Revoada

Como tudo começou e como cheguei até aqui...
Escrever não é coisa da gente, é coisa de gente. Tudo a gente escreve. Foi por essa sina que eu comecei a descobrir minhas primeiras asas, aliás minhas primeiras palavras. Foi tentando escrever a minha angústia.
Naquele momento, eu queria descrever em palavras o que me destruía e eu nem sabia que estava tentando era me segurar. Agarrar naquelas letras e ir em frente por onde ainda havia ar. As palavras eram minhas salva-vidas. Hoje ainda me ensinam a não morrer por causa das ondas na travessia.
Sempre há tormenta, a tormenta quando chega balança tudo no alto-mar. Atormenta tudo e derruba a vida numa proa para a gente poder chegar mais longe depois de toda a luta.
Foi de escrita em escrita que sacudi todas as minhas poeiras, levantando minhas bandeiras sem tradição alguma, sem outros para me acompanhar. Cheguei bem longe sem muito rumo e o que quer que fosse perguntado nem eu podia dar certeza, mas ia deixando para trás as velharias que já não me deixavam em paz.
Fui penas, dores de todo jeito, dores de amadurecimento, dores de partida. Fui pena, palavra, asa em cada escrita que a vida me pedia. A vida diz pra gente "me narra, me narra", enquanto a gente diz pra vida "me nina, me nina".
 A vida quer dilema a gente quer deleite. A vida quer boa rima, a gente quer porque quer. A vida quer da gente, enquanto a gente quer dar vida.
Narrar a vida não é escrever em prosa, é inscrever em verso e cair em poesia. A gente se embala nas redes da nossa própria rima fria, sem intercalar com pobreza, sem cruzar com riqueza, apenas soltando o pé do chão da realidade, sua majestade sem nobreza.
Ninar é cair de tanto amar no som da palavra dada  no som, no sussurro, no barulho, no silêncio, no gesto mudo, no olhar. E, ao cair, voar de uma só vez para dentro daquela escrita de entranhada na narrativa de toda e qualquer pessoa, na história contada do mundo da gente que queria ser voante e fez da sua palavra asas de escrita fina no ar da história.


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"Quebrem as correntes dos seus pensamentos e conseguirão quebrar as correntes do corpo..." ("A História de Fernão Capelo Gaivota" BACH, 1970, p. 122/3).
Hilda Freitas, Belém/PA