagrando é sua necropolítica, que logo pode se tornar um fechamento do congresso se o país chegar em estado de sítio. Ele quer a desordem para se enraizar e terá apoio militar em peso. Devemos nutrir a democracia a partir dos governadores que já entenderam que perderão seus mandatos caso ele conclua o seu plano de governo autoritário.
Se o caos que bolsonazi pretende se instalar no nosso país, será o passo que ele quer para o autoritarismo. O propósito claro dele com seus pronunciamentos é a convulsão popular. Ele quer a guerra e as mortes. Caso governadores se deixem sucumbir pelas crises econômicas e percam a popularidade, as condições para o governo fascista vão estar mais fortes. Eu acredito que a luta pela democracia se intensifique e defender os governos estaduais será a única saída. A pressão popular em deputados deve ser para que na prática apóiem as medidas "rebeldes" dos estados e assim garantam  a democracia até o fim do ano. Por mim, o impeachment aconteceria ainda hoje, mas não acredito que venha do dia pra noite. 😔

segunda-feira, 23 de março de 2020

a situação é indiscutivelmente difícil. Estamos passando por algo incontrolável e por nos sentirmos sistematicamente impotentes, sucumbimos muitas vezes ao descontrole emocional. Mas eu posso te dizer que isso é pior. Não quero que vc me entenda mal, preciso que sua razão seja agora o principal meio de estabilidade para a sua mente. Todos sabemos que é realmente uma situação difícil, mas não é impossível de vencer e não podemos deixar o desespero nos fazer perder antes. Uma boa energia emocional é muito importante e ajuda a combater males tão desastrosos quanto esse vírus. Não é místico em si. É psicológico mesmo. A debilidade emocional derruba a imunidade e gera falta de planejamento. Vc precisa estar tranquila ao máximo possível para colaborar com a sua família. Não deixe esses pensamentos desestabilizadores derrubarem sua capacidade de acreditar, de ter esperança, de confiar. Confia em Deus, confia na força da sua família. Acredita em vc mesma. Vc vai vencer as batalhas. Entrega a sua energia positiva todo dia para a sua mente e deixa essa ideia fazer morada no seu coração. Não se deixe abater antes da hora. A hora agora é de espera com vigor. É aquela espera que o Freire dizia. Esperar com um movimento de vida para enfrentar as turbulências. Vamos vencer muitas outras batalhas! Eu acredito que pode dar certo! Eu confio que podemos vencer esse mal com esperança!
O grupo de risco é a HUMANIDADE. TODOS da espécie hommo sapiens (no caso as PESSOAS TODAS, até os fascistas) são grupo de risco para se CONTAMINAR. Porém, existem pessoas que têm a tendência a desenvolver a forma mais grave e acabam por aumentar a chance de morte. O risco é de morte sim e as pessoas que têm maior vulnerabilidade são as que mais desenvolvem a doença de maneira grave. Repetir está pouco então para finalizar: TODOS podem "pegar" a doença, mas alguns (não poucos e nem menos importantes) podem morrer. Até o jovenzinho que se acha o homem de ferro pode morrer dependendo da debilidade do seu próprio sistema imunológico. Então, FIQUEM EM CASA, mesmo se vc se acha o imortal.

domingo, 22 de março de 2020

ela é a minha alvorada

A noite chegou com ela. Andaram uma vida inteira até o meu quarto. A demora não se sabe pelo relógio da sala. Parece sempre atrasada, moça. Acho que é essa ansiedade que nos domina.
Queria dormir no seu colo uma história de amor completa. Do primeiro ao último capítulo, ouvindo seu respirar cumprido. Não importa quantas linhas escritas ou quantas palavras, sequer se contam as letras. Apenas o seu ir e vir de inspiração e respiração ligeiras. Os pulmões em coro sabem o acalanto sob o meu travesseiro. Sobe o tom de ninar qualquer desejo nas horas ardendo em vibrantes sintonias.
Eu não sabia que ela andava junto ao tempo, ou que as fases da lua obedeciam a sua matriarquia. Ordena as estrelas e controla suas próprias primaveras. É dona e mãe severa de todas suas angústias e ânsias sonoras. Ela ergue o dia e sucumbe as minhas razões e prudências com suas manhas. Sou dela enquanto vibro em suas profundezas e silencio. Me afaga em suas mãos sem respeitar regras movidas por um temperamento doce e incontrolável.
Eu não queria mais acordar. A visão dela no quarto me amansa. Por que eu preciso tanto do sorriso dela para sonhar, para gozar e para amolecer inteira? São os olhos dela fechados alguma mágica que me hipnotiza? Eu queria tomá-la pelo braço e dizer "deita aqui do meu lado pro resto da vida". Não perguntaria nada, só diria em segredo uma breve serenata na sua boca.
Tenho mesmo tanta necessidade da sua presença? Não é física. É poética pura. Ela não tem efeito material no meu corpo? Claro que tem. É um despertar de tudo enquanto o mundo lá fora morreu. Mas sobretudo é poesia porque desprende as palavras prisioneiras. Elas escapam na direção dela, como se não fossem mais minhas. Sempre foram suas. É a musa na minha melodia desde o primeiro dia. Se eu cantar, foi porque ela me amanheceu.


