Eu não sou ninguém para vir defender ou condenar, mas estou muito perplexa com os comentários transfóbicos que se espalham por causa dessa situação. Não tem como não assemelhar o tratamento discursivo de muitas pessoas (mulheres, homens, feministas ou não) com fascismo. É muito óbvio o critério seletivo. Não quero defender nenhum tipo de crime. Sou absolutamente contra a cultura do estupro e qualquer forma de apologia a esse crime irreparável. Me solidarizo com as vítimas, pessoas que já sofreram e com qualquer situação nesse universo de abuso sexual. Porém, não consigo enxergar na condenação compulsória dos discursos contra Susy nada de bom. A transfobia é um crime, mas também uma ideologia de purismo genético, biológico, sem qualquer benefício humanitário. Fazer justiça com as próprias palavras em um canal como o Facebook é discurso de ódio e não surpreendentemente foi iniciado nos porões do fascismo. Hannah Arendt quando foi analisar o caso de um fascista chamado Eichmann identificou uma semente (origem) fascista em uma pessoa comum. Ela chamou de "banalização do mal". Qualquer humano sem priorizar a ética humanitária tende ao extremismo e ao ódio gratuito que estimula genocídio. Eu sou contra isso. Também, consigo ver nitidamente o racismo que se escancara no caso de Susy, muitas pessoas condenam ela e toda a população negra trans ou não que está em sua maioria povoando as nossas cadeias, que parecem um apartheid legalizado. Susanne Von Richthofen está sendo cotada para ser protagonista de um filme e foi abraçada por uma comunidade evangélica. Sem querer equiparar crime bom e crime ruim, não tem como não perceber que a condenação fatal é transfóbica e racista. Se a justiça está para a democracia como uma garantia dos direitos de qualquer pessoa, não posso discordar de que ela está pagando por sua pena, como poderia acontecer comigo, mas em condições indiscutivelmente piores. Eu sou branca, eu sou cis, eu tive oportunidade de fazer universidade. Então, o que eu percebo é que precisamos tomar cuidado para não fortalecermos nosso maior inimigo, o patriarcado, branco, misógino e fascista.
Se eu mergulho em mim, derramo amor...prazer... ódio... rupturas. Se eu te mergulho, deságuo em fúrias...feras...feridas...e amar. É sobre o encontro de mágoas às vezes, mas em um vigoroso oceano há sempre vida!
segunda-feira, 9 de março de 2020
Cuidado para que a notícia, aparentemente, inocente não seja estimuladora de transfobia. A transfobia é um crime e não pode haver por parte de uma notícia veiculada por um portal tão sério e popular esse tipo de mensagem. Não estou dizendo que há transfobia direta ou intencional na informação porém é visível o número alarmante de pessoas comentando de modo transfóbico. Notem que não era a intenção da série do fantástico promover conteúdo transfóbico, ao contrário era COMBATER A TRANSFOBIA que mata milhares de pessoas no Brasil todos OS DIAS. NINGUÉM mandou escreverem carta, quem fez, fez porque quis. Se Suzy recebeu cartas de crianças escritas dentro de uma escola, significa diretamente que a educação está promovendo a harmonia, a solidariedade e a humanidade entre as pessoas. Talvez essa seja a principal necessidade não só de Suzy mas de muitas pessoas que foram parar na cadeia por causa da desigualdade social NOJENTA que temos em nosso país. Há racismo também nesse ódio todo. Suzy não é branquinha, não vão fazer um filme sobre ela como já há cotação para acontecer com Suzane Von Richthofen. Pois é Dol, cuidado para não caírem no hall de veículo de comunicação abrigador do discurso do ódio e do fascismo. Onde não há dignidade possível para QUALQUER pessoa, nem que seja sobre sua história, sobre sua menção, NÃO HÁ DEMOCRACIA. Onde não há democracia impera a lei do holocausto. Quem vai jogar a próxima pedra? Eu gostaria de não ter visto tamanha desumanidade como presenciei nessa lastimável reportagem anti-humanitária. Cuidado com seus próprios leitores, entre eles há os que disseminam genocídio em pele de "justiça verbal".
De onde menos se imagina, brota o fascismo. São comentários indiscutivelmente transfóbicos, sutilmente racistas, naturalizadores da discriminação, mantenedores de discurso que julga existir uma gente mais "natural" e outra "anormal". É a banalização do mal nas rodas mais "progressistas". Onde se lê há gente mais natural, leia-se também um discurso antigo sobre uma tal raça ariana "mais pura". São contra a humanidade e sua diversidade e dizem que são a favor da humanidade. Eu estou triste demais. Há tanta transfobia naturalizando genocídio na minha timeline de modo que eu penso: o fascismo está vencendo. A banalização do mal (fascismo) naturaliza discurso que segrega, banaliza a violência simbólica através do discurso sutil das redes sociais que prega a "justiça verbal". São os justiceiros/justiceiras da web destilando ódio, vingança e desumanidade. O que não se assemelha ou seria se aproxima mais do fascismo do que a condenação do diferente? O fracasso da humanidade me assusta.
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