terça-feira, 19 de março de 2019

Para mim, existe uma lógica de consumo na educação "bancária", como já definia Paulo Freire. Ela submete o fazer escolar ao clientelismo de satisfazer aos pais e aos alunos, o que de fato é uma inversão de valores em relação à escolarização adequada e digna. Em favor dessa clientelização, há realmente algumas tendências de escolas que "prometem" criar os filhos para os pais, que "prometem" satisfazer a fome e a sede dos alunos por sucesso e realização pessoal, que "prometem" através de profissionais multiespecializados ( "psicólogos coaching", neuropsicopedagogo em constelação familiar, etc) cuidar da saúde emocional dos filhos desses país que terceirizam a responsabilidade familiar para as escolas. Isso é realmente preocupante pelo absurdo que se promove e que possui rastros em outras práticas, por exemplo, o ensino integral no qual a escola coloca os professores para ficarem com os alunos 40hrs por semana (sendo escola integral em horário para o professor e para o aluno), a fim de retirar esses alunos das ruas, do assédio à violência do entorno de suas casas e comunidades - o que também é um absurdo. Veja que não há nessas escolas chamadas "integrais" o objetivo de compor um currículo transversal, com estímulo às artes, ao esporte e ao desenvolvimento tecnológico, por exemplo. O que há é a ocupação do tempo de professores e de seus alunos com mais aulas, mais horários de conteúdo (seja teoria e exercício) e não uma busca pela integralidade humana. O integral humano não é formado, trabalhado, explorado e pensado. É apenas uma terceirização da responsabilidade familiar ao que a escola bancária sempre se prestou, ser uma prestadora de serviço (do serviço que está sendo superficialmente demandado pelo mercado). Eu acredito que repensar o propósito da escolarização é a melhor maneira de avançar enquanto humanidade.