Minha insônia favorita

Quando meus olhos fecharam...ela surgiu na minha cozinha. Era uma casa toda clara, tinha cortinas na janela e uma linda sacada. O cabelo dela estava preso e fazia uma coroa em cima da sua cabeça de rainha. Ela me dizia frases comuns e eu nem respondia. Eu ainda não sabia o que ela queria ali de frente pra mim em plena sua casa, lugar que ela regia sem nenhuma insegurança.
Eu olhei nos seus olhos e estranhei como eles estavam sorrindo. Eram de uma cor que luzia, tipo cristais em prisma. Um arco-íris se fez no meio da minha vista. As janelas estavam abertas, eu sentia o vento que balançava as venezianas no meu quarto.
Ouvi o som da minha playlist favorita e o nome dela estava chamando na tv. Era ela na minha sequência viciante. De longe, a música dizia "qualquer lugar com você é casa... você é casa". Era ali a minha moradia.
Olhei ao redor, a mesa estava posta. Eu estava sentada inerte. Se o mundo balançasse eu não cairia, apesar da lei de Newton. Ela era o único dispositivo que eu seguia. Ao som macio da sua voz mansa e aguda, ouvi um "eu queria o leite não esse negócio aqui", eu balbuciei "você quer mandar em tudo", com voz suavemente rebelde. Ela me olhou como se dissesse "tá sonhando de novo...seus olhos ficam ausentes".
Acordei de repente. Ela estava de novo na minha mente. Eu estava de novo sorrindo e dizendo "onde ela consegue tamanha autoridade?". Era a dona de tudo que eu via frontalmente. Eu via apenas à frente e o passado estava longe demais com ela sendo um presente incondicionalmente. O futuro era o meu invisível poente. O sol se põe todo dia, e a noite invade a gente.
Ela era o meu nascer. Nasceram tantas coisas dela que eu nem sei o que ela não gestava. Criadora como a natureza imponente. Criatura como o mar mais pungente de vida. Fértil como uma ventania ardendo as florestas. Não há o que pereça em sua dinastia. Ela invadiu a minha sala de jantar, já era 21h e logo tomaria conta de mim durante toda a madrugada.
Eu olhei para ela sentada em uma das cadeiras. Estávamos todos em volta dela na mesa. Era eu, uma bela menina cacheada e boba, um menino de cabelos dourados e ela com os olhos de reprovação pela aquela cena novelesca sem graça. Ela queria o quê? Nossas bílis enquanto passava um breve noticiário na tv longínqua. "Quem deixou essa porcaria ligada?". E eu querendo sentar na sua sala enquanto comia salada e pizza de rúcula.
Ela queria fanta laranja, alguém comprara fanta uva e batatas fritas. Quem se atreveria a tamanha displicência. "Era o que tinha". "Nunca tem milho de pipoca, cerveja longneck e nem meu sorvete favorito". "Qual é o seu sorvete favorito, dona?". "Qualquer um que esteja bem durinho, né, mãe". "Eu ainda pergunto, sabendo que sempre perco essa história". "Calada você está certa, mas falando você é condenada".
Ela me condenou a ser sua. No dia em que lhe vi naquela roda de gente estranha. Ninguém fala nada com nada e eu tô aqui atrás do farol que os olhos dela refletiam desde a porta daquele construção anacrônica. Ela é uma velha resposta aos meus traumas. E eu fui deitar sem conseguir acordar do sonho que é poder tê-la. Na rede ao lado ela balança o mundo, eu não consigo ver mais nada. O balanço dela me causa vertigem.
Sua voz no fundo me chama "esse pelo todo me faz mal, você sabe". Eu canso de cheirar seu pescoço e ela vira e nutre um vulcão que não entra em erupção até seu oceano desprender de suas profundezas. Dentro dela, eu conheço outras histórias. Eu vi um universo de letras esquisitas demais para a minha cética mistura de lógica e mística católica. Ela é comunista e eu estou aprendendo a ler sobre anarquia em tempos de cólera.
 Ela ri da minha insanidade. Da minha imaturidade, ela zomba. E, por minha insegurança, ela me empurra para a maior queda-livre: amá-la em desmedidas. Eu acordei aquela noite com a respiração ofegante porque sonhei com a sua boca, caí em uma insônia profunda.
Alguém bateu no quarto. Eu abri a porta, tinha os cabelos cacheados soltos. Olhei e vi que os olhos eram familiares. Ela estava cada dia mais livre e serena. "Não consegui dormir por causa dessa chuvarada, mãe". "Entre, querida". Dormiram como se não tivesse mais nenhuma chuva. Mas a escuridão não me atingia. Insone continuei e escutei canções de antes, de quando eu sonhava com ela na minha vida. Já estava claro quando ouvi sua voz de sempre "não é hora para dormir agora, há uma vida esperando por nós". E lhe senti no céu da boca.
Os olhos pareciam vidrados. Tomamos banho na hora de sempre. No "banheiro da sala", de onde ouvi sua música favorita de uma mulher cheia de lutas. Eu escutei todas as letras que sorriam na minha língua. Não podia cantar. Não tinha nenhuma melodia na minha boca a não ser a sua saliva. E me hipnotizava a sua pele macia com a textura de água limpa e sabonete. Ela tinha uma indumentária de rainha mesmo nua. E eu não sabia explicar nada até ela pedir o roupão pra ficar molhada na cozinha.
Eu não sabia o que fazer sem ela na minha sala, escutando as mesmas músicas preferidas. Os filmes dela são os mesmos durante as manhãsinhas. Ir ao supermercado só depois das 10h "aquieta a vida". Eu seguia parada olhando ela deitada como quem dormia sua lógica, seus seios lisos derramando uma beleza irresistível. Eu dizia "vamos beber mais tarde um cervejinha para acalmar as coisas". Ela estava certa, eu "iria deixar para depois mais uma pressa"... Eu queria a vida com ela na minha sacada, enquanto eu fumava sozinha.
Eu acordei com o cheiro dela no lençol da cama. Ela estava na crônica de amor e insônia daquela quarentena. O vento do ventilador cantava o toque dela na minha perna fria. Ela é o meu sonho de amor escrito em todas as linhas dessa tarde sozinha.
Março 2020 L.A.N.A

