terça-feira, 23 de outubro de 2018

Um trecho do sensacional e fundamental "Introdução à vida não fascista" do Foucault:

Essa arte de viver contrária a todas as formas de fascismo, estejam elas já instaladas ou próximas de sê-lo, é acompanhada de certo número de princípios essenciais, que resumirei como segue, se eu devesse fazer desse grande livro um manual ou um guia da vida cotidiana:
 • Liberem a ação política de toda forma de paranóia unitária e totalizante.
• Façam crescer a ação, o pensamento e os desejos por proliferação, justaposição e disjunção, e não por subdivisão e hierarquização piramidal.
 • Livrem-se das velhas categorias do Negativo (a lei, o limite, as castrações, a falta, a lacuna) que por tanto tempo o pensamento ocidental considerou sagradas, enquanto forma de poder e modo de acesso à realidade. Prefiram o que é positivo e múltiplo, a diferença à uniformidade, os fluxos às unidades, os agenciamentos móveis aos sistemas. Considerem que o que é produtivo não é sedentário, mas nômade.
 • Não imaginem que seja preciso ser triste para ser militante, mesmo se o que se combate é abominável. É a ligação do desejo com a realidade (e não sua fuga nas formas da representação) que possui uma força revolucionária.
 • Não utilizem o pensamento para dar a uma prática política um valor de Verdade; nem a ação política para desacreditar um pensamento, como se ele não passasse de pura especulação. Utilizem a prática política como um intensificador do pensamento, e a análise como multiplicador das formas e dos domínios de intervenção da ação política.
 • Não exijam da política que ela restabeleça os “direitos” do indivíduo tal como a filosofia os definiu. O indivíduo é produto do poder. O que é preciso é “desindividualizar” pela multiplicação e o deslocamento, o agenciamento de combinações diferentes. O grupo não deve ser o liame orgânico que une indivíduos hierarquizados, mas um constante gerador de “desindividualização”.
 • Não se apaixonem pelo poder.
Minha amiga, o silêncio do corpo é a dormência da mente. Os antigos gregos diriam "mente sã, corpo são", em igual proporcionalidade. Nem uma medida de consequência será deixada para trás. Os que apoiam com medo e pensam "estamos seguros", se enganam. Uma cadela raivosa e faminta não escolhe sua comida. Quem de longe enxerga o cheiro de sangue e se afasta - está em perigo, mas se protege. Quem de perto cheira e consome os restos, não sabe a hora que os olhos que lhe enxergam são a bocarra que lhe dilacera.
Reduzir a maioridade penal é dar a autorização institucional do Estado matar os pobres e negros ainda mais cedo. O extermínio da nossa juventude negra é um péssimo sinal de que, o que o Estado não dá conta, ele elimina. Elimina jogando para baixo do tapete, para 7 palmos do chão. Um Estado sádico, tirano e desumano. Esse é o Estado neoliberal. O mesmo que "deu certo" em vários lugares do mundo é só fazer um "comparação espontânea" com o socialismo radical  "pra vc ver". Eric Hobsbawm não seria tão radical: "Ambas as tentativas de viver à altura dessa lógica totalmente binária dessas definições de 'capitalismo' e 'socialismo' faliram". E nós ainda buscando agulha no palheiro. Esse Estado tirano é o que não combina humano e produção porque só pensa na lucratividade e na produtividade. Ser um estado democrático antes e tudo no século XXI será superar a tensão entre gente e suas criaturas. Superar o desequilíbrio entre ter e ser. Conduzir o bem comum em direção ao bem das pessoas e não das suas criaturas, como o mercado. As pessoas, enfim, devem estar acima de qualquer outro "bem" social. Quando pensamos mais no celular roubado do que no menor que o roubou, não pensamos como pessoas. Pensamos como parentes de objetos pelos quais vivemos, trabalhamos condenadamente e por quem morremos ou matamos. E essa humanidade é triste.