Conheça a maior obra distópica da história da literatura do Século XX
"Admirável Mundo Novo" é um deleite literário que , de tão clássico, transforma o mundo ficcional do livro em previsões assustadoramente atuais.
No prefácio escrito para uma edição lançada em 1946, Aldous Huxley diz que “Admirável Mundo Novo” é um livro sobre o futuro, não é um livro sobre o “avanço da ciência em si”, mas sobre em que medida esse avanço científico afeta os seres humanos.
Considerado um dos mais importantes romances distópicos já produzidos, “Admirável Mundo Novo” foi publicado em 1932 e apresenta uma série de discussões que são impossíveis de serem abordadas em poucas linhas, mas que geram fascinação em seus leitores.
Em seu primeiro parágrafo já somos inseridos em um mundo regido pelo controle, pelo desenvolvimento científico e pelo totalitarismo: “Um edifício cinzento e atarracado, de trinta e quatro andares apenas. Acima da entrada principal, as palavras Centro de Incubação e Condicionamento de Londres Central, e, num escudo, o lema do Estado Mundial: comunidade, identidade, estabilidade”, e nos damos conta de que para garantir que esse lema seja cumprido, os seres humanos são criados em laboratório, divididos em castas (Alfas, Betas, Gamas, Deltas e Ipsilons), conforme as funções sociais que desempenham, e tudo é rigidamente controlado. Não há a menor possibilidade de mobilidade de uma casta para outra e todos exercem fielmente o papel que cabe ao grupo ao qual pertencem.
Nesse mundo, as relações familiares não existem, o sexo é livre e naturalizado desde a infância, criando-se uma ideia de que “todos são de todos”, não existem compromissos ou vínculos afetivos entre parceiros, também não há doenças ou medo da morte, tudo é criado em laboratório em um processo que remete à linha de montagem fordista e Ford é justamente o grande “deus” que marcou esse modo de viver em sociedade.
A história se passa em “Londres Central”, no ano 632 depois de Ford, e tudo pertence ao Estado Mundial, o qual é responsável pela criação dos seres humanos em laboratório, pelo condicionamento desses novos seres através de um processo chamado hipnopedia, no qual as crianças aprendem preceitos morais através do sono e são submetidas a choques e traumas para que se mantenham afastadas daquilo de que não devem gostar.
Para o Estado Mundial, todos devem ser felizes, pois é isso que garante a estabilidade social. Não há mais guerras, fome, dor, todos sorriem o tempo todo e têm seus desejos de consumo satisfeitos e seus momentos de melancolia preenchidos pelo Soma, uma droga sem efeitos colaterais.
Ao longo do livro, no entanto, fica claro que esse mundo aparentemente perfeito era uma grande ilusão, a felicidade pregada pelo Estado Mundial era falsa, induzida, os sentimentos realmente humanos eram reprimidos e quem não se encaixava nesse sistema padronizado era considerado um Selvagem e vivia em uma Reserva distante de Londres Central.
E será através do que acontece nessa Reserva e do destino dos personagens Bernard Marx, Linda e John, que veremos que aquele mundo perfeito não era tão admirável quanto o Estado queria fazer acreditar. Aquela sociedade sustentável só existia porque era extremamente artificial e controlada, as pessoas eram condicionadas desde o nascimento de acordo com a casta à qual pertenciam e, assim, deveriam permanecer ao longo de toda a sua vida, sujeitando-se ao Estado e tendo seus instintos e emoções reprimidos desde o momento de sua concepção em laboratório.
Com “Admirável Mundo Novo”, Huxley nos mostra que viver em um mundo marcado pela manipulação genética, por intensa propaganda ideológica, pela proibição da literatura, da individualidade e do afeto, produz seres vazios, alienados e passivos, que só aceitam essa ordem social justamente porque foram manipulados de modo a acreditar que ela era a única estrutura social possível.
Texto - Adriana de Paula / Joel Paviotti
Ilustração - Anna Kaveh
"Admirável Mundo Novo" é um deleite literário que , de tão clássico, transforma o mundo ficcional do livro em previsões assustadoramente atuais.