sexta-feira, 20 de março de 2020

Eu acredito que o desespero claro desse áudio não é para o mal e sim para o bem. Quando se vive uma situação de extrema vulnerabilidade, de risco iminente de mortalidade, não há como ser "frio". Acredito que a frieza nesses casos seja indício de psicopatia. Não se trata de medo de morte, mas de medo de ver pessoas que amamos serem contaminadas, assim como nós também poderemos ser, e terem uma situação de extremo sofrimento. Eu não quero isso para minha mãe de 67 anos. E, por extensão, à família de ninguém, quero que tal mal aconteça. Então, não custa nada ficar em casa. Não custa nada propagar informações e motivações à quarentena e ao isolamento quando necessário, por suspeita ou contato com possíveis infectados. A questão é essa. Ou defendemos a nossa humanidade, sendo solidários e ficando em casa. Ou assumimos certa nuance de desprezo a outros seres humanos através de um discurso de indiferença a tamanha calamidade. Estamos em uma guerra contra um vírus, inimigo quase invisível e muito mais poderoso do que qualquer invenção que já tenhamos conseguido ter através da ciência. É hora de ficar em casa e esperar o tempo dele passar. Eu acho, no mínimo, prudente. Ninguém deveria perder pela falta de empatia de ninguém.

quarta-feira, 18 de março de 2020

Não é por medo. É por PRECAUÇÃO! Por favor, cuidado com as chamadas, deve haver RESPONSABILIDADE. As pessoas não estão fazendo o protocolo INTERNACIONAL de quarentena POR MEDO é por CUIDADO. CUIDADO! A palavra não é sequer proteção. Cuidado comigo e com os outros. Vamos estimular o cumprimento das regras, Diário! Agora não é mais hora para espetáculos de agenda. Agora se trata de ÉTICA HUMANITÁRIA. Ou jogamos no time que vai ganhar ou aqueles que ficarem do outro lado estarão no mesmo fracasso que todos nós. A MORTE de pessoas inocentes NUNCA PODE SER ENCARADA COMO SENSAÇÃO DE PÂNICO, ela é a própria desgraça da humanidade. Eu não quero enterrar meus mortos em valas abertas. Eu quero a dignidade de uma morte humanizada para TODOS.

terça-feira, 17 de março de 2020

Sim, acredito que há tudo uma razão de ser...

“E as pessoas ficaram em casa. E leram livros, e escutaram, e descansaram, e se exercitaram, e fizeram arte, e jogaram jogos. E aprenderam novas formas de ser, e ser em quietude. E ouviram mais profundamente. ⠀

Algumas meditaram, algumas rezaram, algumas dançaram. Algumas encontraram suas sombras. E as pessoas começaram a pensar diferente. E começaram a se curar. E na ausência de pessoas vivendo na ignorância, no perigo, no egoísmo e na inconsciência, a Terra começou a se curar. ⠀

E quando o perigo passou, e as pessoas se juntaram novamente, elas choraram seus mortos e fizeram novas escolhas, e sonharam sonhos novos e criaram novas formas de viver e de de curar completamente a Terra, da mesma forma que eles haviam sido curados”. ⠀

- Kitty O’ Meara
Pessoal, eu nunca gosto de me pronunciar em situações polêmicas, mas não se trata de polêmica. É uma questão inquestionável de saúde pública. Eu tenho uma mãe de 67 anos, que possui plano de saúde na Hapvida e eu, honestamente, não acredito que em caso de epidemia será realmente eficiente o serviço. Saúde pública é coisa séria e jamais pode ser levada a questões estritamente particulares. Idosos e bebês, tenho o meu afilhado de 1 ano e 8 meses, são grupo de risco de morte, não de risco de infecção. Somos professores, eu tenho 32 anos, posso entrar em contato e ser assintomática e mesmo assim levar a morte para a minha casa. Em geral, a quarentena tem o efeito de controle epidemiológico. É para que não se alastre de maneira tão desastrosa. É apenas o ano letivo em comparação com vidas. E nada pode ser comparado com vida. Nada. Ao menos, é essa a opinião que eu defendo.

