quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

Eu fico insone
esperando a hora que ela vai chegar
 e me ninar...
Eu durmo pra sempre
 em seu leito, em seu colo e em si
Eu durmo nela
Ela é meu modo mudo
Eu mudo o mundo
E mudo o rumo de tudo
Por ela dormindo em mim.
Estou soterrada em uma maré de insatisfação. O patriarcado tirando minha saúde, minha alegria familiar, meu bem-estar no trabalho, minha esperança de uma possibilidade de reverter questões práticas de modo saudável para todos. E o capitalismo me roubando o chão. Não quero ir trabalhar, tô putassa com a escola onde estou por causa da forma como a educação e os professores estão sendo tratados pelos alunos...o capitalismo quer me roubar de mim. Quero ir a um especialista tomar umas drogas legalizadas e recomendadas por médicos e suas alianças mórbidas com a indústria da morte do tesão e do corpo. Mas sua publicação me diz que há outra possibilidade. Eu vou olhar bem dentro dessa minha cólera por tanta injustiça. Eu quero mais de mim. Tô cansada de ser tolida por esses grilhões do medo. Eu quero guerra! E uma mulher com a revolução tatuada é difícil de ser parada.
Saúde mental deveria ser um objetivo de produtividade, só assim o mercado de trabalho estaria humanizado, menos irracional. Há certas metas de eficiência que costumam ser como drogas alucinógenas. Elas iludem a mente já enfraquecida pelos problemas condicionados pelo sistema injusto no qual vivemos. Elas viciam porque trazem certo devaneio de vitória, uma espécie de torpor, como do álcool, que apenas mascara um sofrimento escondido que só crescerá e se tornará um monstro chamado: fracasso. E fracasso não existe. Ele é um bicho papão da gente adulta que vive para lustrar os índices insanos da produtividade mercadológica, que foi feita para robôs e não para gentes. Amanhã pode demorar a chegar, mas a conta vem. A gente paga caro por acreditar em tanta porcaria. No final das contas, ser feliz é viver um dia por vez. É não se medir pelos outros e se possível não ter ninguém como ídolo. O troféu não vem trazendo sucesso. Cada vez mais, vencer é ter paz. Vencer talvez seja para muitos apenas continuar vivo. Lute por sua própria vida e escreva em silêncio a sua própria história fantástica. Ser humano e ter inteligência são dois lados de um dilema: saber que se é e não saber mais nada além disso.