No prefácio escrito para uma edição lançada em 1946, Aldous Huxley diz que “Admirável Mundo Novo” é um livro sobre o futuro, não é um livro sobre o “avanço da ciência em si”, mas sobre em que medida esse avanço científico afeta os seres humanos.
Considerado um dos mais importantes romances distópicos já produzidos, “Admirável Mundo Novo” foi publicado em 1932 e apresenta uma série de discussões que são impossíveis de serem abordadas em poucas linhas, mas que geram fascinação em seus leitores.
Em seu primeiro parágrafo já somos inseridos em um mundo regido pelo controle, pelo desenvolvimento científico e pelo totalitarismo: “Um edifício cinzento e atarracado, de trinta e quatro andares apenas. Acima da entrada principal, as palavras Centro de Incubação e Condicionamento de Londres Central, e, num escudo, o lema do Estado Mundial: comunidade, identidade, estabilidade”, e nos damos conta de que para garantir que esse lema seja cumprido, os seres humanos são criados em laboratório, divididos em castas (Alfas, Betas, Gamas, Deltas e Ipsilons), conforme as funções sociais que desempenham, e tudo é rigidamente controlado. Não há a menor possibilidade de mobilidade de uma casta para outra e todos exercem fielmente o papel que cabe ao grupo ao qual pertencem.
Nesse mundo, as relações familiares não existem, o sexo é livre e naturalizado desde a infância, criando-se uma ideia de que “todos são de todos”, não existem compromissos ou vínculos afetivos entre parceiros, também não há doenças ou medo da morte, tudo é criado em laboratório em um processo que remete à linha de montagem fordista e Ford é justamente o grande “deus” que marcou esse modo de viver em sociedade.
A história se passa em “Londres Central”, no ano 632 depois de Ford, e tudo pertence ao Estado Mundial, o qual é responsável pela criação dos seres humanos em laboratório, pelo condicionamento desses novos seres através de um processo chamado hipnopedia, no qual as crianças aprendem preceitos morais através do sono e são submetidas a choques e traumas para que se mantenham afastadas daquilo de que não devem gostar.
Para o Estado Mundial, todos devem ser felizes, pois é isso que garante a estabilidade social. Não há mais guerras, fome, dor, todos sorriem o tempo todo e têm seus desejos de consumo satisfeitos e seus momentos de melancolia preenchidos pelo Soma, uma droga sem efeitos colaterais.
Ao longo do livro, no entanto, fica claro que esse mundo aparentemente perfeito era uma grande ilusão, a felicidade pregada pelo Estado Mundial era falsa, induzida, os sentimentos realmente humanos eram reprimidos e quem não se encaixava nesse sistema padronizado era considerado um Selvagem e vivia em uma Reserva distante de Londres Central.
E será através do que acontece nessa Reserva e do destino dos personagens Bernard Marx, Linda e John, que veremos que aquele mundo perfeito não era tão admirável quanto o Estado queria fazer acreditar. Aquela sociedade sustentável só existia porque era extremamente artificial e controlada, as pessoas eram condicionadas desde o nascimento de acordo com a casta à qual pertenciam e, assim, deveriam permanecer ao longo de toda a sua vida, sujeitando-se ao Estado e tendo seus instintos e emoções reprimidos desde o momento de sua concepção em laboratório.
Com “Admirável Mundo Novo”, Huxley nos mostra que viver em um mundo marcado pela manipulação genética, por intensa propaganda ideológica, pela proibição da literatura, da individualidade e do afeto, produz seres vazios, alienados e passivos, que só aceitam essa ordem social justamente porque foram manipulados de modo a acreditar que ela era a única estrutura social possível.
Texto - Adriana de Paula / Joel Paviotti
Ilustração - Anna Kaveh
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"Quebrem as correntes dos seus pensamentos e conseguirão quebrar as correntes do corpo..." ("A História de Fernão Capelo Gaivota" BACH, 1970, p. 122/3).
Hilda Freitas, Belém/PA