segunda-feira, 9 de março de 2020

Eu não sou ninguém para vir defender ou condenar, mas estou muito perplexa com os comentários transfóbicos que se espalham por causa dessa situação. Não tem como não assemelhar o tratamento discursivo de muitas pessoas (mulheres, homens, feministas ou não) com fascismo. É muito óbvio o critério seletivo. Não quero defender nenhum tipo de crime. Sou absolutamente contra a cultura do estupro e qualquer forma de apologia a esse crime irreparável. Me solidarizo com as vítimas, pessoas que já sofreram e com qualquer situação nesse universo de abuso sexual. Porém, não consigo enxergar na condenação compulsória dos discursos contra Susy nada de bom. A transfobia é um crime, mas também uma ideologia de purismo genético, biológico, sem qualquer benefício humanitário. Fazer justiça com as próprias palavras em um canal como o Facebook é discurso de ódio e não surpreendentemente foi iniciado nos porões do fascismo. Hannah Arendt quando foi analisar o caso de um fascista chamado Eichmann identificou uma semente (origem) fascista em uma pessoa comum. Ela chamou de "banalização do mal". Qualquer humano sem priorizar a ética humanitária tende ao extremismo e ao ódio gratuito que estimula genocídio. Eu sou contra isso. Também, consigo ver nitidamente o racismo que se escancara no caso de Susy, muitas pessoas condenam ela e toda a população negra trans ou não  que está em sua maioria povoando as nossas cadeias, que parecem um apartheid legalizado. Susanne Von Richthofen está sendo cotada para ser protagonista de um filme e foi abraçada por uma comunidade evangélica. Sem querer equiparar crime bom e crime ruim, não tem como não perceber que a condenação fatal é transfóbica e racista. Se a justiça está para a democracia como uma garantia dos direitos de qualquer pessoa, não posso discordar de que ela está pagando por sua pena, como poderia acontecer comigo, mas em condições indiscutivelmente piores. Eu sou branca, eu sou cis, eu tive oportunidade de fazer universidade. Então, o que eu percebo é que precisamos tomar cuidado para não fortalecermos nosso maior inimigo, o patriarcado, branco, misógino e fascista.
Cuidado para que a notícia, aparentemente, inocente não seja estimuladora de transfobia. A transfobia é um crime e não pode haver por parte de uma notícia veiculada por um portal tão sério e popular esse tipo de mensagem. Não estou dizendo que há transfobia direta ou intencional na informação porém é visível o número alarmante de pessoas comentando de modo transfóbico. Notem que não era a intenção da série do fantástico promover conteúdo transfóbico, ao contrário era COMBATER A TRANSFOBIA que mata milhares de pessoas no Brasil todos OS DIAS. NINGUÉM mandou escreverem carta, quem fez, fez porque quis. Se Suzy recebeu cartas de crianças escritas dentro de uma escola, significa diretamente que a educação está promovendo a harmonia, a solidariedade e a humanidade entre as pessoas. Talvez essa seja a principal necessidade não só de Suzy mas de muitas pessoas que foram parar na cadeia por causa da desigualdade social NOJENTA que temos em nosso país. Há racismo também nesse ódio todo. Suzy não é branquinha, não vão fazer um filme sobre ela como já há cotação para acontecer com Suzane Von Richthofen. Pois é Dol, cuidado para não caírem no hall de veículo de comunicação abrigador do discurso do ódio e do fascismo. Onde não há dignidade possível para QUALQUER pessoa, nem que seja sobre sua história, sobre sua menção, NÃO HÁ DEMOCRACIA. Onde não há democracia impera a lei do holocausto. Quem vai jogar a próxima pedra? Eu gostaria de não ter visto tamanha desumanidade como presenciei nessa lastimável reportagem anti-humanitária. Cuidado com seus próprios leitores, entre eles há os que disseminam genocídio em pele de "justiça verbal".
De onde menos se imagina, brota o fascismo. São comentários indiscutivelmente transfóbicos, sutilmente racistas, naturalizadores da discriminação, mantenedores de discurso  que julga existir uma gente mais "natural" e outra "anormal". É a banalização do mal nas rodas mais "progressistas". Onde se lê há gente mais natural, leia-se também um discurso antigo sobre uma tal raça ariana "mais pura". São contra a humanidade e sua diversidade e dizem que são a favor da humanidade. Eu estou triste demais. Há tanta transfobia naturalizando genocídio na minha timeline de modo que eu penso: o fascismo está vencendo. A banalização do mal (fascismo) naturaliza discurso que segrega, banaliza a violência simbólica através do discurso sutil das redes sociais que prega a "justiça verbal". São os justiceiros/justiceiras da web destilando ódio, vingança e desumanidade. O que não se assemelha ou seria se aproxima mais do fascismo do que a condenação do diferente? O fracasso da humanidade me assusta.

domingo, 8 de março de 2020

O dia começa com a poesia dela
Com a poesia de lá
Com um dia do lado de cá
Uma vida inteira
Esperando um toque
De palavras
Que são teus
Que são esses
E agora meus.

Eu não sei o que fiz ao mundo
Pra te ganhar assim
Do nada
De um jeito inexplicável
Incrível
Inusitado
Feita exata
Descrita no meu desejo
Nos meus pedidos
Nos sonhos acordados
Em tardes de domingo.

Como és isso?
Como és tudo?
Como pode Ser
Como existe assim?
Como sustenta essa tua marca
Tão perfeita
Tão viva
Tão tua
E as vezes minha.

Como tu vive
Mexendo comigo
Entrando na minha vida
Sem pedir
E para.
E vive.
Tú é uma poesia inteira.
Infindável.
Versos inesgotáveis.
Poemas imensuráveis.
Tu é uma poesia toda.
Tem teus inícios e meios
Mas não me apresenta teus fins.
Me confunde os olhos
As certezas
Entre cigarros e cervejas
Minhas verdades escorrem
No chão da tua palavra
Da tua voz.
E na didática, dialética
Meio certa
Enquanto o coração aperta
Meu peito enche
Minha respiração se cansa
De todo esforço pra viver
No teu mundo
Naquele infinito segundo inteiro de ti.

Eu jurei não te querer
Jurei não te amar
Jurei não desejar o teu eu inteiro
Em mim.
Jurei todo dia te afastar
Me afastar
Não me permitir
Não aceitar querer
E mesmo não querendo
Eu quero.
E mesmo não te vendo
Eu peco.
Mesmo sem pedir
Eu peço.

Só vejo teu corpo
Tuas mãos
Teus dedos
Tua boca
Teu cabelo
Teu mundo
Entrando no meu
Ali
Em qualquer lugar do mundo
Te ter nas mãos
E segurar
Beijar
E engolir tua poesia
Sobreviver da tua energia
Respirar tuas narrativas
Tua história inscrita em mãos
Nas tuas
Que queira Deus, sejam minhas.

