quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

Vc não foi, vc foi levada. Vc não sentiu prazer, vc foi estimulada para além da sua compreensão, da sua permissão, da sua vontade e da sua capacidade de lutar contra. Não há nenhuma forma de remédio para curar suas lembranças, te fazer esquecer ou te fazer ao menos diminuir a dor. Não há. Eu não posso te dizer o que não existe. Mas existe um meio de vc amar tanto a si mesma que esse fantasma se afaste da sua cabeça, não como quem esquece MAS SIM COMO QUEM SE PERDOA. Por favor, perdoe a si mesma! Vc não fez nada, nada veio de vc, nenhuma característica sua ou qualquer que fosse sua postura, nada freiaria esse monstro. Homens quando desejam oprimir, violentar, destruir e assujeitar mulheres NÃO PARAM POR NADA. O que ele fez foi por pura perversidade, maldade e má índole. Ele se aproveitou da sua inocência, da sua inexperiência, da sua falta de força, da sua incapacidade biológica, da sua ingenuidade racional. Não há como uma criança de 12 anos lutar contra um monstro, contra seu maior inimigo. Vc foi vítima de um monstro. Não há sequer uma dúvida disso. Infelizmente existem meninas que se tornam dependentes emocionalmente desses abusadores e depois levam essa forma de abuso como relacionamento afetivo, quando é puro ato de dominação e de deformação. Se um monstro desse pudesse te matava fisicamente, mas como não pode um pedacinho de vc ele destruiu por um tempo: a sua paz. No entanto, eu não duvido que vc consegue RECONSTRUIR-SE, REENCONTRAR ESSA PAZ É POSSÍVEL. Encontre grupos de apoio, rodas de mulheres abusadas, conversas em grupos de mulheres feministas e qualquer apoio coletivo. Não guarde mais a maldade desse monstro dentro de vc. Ela não é sua. É totalmente dele.

domingo, 16 de dezembro de 2018

Se eu pudesse agora
Eu te sonhava
Em minha noite
Em minha cama
Dentro da minha coberta
E te enrolava
Entre meus dedos
E te sentia
Chegar bem felina
Cheirando meu pescoço
E te pedia
Me nina
Me mima
Menina,
Me ensina
A te mimar
A te amar
A te sonhar
E te ninar
E te ouvia
Respirar de olhos apertados
E te sentia
Subir na minha vida
Dominar minha mente
Ferver minha pele
Deixar meu corpo
Todo refém de ti
Se eu pudesse
Agora mesmo te pegava
Te sonhava em cima de mim
E te enlaçava firmemente
Apesar do medo
Tenho em mente
Teu suor
Teu sussurro
Tenho teu gemer
E sinto um cheiro quente
Vindo das narinas ofegantes
Do teu peito saltitante
Delirante teu quadril
Tudo em ti treme
E faz um frio
Sou eu soprando
Eu te amo
Atrás dos teus ouvidos
Na tua nuca
Nos teus cabelos
Tão meus e tão negros
Vontade de ranger os dentes
E te soltar
Livre levemente
Cheirando teu pescoço
Suavemente
Tudo na gente
Nesse sonho
É quente
Ardente
Vivo
E encandescente
Sonho um dia
De noite
A gente.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

