segunda-feira, 23 de agosto de 2021

Quando eu era muito pequeno, uns três pra quatro anos, minha tia mais velha, minha amada segunda mãe, me deu uma lição muito clara sobre corpos femininos. Sobre corpos femininos em geral.
Eu tomava banho com ela. Com qualquer tia. Eu era neném. Elas eram minhas pessoas favoritas no mundo. Só minha tia mais nova que era mala. Depois desmalizou e virou minha comadre. 
Eu estava lá, todo trabalhado nas espumas do Francis azul quando fiz minha graça.
- Tia , porque você não tem piupiu?
- Homens tem piupiu e mulheres tem Tutuca. 
- E por que?
- Porque é assim. O corpo da mulher é diferente do corpo do homem. ( Estamos falando de 1978. Não militem, por favor. Tô ocupadíssimo até às 17 horas de quarta feira).
Aí comecei a rir. Criança ri de tudo, né? Eu tinha quatro anos.
Minha tia continuou:
- Tá rindo de que garoto? Lava esse pinto. Puxa essa pele ( fimose, sabe? Corpos equipados com pinto às vezes vem com essa sambaquirinha peniana. Perdão pelo #oversharing). 
- É muito engraçado isso 
- Tem graça nenhuma. Coisa da natureza. Tudo muito normal. Quem não tem uma coisa tem outra, quem não tem morreu. E quando eu ficar bem velhinha você que vai cuidar de mim e vai ter que me dar banho e ver minha Tutuca todo dia. Para de bobeira.
Ela me enxugou.
- Deixa a tia ver se esse suvaco tá cheiroso.
Levantei meu braço. Ela me fungou. Fingiu um espirro.
- Atchim! Que cheiro de inhaca. Vamos passar um talco aí, seu cocô enfeitado. (Ela me chama assim até hoje. Mimoso, né? A beça).
Eu ri. Ela riu.
A vida seguiu.
Tempos depois meu pai ficou internado mais de um ano. Até ficar em um quarto particular ele passou por três enfermarias masculinas que ficavam de frente pras femininas. Meu bem... Só lembrava da lição singela da minha tia. Era senhor chorando que tinha perdido o pinto, era senhora em surto correndo pelada, era ajudar na higiene do meu pai... Era ajudar enfermeiras a tirar o corpo pesado de uma cama e passar pra maca.. Ihhhhhh...

Hoje fico meio astrazênico quando problematizam as amigas ximbicas. Fico com cara de "ué'. Mas meu lugar de fala é lugar de falo. Comento um pouco, mas depois solto no éter porque não quero parecer FEMINISTO (HAHAHAHA A CHAKOTA) e nem me apropriar do protagonismo alheio. Mas pra mim é a coisa mais normal do mundo. E também sou assim com pintos adjacências. Corpo nu, sem o verniz dos ofertórios safados e das seduzências safadificantes ou confeitos fetichistas, é só um corpo nu.

Sou muito simplinho, gente.

Algumas palavras eu acrescentei porque o tempo já roeu o filó das memórias.

#artistasuburbanoreflexivo

o falo não poupa ninguém, nem eu... campanha MISÓGINA no discurso popularizado em favor da presidência de Lula em 2021

Eu tive essa impressão ruim... inclusive, lembrei da pior fala MISÓGINA que o ciro (minúsculo mesmo) teve quando presidenciável em 2018 era preciso ter "mais testosterona" para ser presidente do brasil (minúsculo que está também). Então, a misoginia escondida nesse tipo de discurso passa longe dos debates feministas engajados, sabe... Ninguém diz pra não "magoar" amiguinho. Mancha mesmo. Falar mal do "falo" não pode. Um espelho reverso do bozismo que chegou com o discurso de que não broxaria...coisas assim. O sexual humano à parte, segundo consta, Freud até explicaria...eu ainda vejo um reducionismo no sexual humano, genitalista, binário, tipo guerra de sexos do início do século passado... Precisamos avançar muuuuuuuuuuuuito nessas discussões. Não à toa estupro é até hoje ARMA DE GUERRA. QUEM falaria de "cultura do estupro" por trás disso? Quem colocaria essa repercussão na roda? A gente que é feminista e à esquerda na política... poderíamos? Gosto de pensar que ser feminista não é nada agradável, sabe... Se está agradando...ainda mais à machologia (patriarcado de elite intelectualizada)... Não me agrada. Nem pontuei no meu Facebook porque decidi ignorar. Eu quis fingir que era só uma areia no discurso pobre das redes...mas é tipo uma ervilha que não deixa a mulher dormir no colchão da vida...descansar não dá... "Meu descansa, militante" acaba sendo quetiapina... é um fato triste.

o Afeganistão e o crime chamado de "sonho americano"

Qual o PROBLEMA da visão que o fantástico está expondo sobre o AFEGANISTÃO de hoje?
A omissão, por exemplo, das heranças da União Soviética ANTES DO TALIBÃ SER PATROCINADO E TREINADO PELOS ESTADOS UNIDOS.

Tentar mostrar que a ÚNICA forma de liberdade para o AFEGANISTÃO é a visão neoliberal ocidental e cristianizada não ajuda em nada a DEMOCRACIA para nenhum país que luta por uma real independência política.

As mulheres afegãs estão assustadas e aterrorizadas também porque existe uma visão de mundo (ocidental e xenofóbico) fazendo do país delas o lugar em que o inferno se estabeleceu porque o "super-heroi estados unidos" saiu de lá. Porém, essa é a fantasia capitalista mais INÚTIL e CRUEL para a humanidade pois AJUDA a manter guerras intermináveis em que vidas são menos importantes do que armas.

O Talibã é sim um regime MISÓGINO, FEMINICIDA e radical religioso... porém, as saídas possíveis para esse conflito étnico-econômico precisam ser construídas dentro do país, por seus cidadãos e serem apoiadas e respeitadas - cultural e economicamente - por todas as nações solidárias que RESPEITAM A CONSTRUÇÃO de uma DEMOCRACIA possível.

A visão errada e omissa que o fantástico apresentou não consegue dar conta da realidade porque quer mais uma vez vender o "sonho americano" como o melhor destino possível para a humanidade. Isso é uma mentira, já que quem aparelhou de armas os talibãs foi exatamente os estados unidos. Foi por isso que ele TEVE obrigação de estar por 20 anos tentando amenizar os danos do seu patrocínio bélico para os radicais. 

Foi a "guerra contra o comunismo" - que estava ajudando a população a melhorar mesmo de vida - o que provocou a tragédia que o Afeganistão vive desde meados do século XX.

Então, estar posicionada FRONTALMENTE contra o talibã e a sua VIOLÊNCIA exterminadora de mulheres, crianças e direitos democráticos NÃO SIGNIFICA APOIAR A VISÃO CAPITALISTA genocida do país (Estados Unidos) que massacrou a nação afegã.