Tu me escreve
E mexe tudo aqui dentro
Não respiro
E sigo.

L.A.N.A.
Cuidado para que a notícia, aparentemente, inocente não seja estimuladora de transfobia. A transfobia é um crime e não pode haver por parte de uma notícia veiculada por um portal tão sério e popular esse tipo de mensagem. Não estou dizendo que há transfobia direta ou intencional na informação porém é visível o número alarmante de pessoas comentando de modo transfóbico. Notem que não era a intenção da série do fantástico promover conteúdo transfóbico, ao contrário era COMBATER A TRANSFOBIA que mata milhares de pessoas no Brasil todos OS DIAS. NINGUÉM mandou escreverem carta, quem fez, fez porque quis. Se Suzy recebeu cartas de crianças escritas dentro de uma escola, significa diretamente que a educação está promovendo a harmonia, a solidariedade e a humanidade entre as pessoas. Talvez essa seja a principal necessidade não só de Suzy mas de muitas pessoas que foram parar na cadeia por causa da desigualdade social NOJENTA que temos em nosso país. Há racismo também nesse ódio todo. Suzy não é branquinha, não vão fazer um filme sobre ela como já há cotação para acontecer com Suzane Von Richthofen. Pois é Dol, cuidado para não caírem no hall de veículo de comunicação abrigador do discurso do ódio e do fascismo. Onde não há dignidade possível para QUALQUER pessoa, nem que seja sobre sua história, sobre sua menção, NÃO HÁ DEMOCRACIA. Onde não há democracia impera a lei do holocausto. Quem vai jogar a próxima pedra? Eu gostaria de não ter visto tamanha desumanidade como presenciei nessa lastimável reportagem anti-humanitária. Cuidado com seus próprios leitores, entre eles há os que disseminam genocídio em pele de "justiça verbal".
Conselhos para uma mulher forte

Se és uma mulher forte
protege-te das feras que quererão
almoçar teu coração.
Elas usam todos os disfarces dos carnavais da terra:
se vestem como culpas, oportunidades, preços a pagar.
Fuçam tua alma, metem o ferrão de seus olhares e prantos
até o mais profundo magma da tua essência
não para iluminarem-se com teu fogo
mas para apagar a paixão
a erudição de tuas fantasias.
Se és uma mulher forte
tens que saber que o ar que te nutre
também traz consigo parasitas, moscões,
pequenos insetos que buscarão alojar-se no teu sangue
e alimentar-se do que é sólido e grande em ti.
Não percas a compaixão, mas teme-a quando ela te conduzir
a negar a palavra, a esconder quem és,
e te obrigue a amaciar-te
e te prometa um reino terrestre em troca
de um sorriso complacente.
Se és uma mulher forte
prepara-te:
aprenda a estar só
a dormir na mais absoluta escuridão sem sentir medo,
e que ninguém te jogue cordas quando rugir o temporal,
a nadar contra a corrente.
Aprende os ofícios da reflexão e do intelecto
Lê, ame a si mesma, constrói teu castelo
circunda-o com fossas profundas
mas deixa grandes as portas e janelas.
É imprescindível que cultives enormes amizades
para que os que te rodeiem saibam quem tu és
que tu faças um círculo com fogueiras e que o acendas no meio do teu quarto
uma lareira sempre ardente na qual se mantenha o fervor dos teus sonhos.
Se és uma mulher forte
protege-te com palavras e árvores
e invoca a memória das mulheres antigas.
Tens que saber que és um campo magnético
para onde viajarão gritando os pregos enferrujados
e o óxido mortal de todos os naufrágios.
Ampara, mas ampara-te primeiro.
Guarda distâncias.
Constrói-te. Cuida-te.
Entesoura teu poder.
Defende-o.
Faça-o por ti.
Te peço em nome de todas nós.
(Gioconda Belli, Nicarágua, 1948)

sábado, 7 de março de 2020

Realmente o tema "amor romântico" precisa ser muito mais debatido. As relações supostamente romantizadas apresentam muitos sintomas da nossa cultura. O machismo, a misoginia, a disputa de egos, o narcisismo, a idolatria de um mito (feminino ou masculino), as sagradas escrituras sobre as relações interpessoais, a homofobia, a transfobia, o racismo, o preconceito de classe e o capacitismo... são estes algumas das marcas que parecem definir romances regados a violências (simbólica, psicológica, física e patrimonial). Há dilemas também importantes dentro dessa lógica viciada em tornar os humanos dependentes entre si, sufocando a autonomia e com ela a oportunidade de conhecer mais sobre a real necessidade de afeto. A criatividade humana para o enlaçamento afetivo é ameaçada por essa ideia deturpada de amar. Como se fosse essa a única maneira possível. A monogamia é o alicerce desse mal e sustenta junto a submissão do amante em função de um ser amado inalcançável. Talvez a humanidade deva nutrir dentro das suas mais caras revoluções uma guerra frontal ao amor romântico, pai da cela "casamento" e do cadeado "procriação". Deve haver outras formas de ser realizado por estar em um relacionamento afetivo entre pares. O amor romântico, realmente, parece uma droga de efeito moral.

