segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

Conheça a maior obra distópica da história da literatura do Século XX

"Admirável Mundo Novo" é um deleite literário que , de tão clássico, transforma o mundo ficcional do livro em previsões assustadoramente atuais.

No prefácio escrito para uma edição lançada em 1946, Aldous Huxley diz que “Admirável Mundo Novo” é um livro sobre o futuro, não é um livro sobre o “avanço da ciência em si”, mas sobre em que medida esse avanço científico afeta os seres humanos.
Considerado um dos mais importantes romances distópicos já produzidos, “Admirável Mundo Novo” foi publicado em 1932 e apresenta uma série de discussões que são impossíveis de serem abordadas em poucas linhas, mas que geram fascinação em seus leitores.
Em seu primeiro parágrafo já somos inseridos em um mundo regido pelo controle, pelo desenvolvimento científico e pelo totalitarismo: “Um edifício cinzento e atarracado, de trinta e quatro andares apenas. Acima da entrada principal, as palavras Centro de Incubação e Condicionamento de Londres Central, e, num escudo, o lema do Estado Mundial: comunidade, identidade, estabilidade”, e nos damos conta de que para garantir que esse lema seja cumprido, os seres humanos são criados em laboratório, divididos em castas (Alfas, Betas, Gamas, Deltas e Ipsilons), conforme as funções sociais que desempenham, e tudo é rigidamente controlado. Não há a menor possibilidade de mobilidade de uma casta para outra e todos exercem fielmente o papel que cabe ao grupo ao qual pertencem.
Nesse mundo, as relações familiares não existem, o sexo é livre e naturalizado desde a infância, criando-se uma ideia de que “todos são de todos”, não existem compromissos ou vínculos afetivos entre parceiros, também não há doenças ou medo da morte, tudo é criado em laboratório em um processo que remete à linha de montagem fordista e Ford é justamente o grande “deus” que marcou esse modo de viver em sociedade.
A história se passa em “Londres Central”, no ano 632 depois de Ford, e tudo pertence ao Estado Mundial, o qual é responsável pela criação dos seres humanos em laboratório, pelo condicionamento desses novos seres através de um processo chamado hipnopedia, no qual as crianças aprendem preceitos morais através do sono e são submetidas a choques e traumas para que se mantenham afastadas daquilo de que não devem gostar.
Para o Estado Mundial, todos devem ser felizes, pois é isso que garante a estabilidade social. Não há mais guerras, fome, dor, todos sorriem o tempo todo e têm seus desejos de consumo satisfeitos e seus momentos de melancolia preenchidos pelo Soma, uma droga sem efeitos colaterais.
Ao longo do livro, no entanto, fica claro que esse mundo aparentemente perfeito era uma grande ilusão, a felicidade pregada pelo Estado Mundial era falsa, induzida, os sentimentos realmente humanos eram reprimidos e quem não se encaixava nesse sistema padronizado era considerado um Selvagem e vivia em uma Reserva distante de Londres Central.
E será através do que acontece nessa Reserva e do destino dos personagens Bernard Marx, Linda e John, que veremos que aquele mundo perfeito não era tão admirável quanto o Estado queria fazer acreditar. Aquela sociedade sustentável só existia porque era extremamente artificial e controlada, as pessoas eram condicionadas desde o nascimento de acordo com a casta à qual pertenciam e, assim, deveriam permanecer ao longo de toda a sua vida, sujeitando-se ao Estado e tendo seus instintos e emoções reprimidos desde o momento de sua concepção em laboratório.
Com “Admirável Mundo Novo”, Huxley nos mostra que viver em um mundo marcado pela manipulação genética, por intensa propaganda ideológica, pela proibição da literatura, da individualidade e do afeto, produz seres vazios, alienados e passivos, que só aceitam essa ordem social justamente porque foram manipulados de modo a acreditar que ela era a única estrutura social possível.

Texto - Adriana de Paula / Joel Paviotti

Ilustração - Anna Kaveh


  • Referências - nos comentários
Aproveitando o gancho do outro post: parem de dizer para as meninas que elas TÊM QUE ir ao ginecologista médico antes ou logo após iniciarem suas vidas sexuais, por motivos de:

1) ninguém leva os meninos no urologista (apesar de serem os ómis que precisam de campanha para lavar adequadamente suas partes).
2) converse com mulheres de 20-30 anos com acesso a serviços de saúde e você ficará impressionada com a quantidade de meninas que foram levadas com idades entre 5-15 anos no GO para investigar "corrimentos" que nada mais eram que fluidos normais ou para investigar cólicas ou alterações menstruais que nada mais eram do que esperadas para a fase e saíram de lá com pedidos de exames invasivos e prescrição de anticoncepcionais hormonais e tratamentos desnecessários e constrangedores.
3) discutir anticoncepcional com um GO mediano no mundo atual significa sair do consultório com prescrição de hormônios (levanta a mão quem tomou D*ane na mais tenra idade e permaneceu com ele às vezes por décadas) sem ter qualquer orientação sobre outras alternativas.
4) Vida sexual não é problema médico, não é doença, não requer aval profissional, salvo existam queixas ou questões de fato médicas envolvidas.
5) Se for levar uma menina ou adolescente ao médico por essas razões, investigue antes qual a abordagem do profissional sobre o tema, que tipo de orientação dá, como trata as questões envolvendo sexualidade, se sabe lidar com as diferentes nuances da sexualidade e do gênero e assim por diante. Algumas sandices frequentemente ditas em consultórios médicos podem gerar marcas profundas na vida de mulheres e meninas.
6) Saiba que muitas vezes uma enfermeira ou parteira (obstetriz ou enfermeira obstetra) e também uma médica de família têm muito mais condições de dar orientações e prestar cuidado não medicalizante sobre esses temas do que a maioria dos ginecos.

Sexo não é doença.