É tua linguagem abstrata
que fala de tudo
num "pouco dizer"
que se exime de hipérboles
e silencia ao meu querer
É mania estranha de convencer
distraindo no teu olhar
o caminho que me conduzirá
até onde irá me enlouquecer
Distorcendo a minha calma
explodindo em mim metáforas
traindo o medo do desejo
abrindo a alma em chamas
Sou linguagem fértil
que te conduz ao deserto
e, só lá, te dá de beber
Sou o vício de conceder
acostumado a se satisfazer
sou quem te seduz
condenado a se perder
Sou tua calma aparente
que destrói a tua mente
sou tu silêncio que grita
numa maneira muda de dizer
Sou no fio vermelho cortado
teu TNT detonado
que ninguém vê
Sou esse barulho todo guardado
como um confuso exato
esvaindo-se ao te preencher
Somos do fogo a brasa
que do vento que morre
pode até renascer
Como a noite cansada
que viu o sol nascer
Como a lua minguada
quebrando a onda
para o mar crescer
Somos o céu e o mar
ao longe, tocando-se
desfazendo a linha
que aos olhos
o horizonte parecia ter.
Hilda C. Q. Freitas
Poema escrito:
Belém, 24 de setembro de 2010.