domingo, 1 de março de 2020

Pedro Vieira Neto eu escolheria não mentir para ele sobre o que de fato foi ruim. Ser criança em um mundo onde se concebe o padrão imediatista como cultura para as relações afetivas, assim como para as vontades consumistas, não deve ser mais fácil do que fora antigamente... O imediatismo é ilusório,  é necessário diferenciar o tempo de cada coisa. O vídeo propõe afeta na relação familiar, o que é legal, mas não deve ser superficial. Afeto é mais do que um acolhimento imediato, é a capacidade de interação real entre mãe e filho sem artifícios. Acho estranha essa proposta de trazer os "métodos" de ser uma boa mãe ou um bom cuidador afetivo por meio de instrumentos lúdicos pré-estabelecidos. Daqui a pouco haverá uma "escola de como ser pai e mãe com sucesso"? É isso. Resolver os problemas naturais de uma relação intrafamiliar não pode ser assim. Talvez o filho se encontre angustiado por testar esse lugar, por intuição. Crianças são muito mais sábias do que se pode imaginar, muito mais elas ensinam do que aprendem com os adultos porque são naturais e referenciadas pela meio em que circulam, pelo lugar onde são e onde os pais também estão. Então, não gosto dessa abordagem lúdica que a mãe propõe, ela se esqueceu de mostrar ao filho o que ele realmente precisava saber ali. Ele queria atenção para esse querer. Ela deu um sossego a si mesma, como qualquer adulto faria. Eu não vejo uma diferença significativa senão ao fato que ela estará acomodada por efeitos especiais, talvez achando que está certa em "dar afeto" pré-fabricado. Sem esse subterfúgio, o que ela faria? O que foi feito antes dos livros de "como criar seus filhos com sucesso"? Eu não sei. As histórias parece que estarão iguais nas prateleiras e nas telas de cinema. Mas onde estarão as narrativas? Os divãs dirão com mais certeza. Os filhos são frutos das histórias contadas pelos pais ou são as lacunas entre "fui eu" e o "ser perfeito" bem à minha frente?
Pedro Vieira Neto eu escolheria não mentir para ele sobre o que de fato foi ruim. Ser criança em um mundo onde se concebe o padrão imediatista como cultura para as relações afetivas, assim como para as vontades consumistas, é necessário diferenciar o tempo de cada coisa. O vídeo propõe afeta na relação familiar, o que é legal, mas não deve ser superficial. Afeto é mais do que um acolhimento imediato, é a capacidade de interação real entre mãe e filho sem artifícios. Acho estranha essa proposta de trazer os "métodos" de ser uma boa mãe ou um bom cuidador afetivo por meio de instrumentos lúdicos pré-estabelecidos. Daqui a pouco haverá uma "escola de como ser pai e mãe com sucesso"? É isso. Resolver os problemas naturais de uma relação intrafamiliar não pode ser assim. Talvez o filho se encontre angustiado por testar esse lugar, por intuição. Crianças são muito mais sábias do que se pode imaginar, muito mais elas ensinam do que aprendem com os adultos porque são naturais e referenciadas pela meio em que circulam, pelo lugar onde são e onde os pais também estão. Então, não gosto dessa abordagem lúdica que a mãe propõe, ela se esqueceu de mostrar ao filho o que ele realmente precisava saber ali. Ele queria atenção para esse querer. Ela deu um sossego a si mesma, como qualquer adulto faria. Eu não vejo uma diferença significativa senão ao fato que ela estará acomodada por efeitos especiais, talvez achando que está certa em "dar afeto" pré-fabricado. Sem esse subterfúgio, o que ela faria? O que foi feito antes dos livros de "como criar seus filhos com sucesso"? Eu não sei. As histórias parece que estarão iguais nas prateleiras e nas telas de cinema. Mas onde estarão as narrativas? Os divãs dirão com mais certeza. Os filhos são frutos das histórias contadas pelos pais ou são as lacunas entre "fui eu" e o "ser perfeito" bem à minha frente?
Pedro Vieira Neto eu não estou fazendo uma pesquisa histórica sobre a evolução de problemas psicológicos na juventude. A minha referência foi a juventude de hoje em relação ao menino de hoje. Muitas crianças da década de 90 e dos anos 2000 em diante já demonstram esses transtornos de modo mais expressivo, se analisamos o número de diagnóstico e de receituário médico psiquiátrico em nossas escolas. O que para mim não representa necessariamente um aumento no número de doentes simplesmente, mas sim uma busca maior por diagnóstico médico. O que se pode entender como medicalização, sem que isso indique tratamento psicopatológico também. Por isso, as famílias atualmente necessitam reverter o padrão de relação interparental focado no acolhimento de  prováveis danos patológicos emocionais e devem começar a se relacionar de modo natural e, principalmente, direto, sem mediação com tecnologias "comunicacionais" por exemplo. E esse método "lúdico" na relação entre mãe e filho me preocupa porque foi muito defendido nos comentários como sendo um super exemplo de como se deve acalmar uma criança, o que para mim é apenas efeito imediato e não corresponderá ao sucesso defendido por tanta gente de maneira direta. Por isso, eu acho que as loucuras não mudam, as vontades, como dizia o grande poeta, sim! As vontades mudam e mudam o mundo. Os jovens de antigamente não eram melhores nem mais saudáveis, nem os de hoje são assim. Mas devemos atentar para as nossas vontades, principalmente os pais que criam seus filhos de um jeito que parecem querer remediar suas próprias angústias. As crianças devem viver suas próprias experiências e a partir delas errarem e aprenderem de modo saudável e, se possível, afetuoso. O afeto infelizmente depende ainda de fatores socioculturais impossíveis de serem discutidos em uma postagem de rede social, sem uma perda reflexivo-metodológica grande. Abraço
Quando os chamados pais helicópteros (que não à toa ganham o apelido) ficam o tempo todo em cima dos filhos, prontos para qualquer intervenção, o resultado são crianças mimadas, com pouca inteligência emocional e menos habilidades para lidar com o novo. “A criança superprotegida deixa muitas vezes de entrar em contato com emoções que serão fundamentais para seu desempenho psíquico satisfatório, como raiva, angústia e decepção. Assim, suas habilidades sociais serão rígidas e sua capacidade de adaptação insuficiente em vários âmbitos”, afirma a psicóloga Fabiana Cury, do Cejam (Centro de Estudos e Pesquisas Dr. João Amorim), de São Paulo.

