Pedro Vieira Neto Pedro Vieira Neto eu não chamaria de método, mas de abordagem mesmo. O método parece uma receita pré-fabricada de como ensinar um filho e isso é ingenuidade. "Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades", cantaria Camões. Nós somos frutos do nosso tempo, pais, mães, filhos e demais parentes. Cada casa é um caso, cada criança pede um olhar específico e cada cuidador precisa ter uma ação pertinente ao seu modo de enxergar a vida. Pontuado isso, eu acredito, que vale a pena analisar a abordagem dessa mãe que enfoca o acolhimento e a consequência é a criança estar visivelmente satisfeita ao final do vídeo, tanto que ele ri juntamente com ela por fim. O que não é um problema, mas gera lacunas sobre o que de fato é impressionantemente defensável aos olhos adultos que vemos nessa publicação. O que é tão inestimável nesse vídeo que não possa receber uma ressalva, necessária aos nossos tempos, de meninos em desequilíbrio emocional, de pais em ausência de autoridade e de famílias em desconexão. Claro, que não é o caso de desconexão nesse vídeo, mas é nítida a falta de autoridade dela para dizer que ele mentiu e está errado. Ela se exime de tratar do que constrange e frustra o menininho. Por que? Por que ela só fala que não era para ele abrir ? Será que ele realmente só compreenderia até essa parte? Por algum motivo, no comportamento dele, parece que ele quer saber sobre essa vontade forte que teve em abrir antes do combinado. Parece que no ato mesmo de correr e dizer para ela "alguém abriu o presente", o que ele quer é saber por que abriu o presente. Ela diz que o Natal é legal e que eles gostam de abrir o presente lá no final, quando ele já está chorando ao ser colocado a dizer que foi quem abriu. Mas isso era o que ele queria, ou o que ela queria ouvir? Quando a correção sobre o fato é lógica e simples, incide no ato que se fez, no caso abrir o presente antes do prazo, e não por abrir o presente. Abrir o presente é super legal, gerou uma ansiedade enorme nessa criança que sequer poderia esperar. Até então nada de diferente de qualquer criança querendo muito ver um presente que fora mostrado antes e fora colocado como o maior barato de tudo. Mas ele abre antes e se desgaste com isso. O choro dele é de frustração por não ter conseguido esperar. E onde há a correção disso? Onde ocorre a verbalização que nutre o menino do que ele realmente precisa saber? O que fez ele errar? Por que ele abriu e "tudo bem", mesmo assim por que??? Porque ele é ansioso. Porque os tempos nos tornam ansiosos. Porque há famílias que lidam com crianças como se fossem robôs de afago e práticas de livros de autoajuda. Mas cadê o que o menino precisa? Ele pediu pra mãe algo. E eu te pergunto... O método final do "cheirar e assoprar" é uma recentinha linda pra "acalmar a ansiedade precoce e previnir transtornos" que não cabe e não sossega a criança de fato em sua pergunta essencial. Por que abriu o presente antes e não conseguiu esperar???? Ela faz o "método" bonito e "lúdico", mas se isso o acalmasse e o ensinasse sobre esperar ele não teria agido dessa forma. Eu acho que é a hora de mudar de expectativas sobre a criança. Será que ele queria ser acolhido em sua angústia ou queria ser remediado em sua infantilidade natural. Quer uma criança menos ansiosa? Olhe para ela e veja o que ela pede, e não o que os livros de educação familiar modernos recitam só para acalmar pais que pouco olham demorado para os seus filhos, pois estão quase sempre a pensar em si (em como queriam e querem ser tratados, em suas angústias e não nas da criança). Corrigir essa criança agora, com afeto e paciência, levaria ao autoexame mais tarde. Eu erro, eu tenho defeitos, eu tenho limites e vou lidar com eles sem mascarar sempre. Porque usar todo dia a máscara do foi um pequeno deslize, não resolve as perguntas fundamentais. Pais são as referências de limites que nos tornam humanos e iguais e não diferentões cheios de perguntas existenciais.
Se eu mergulho em mim, derramo amor...prazer... ódio... rupturas. Se eu te mergulho, deságuo em fúrias...feras...feridas...e amar. É sobre o encontro de mágoas às vezes, mas em um vigoroso oceano há sempre vida!
domingo, 1 de março de 2020
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"Quebrem as correntes dos seus pensamentos e conseguirão quebrar as correntes do corpo..." ("A História de Fernão Capelo Gaivota" BACH, 1970, p. 122/3).
Hilda Freitas, Belém/PA