Fonte: REVISTA CRESCER
Pedro Vieira Neto Pedro Vieira Neto eu não chamaria de método, mas de abordagem mesmo. O método parece uma receita pré-fabricada de como ensinar um filho e isso é ingenuidade. "Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades", cantaria Camões. Nós somos frutos do nosso tempo, pais, mães, filhos e demais parentes. Cada casa é um caso, cada criança pede um olhar específico e cada cuidador precisa ter uma ação pertinente ao seu modo de enxergar a vida. Pontuado isso, eu acredito, que vale a pena analisar a abordagem dessa mãe que enfoca o acolhimento e a consequência é a criança estar visivelmente satisfeita ao final do vídeo, tanto que ele ri juntamente com ela por fim. O que não é um problema, mas gera lacunas sobre o que de fato é impressionantemente defensável aos olhos adultos que vemos nessa publicação. O que é tão inestimável nesse vídeo que não possa receber uma ressalva, necessária aos nossos tempos, de meninos em desequilíbrio emocional, de pais em ausência de autoridade e de famílias em desconexão. Claro, que não é o caso de desconexão nesse vídeo, mas é nítida a falta de autoridade dela para dizer que ele mentiu e está errado. Ela se exime de tratar do que constrange e frustra o menininho. Por que? Por que ela só fala que não era para ele abrir ? Será que ele realmente só compreenderia até essa parte? Por algum motivo, no comportamento dele, parece que ele quer saber sobre essa vontade forte que teve em abrir antes do combinado. Parece que no ato mesmo de correr e dizer para ela "alguém abriu o presente", o que ele quer é saber por que abriu o presente. Ela diz que o Natal é legal e que eles gostam de abrir o presente lá no final, quando ele já está chorando ao ser colocado a dizer que foi quem abriu. Mas isso era o que ele queria, ou o que ela queria ouvir? Quando a correção sobre o fato é lógica e simples, incide no ato que se fez, no caso abrir o presente antes do prazo, e não por abrir o presente. Abrir o presente é super legal, gerou uma ansiedade enorme nessa criança que sequer poderia esperar. Até então nada de diferente de qualquer criança querendo muito ver um presente que fora mostrado antes e fora colocado como o maior barato de tudo. Mas ele abre antes e se desgaste com isso. O choro dele é de frustração por não ter conseguido esperar. E onde há a correção disso? Onde ocorre a verbalização que nutre o menino do que ele realmente precisa saber? O que fez ele errar? Por que ele abriu e "tudo bem", mesmo assim por que??? Porque ele é ansioso. Porque os tempos nos tornam ansiosos. Porque há famílias que lidam com crianças como se fossem robôs de afago e práticas de livros de autoajuda. Mas cadê o que o menino precisa? Ele pediu pra mãe algo. E eu te pergunto... O método final do "cheirar e assoprar" é uma recentinha linda pra "acalmar a ansiedade precoce e previnir transtornos" que não cabe e não sossega a criança de fato em sua pergunta essencial. Por que abriu o presente antes e não conseguiu esperar???? Ela faz o "método" bonito e "lúdico", mas se isso o acalmasse e o ensinasse sobre esperar ele não teria agido dessa forma. Eu acho que é a hora de mudar de expectativas sobre a criança. Será que ele queria ser acolhido em sua angústia ou queria ser remediado em sua infantilidade natural. Quer uma criança menos ansiosa? Olhe para ela e veja o que ela pede, e não o que os livros de educação familiar modernos recitam só para acalmar pais que pouco olham demorado para os seus filhos, pois estão quase sempre a pensar em si (em como queriam e querem ser tratados, em suas angústias e não nas da criança). Corrigir essa criança agora, com afeto e paciência, levaria ao autoexame mais tarde. Eu erro, eu tenho defeitos, eu tenho limites e vou lidar com eles sem mascarar sempre. Porque usar todo dia a máscara do foi um pequeno deslize, não resolve as perguntas fundamentais. Pais são as referências de limites que nos tornam humanos e iguais e não diferentões cheios de perguntas existenciais.
Shi Anizio espero sinceramente que vc tenha êxito nessa criação. Educar é bastante difícil e constantemente buscar laços de confiança realmente é uma luta muito importante e dura. Sobre o vídeo, eu acredito que não se trata de tratar o menininho com agressividade ou humilhação a solução para o que eu ressalvo, que é o fato dela não ter tocado no assunto dele ter descumprido o trato. Eu acho que ao invés de rir e distrair ele em relação às frustração de se sentir errado, ela deveria ter verbalizado que o erro dele foi não esperar, for descumprir o trato, foi gostar de ter descumprido e depois não assumir o seu erro. Não acho que devesse haver punição, muito menos agressão. Acho que a confiança está na atitude honesta da mãe dizer, da maneira que ela se sentir mais segura e afetuosa, que ele mentiu e que deve assumir sua culpa e não jogar para outra pessoa ou outra coisa. Em ultimo caso, acho ainda que ela poderia ter aproveitado pra dizer que vale muito mais a pena abrir e ser surpreendido junto com todos do que ser o primeiro a ver. Só isso
Bárbara Vieira de Castro entendo o seu ponto de vista e discordo, não dele, mas de como isso se aplica ao vídeo. Note que ela quer que ele assuma a mentira, não por isso, mas porque faz parte desse lugar de "eu vou te acolher". No caso de um erro, se exige correção. Acolhimento é para os momentos de sofrimento, dor, desajustes emocionais e situações até fora do alcance da criança. Ele ter aberto a embalagem do presente realmente não é um erro desproporcional. Não é esse o erro que eu vejo na atitude da criança. O erro é ter descumprido o trato, a confiança que ele deve aprender a desenvolver não pode estar pautada somente em acolhimento e afago, porque senão perde o valor de referência social e passa a ser um álibi reforçador de carências morais e interpessoais importantes. Ele não assume a mentira, é somente levado a não ter como discordar, isso é diferente. Mesmo quando ele diz pra ela que não fará novamente, ele mente e logo se percebe rindo porque ela riu do acontecimento também. Ele está reproduzindo uma atitude confortável para ele. Isso não é no mínimo algo para se ver com cautela? Ele faz o que lhe agrada e para o seu próprio agrado não só por ser infantil, um menino ainda, mas faz por ser "acomodado" nesse tipo de relação que só promete bonificação em qualquer situação. Veja que ele já sabe o que há no presente, nem mais o presente lhe importa tanto. Se é bonito ver o presente na hora da surpresa compartilhada, por que privá-lo disso??? Qual o benefício real que ele tem ao descumprir o trato? A mãe lhe deu um afago que pode não ser o suficiente nos próximos desejos e que não será o suficiente para tudo. Então, por certo haverá frustrações maiores mais cedo ou mais tarde. Será nessas horas a mãe o lugar de aconchego??? Haverá esse lugar de aconchego sempre? Ele é criança e por isso deve ser acalentado pela fantasia de que vai sempre haver esse aconchego sobre frustrações e principalmente sobre erros e inconsequências da parte dele? Estou aqui pensando...eu considero uma ressalva pertinente nesses tempos de desejos inalcançáveis
Françoise Dolto (No Jogo do Desejo): "Quando o adulto não deposita confiança nas expressões que a criança dá de sua vitalidade, e confiança a ponto de falar com ela, por mais doente e pequenina que seja, a ponto de autorizar as manifestações de alegria ou sofrimento próprias da criança, sem reprimi-las; quando o adulto não entra em contato afetivo e verbal com a criança, independentemente das manipulações necessárias de seu corpo, que não incluem forçosamente uma comunicação interpsíquica,
a criança fica impossibilitada de adquirir confiança em si como um ser da linguagem e do desejo, essencialmente distinto de seu corpo, na medida em que este a constitui apenas como um ser das necessidades".  A psicanálise explica sobre relação de afeto pautada na realidade da experiência de uma criança sem precisar fingir que ela está certa (só por ser criança) mesmo quando está errada.
Rose Bernardo a minha preocupação é que a maioria dos comentários está demonstrando aprovação com o que é praticado pela criança. O que deve ser sim discutido porque ele vive em sociedade e não há por que para outro ser humano tratá-lo com a benevolência que a mãe dele manifesta. Para além disso, sabe-se que é enquanto criança que se aprende os direitos e deveres sociais, então, se ele age dessa forma com a mãe e ela retribui de modo cúmplice, provavelmente não está mostrando a realidade de que ele errou e deve se corrigir, não deve fazer mais, ou deve entender que erra e precisa ser corrigido. Sou professora e lido todos os dias com adolescentes que não são educados para viver em sociedade, cobram da postura de um professor essa amabilidade/passividade que a mãe demonstra, mas que não condiz com a necessidade de corrigir determinados hábitos errados, principalmente em relação à mentira, ao cinismo, à agressividade por ser descoberto, à tentativa de esconder sua culpa, colocando-a em outro, e até a vantagem de ser tratado como alguém que não sabia (mas estava ciente sim) do que fazia. Algumas crianças podem se frustrar de modo relativamente rápido por causa da falta de correção adequada dos próprios pais e causar mais tarde tragédias (anunciadas pela falta de correção na infância).
Eu acho linda a relação de honestidade que a mãe está ensinando ao filho, coisa difícil de vermos atualmente. Mas eu queira lembrar uma coisa... Incômoda... Quando o vídeo era do Desmond, o menino incrível e criativo, com linda peruca azul, foi uma chuva de desrespeito, de indiferença pela sua condição de criança, um monte de brutalidade. Agora, que vemos um menininho também fofo mentir, ser bastante relutante em dizer o que fez, ser relativamente agressivo ao perceber que é "desmascarado", ninguém tem nenhuma ressalva. Eu tenho. Uma criança, independentemente do sexo e do gênero, deve ser repreendida quando burla regras pré-estabelecidas, afinal a mãe tinha lhe advertido sobre não abrir o presente. Alguém me questionaria "é só a embalagem do Natal!"...eu respondo: hoje é só a embalagem do Natal, amanhã quem sabe o que será? E ele conseguirá admitir? E ele aprenderá que também é errado e deve se enxergar como alguém que precisa aprender melhor o conceito de "pode" e "não pode'? No mais, o vídeo é bonito mesmo. Há uma mãe ensinando o filho e um filhinho que precisa ainda muito aprender sobre viver em sociedade. Só isso.

Um link sobre pesquisas divulgadas nessa reportagem da Revista CRESCER sobre o tema que eu gostaria de colocar em relação a esse vídeo, que parece bobo, mas não é

https://revistacrescer.globo.com/Criancas/Seguranca/noticia/2018/11/superprotecao-em-vez-de-evitar-que-seu-filho-sofra-ela-pode-gerar-mais-frustracao.html?utm_source=facebook&utm_medium=social&utm_campaign=post