 a ciência nas humanidades tem relação com a subjetividade, isso é o que permite o paradigma histórico e dialético. Claro que a gravidade não é uma ciência, ela é uma realidade física. O lugar de fala é uma ciência, ele faz parte de um conceito científico que depende obviamente da subjetividade manifesta histórica e, inclusive, psicologicamente. Não se pode igualar as premissas aritméticas, físicas e químicas com as realidades humanas, apreciáveis nas ciências ditas humanitas. Ninguém irá questionar a princípio de que a gravidade existe, mesmo assim são muitas as discussões científicas sobre os desdobramentos dessa realidade, e nestes casos a historicidade científica se aplica no que é possível compreender e no que ainda não é possível. Nas ciências humanas não lidamos com objetos, com abstrações apartadas do contexto e da subjetividade inclusive que lhe interpreta (como eu disse, é preciso conhecer o livro de professor Japiassú sobre a Ciências Humanas, ele reduziria possíveis lacunas no meu comentário). Quando a palavra fato aparece no seu comentário, ela deixa de ser fato histórico e passa a ser fato absoluto, mas não é sempre assim, principalmente dentro das ciências humanas - exatamente o ambiente acadêmico de onde saiu o artigo em questão. Eu jamais teria a mesma postura analítica diante de um fato físico, químico ou de questões matemáticas, não é está a área do conhecimento a qual estamos examinando especificamente. Quando vc traz a discussão sobre a percepção do real, ou "apreensão do real" eu não pude silenciar em mim a voz de Lacan e a máxima psicanalítica dele sobre a incapacidade da apreensão do real. Para essa ciência humana (psicanálise lacaniana), o real é inatingível mesmo em um esforço teórico.  Então, não concordo com sua afirmação sobre o real, embora a palavra realidade estivesse de alguma forma - talvez - mais adequada ao seu contexto afirmativo. Não considero a ciência humana um relativismo epistemológico, e considero o seu comentário uma anticiência porque desqualifica uma área fundamental e funcional do saber científico. As descobertas de Newton são fatos científicos abstratos e as ciências humanas consistem em fatos históricos e subjetivos (no sentido de relacionados às construções dos sujeitos no mundo, é sobre o estado de coisas e não o estado das coisas, no sentido de Wittgenstein). A historicidade, ao contrário do que vc defende não é um limite, mas um aspecto formador que não pode ser ignorado sob pena de - neste caso, sim - restringir, limitar a capacidade analítica do objeto social, histórico e subjetivo. Se vc se opõe ao que a epistemologia da filosofia contemporânea usa como meio de análise, esse é um viés metodológico seu, não precisa ser radicalizado como a única forma verdadeira de se fazer ciência. Não é mesmo? Descarte é sábio em propor em uma das suas últimas discussões teóricas a premissa científica da dúvida. Duvidar é preciso, inclusive duvidar de si mesmo. Por isso, não tem como negar que a ciência exige o debate dentro da realidade, do contexto ao qual se propõe. Lugar de fala não é um confessionário, não é um microfone na mão, nunca será um artifício comunicacional, pois é a comunicação indispensável para a progressão da narrativa histórica. O discurso da história, a partir do lugar de fala, se torna um meio de debates e conflitos subjetivos enriquecedores e mais autênticos, no sentido de representativos. Quando mais interlocutores são ouvidos, maior possibilidade de versões a história terá. O que enriquece a visão de mundo estabelecida pela interdiscursividade, leia-se Patrick Charaudeau sobre isso (Análise do discurso). Nenhuma subjetividade pode ser encarada como uma pessoa no mundo, isso é olhar para o discurso e não enxergar as vozes que lhe antecedem (leia-se Mikail Bahkitin sobre isso "Marxismo e filosofia da linguagem", "Estética da criação verbal"). Somos uma polifonia reverberada na voz de uma simples mulher (isso foi irônico). A experiência não pode ser transmissível, experiências não se transmitem, são sabidas e escutadas, jamais dadas como um objeto de troca material. Experiências são conhecidas e intermediadas para que sua existência seja validada. Um apagamento de experiência é um silenciamento de existências. Os negros foram apagadas da história do Brasil sobre a definição amordaçadora da palavra "escravo", na qual suas identidades foram omitidas criminosamente. Não se está falando de justiça, aqui, mas de ciências humanas. A ética é um princípio no método de muitas ciências humanas como já argumenta Karl Marx, entre outros tratando do discurso do método. A verdade não é obejto da ciência, ela é uma premissa revogável quando está dentro do debate. Reviga-se a verdade absoluta e coloca-se as verdades possíveis. Mesmo porque nem tudo é possível de ser apreensível para a racionalidade humana, somos limitados pela nossa vivência e historicidade. Essa é a premissa de uma ciência humana que se queira possível no século XXI. Por favor, não trate de nenhuma teoria social, subjetiva, linguística e comunicacional como se ela fosse verdade ou fato absoluto porque não é desse tipo de ciência que se está tratando mas da ciência das humanidades e seu olhar deve ser adequado para tal.

terça-feira, 11 de dezembro de 2018

RABELAIS, obrigado por existir:

"Manguaceiros ilustres! Nobres toscos! Estimados aleijões! Sondas de jarros! Hastes de frascos! Registros rodados! Mordomos de névoas! Discípulos de São Martinho! Irmãos chapados! Irmãos cozidos! Irmãos insaciáveis e arrotadores chumbados! Banqueteiros e toneleiros! Trincadentes e trincalínguas! Vastas gorjas! Panças bombadas! Peidorreiros e trapaceiros! Irmãos doidos e preciosos! Por conclusão, notem bem o seguinte: se quiserem conservar nesta vida saúde e venustade, escutem atentamente estas seis regras:
 Nunca bebam sozinhos. A companhia de manguaceiros é uma corja altamente estimada e sua palavra baritonante tem peso considerável nos círculos de gendarmes. E mais: peguem dois bêbados; se um, empanturrado de névoa, perder o passo, o outro logo o levanta.
 Sigamos: ao despontar o dia, sob o luar virginal da alba, o melhor é brindar com Matusalém; ao meio dia com Baltazar; no crepúsculo choque a caneca com Nabucodonosor.
 Só beba do melhor. Beba do sólido. Plínio convida a distinguir os vinhos imbecis dos vinhos válidos; os bilontras vão preferir a segunda opção. Evitem os mequetrefes e mijos de burro. Evitem vinhos xexelentos.
 Evitem a cerveja. O poeta Basselin chama os manguaceiros de cerveja de bocas mijantes e diz com justeza que esse trago é bom para os flamengos e alemães, porque têm alma comum. E beber cerveja é causa de males: Júlio, o santo pai, bebeu cerveja e, mostrando sua barba, provocou grande indignação. Por isso, Erasmo de Rotterdam também diz que a cerveja seja infligida aos desgarrados e apóstatas, pois que é um castigo rudíssimo, tão pesada fora a falta.
 Porém mais que tudo, evitem a água: de todos os fluidos, é o mais virulento. Grande número de poetas e lansquenetes sucumbiram desafortunadamente por culpa dela. A água prejudica enormemente por causa de seu fedor e pestilência; Aristóteles, na História dos animais, narra como um grande número de gafanhotos, depois de beberem água, se corromperam e, por causa daquela horrível pestilência, abateram oitenta mil pessoas na cidade de Azi. E os membros da congregação da Santa Sé sabem muito bem o que estão fazendo quando vertem um funil de água nas tripas heréticas, porque quem bebe água tem sempre algo por esconder e dissimula alguma obscenidade.
 Vamos! Tomem exemplo no ensinamento de Jesus Cristo em Caná, do adorável milagre do Cordeiro.
 Evitem também o sangue. O sangue é pernicioso para o corpo humano, como testemunho diversos escritos e opúsculos medicinais e o camarada Avicena, também ele, recomenda a prática abundante da sangria. Reconhecemos que o sangue é um fluido gravemente nocivo porque esguicha e escorre só de furar alguém com um punhal; porque o corpo humano aproveita a mais ínfima oportunidade para se livrar desse veneno; e Marnardi de Ferrara nos ensina que devemos escutar o que o corpo nos ordena, pois através dele fala o Espírito Santo. Eis por que, erguendo o cálice, o Salvador disse: “Isto é o meu sangue”, o que prescreve que troquemos todo nosso sangue por vinho,  que nem uma cunha empurra a outra; e nós ficaremos saudáveis e adoraremos a Deus com fervor. ἄγιος κ᾽ἀθάνατος ὁ Θεός  [Santo Deus imortal].
 Ah! saibam também o seguinte: vocês têm a vida inteira para gargalhar e toda a morte para repousar."

[Trecho tirado do "Tratado do bom uso de vinho", cujo original francês se perdeu. A pintura é de Adriaen Brouwer, séc. XVII].

sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Ela simplesmente não vai acontecer
Eu tô indo embora mais um vez
A hora de chegar foi tão natural
Mas a de partir não vai ser
Não queria dizer adeus
Mas ela foi dizendo antes
E eu nem li
Nem notei
nos meus devaneios
Nas minhas burrices
Espantei ela da janela do mundo
Ela fugiu mesmo 
Como disse desde sempre
Mas algo dela ainda persiste
Mas sua sombra, sua vagueza
Sua imagem na minha tela
Não são ela
São minha mente
Impondo um presente
Que não existe
Eu conheço suas armadilhas
Querida razão doente,
Não me derrube de novo
Os voos estão proibidos
Mas eu tenho que prosseguir
Uma queda deliberada 
No olhar dela sobre a gente
No falar dela sobre o mundo
E eu caminho incoerente
Cega mente tenho 
Busco uma inspiração
Encontro um muro
Em minha frente, enfrentar
Não tem por quê
Eu sou um passarinho no ar
Nem sei como pude sobreviver
Vou dizendo muito obrigada
Por mais uma chance
Vida, sua boba
Eu compreendi
  • Adeus, agora
Sem ela
nem uma poesia faz sentido
Meus olhos percorrem
 por todo lugar
Ela quem querem
 em todas as letras
e as formas abstratas vistas
 à distância dela
Sem ela
 nenhuma música
 encaixa com a rima
e os poemas de amor
perderam a cor
Não tem melodia
Onde ela foi ?
meus sentidos perguntam
Minha boca sente
o perfume do seu corpo
Ela não é minha
Minha mente repete
A alma sozinha
Cria o gosto da sua pele
E eu sou inteira vazio
Sem ela
Achei muito interessante a tua visão sobre o esse falastrão, desculpa eu não consigo concordar com a comparação com o Marx, porque realmente diferentemente deste, aquele nunca será um filósofo mesmo. Vc está muito certa de colocar a palavra filósofo entre aspas. Enquanto Marx , muito além de lutar pelo fim do liberalismo tirânico, era um consagrado leitor e um dos mais importantes analistas da filosofia clássica (socrática); o jornalista e comentarista de cotidiano brasileiro nunca terá nenhum reconhecimento acadêmico. Marx é estudado por universidades das maiores potências capitalista, que possuem filósofos neoliberais que refizeram a leitura de seus clássicos sobre os problemas e os vícios que a geração de capital poderia criar para o próprio capitalismo. E no séc XXI é estudado como um dos maiores analistas sobre os problemas do liberalismo radical. Por exemplo, existem análises dele que antecipam as crises do capital, tais como a Crack de 1929 (bolsa de valores de NY) às implicações diplomáticas entre conservadorismo e democracia liberal do nosso século. Eu concordo plenamente com a sua visão sobre a retórica viciada do pequeno brasileiro que está amando a popularidade, mesmo ruim, que estão lhe dando. Ele é um cidadão da "sociedade do espetáculo", como analisa o filósofo alemão Guy Debord (1931), no capítulo "A negação e o consumo da cultura". No livro "A sociedade do espetáculo", trata exatamente dessa forma de "intelectualidade" falsa, que não se apoia em conceitos científicos, mas em análises pessoais, verdadeiras opiniões. Ter opinião e expressá-la não pode ser considerado errado, mas querer que essa opinião seja ciência ou teoria é, antes de tudo, uma enganação. Eu considero qualquer palpitero que possui livro publicado como um palpitero de livro e somente isso. Mesmo tendo graduação e pós-graduação, não podemos considerar as opiniões deste ou daquele ciência. Se tem livro, não significa ser um homem das ciências e das filosofias. Ao contrário, acho que algumas obras desse comentarista espetacularista está muito mais para ficção, para não dizer fantasia, do que para análise crítica. Não aceitar contraditório realmente é um dos piores indícios para alguém que se queira científico. É necessário, principalmente dentro da filosofia, a consideração e a inclusão das críticas para que o debate, a tese e a proposta de análise seja ciência ou filosofia. Platão é um dos teóricos mais importantes sobre o método da filosofia clássica, e elege a dialética como o princípio da filosofia. Marx, na sua releitura sobre os métodos da filosofia moderna, elege a dialética histórico-cultural como o princípio ético para qualquer ciência, incluindo a filosofia. Para Marx, a práxis é o única forma de garantir uma ciência ética, isto é, a capacidade de uma teoria ser praticada e transformar realidades ruins para a humanidade em boas formas de viver em sociedade. Eu acredito plenamente, que esses princípios filosóficos são no mínimo ignorados pelo palpitero brasileiro. Infelizmente, ele sabe apenas espalhar opinião e sequer se preocupa com aqueles que não concordam com o que ele determina. Também, não está preocupado com o bem comum, esse é um princípio da dialética marxista, consagrada como origem da filosofia moderna. Antes de tudo, Marx era um filósofo perseguido cruelmente por ser judeu e considerado, juntamente com seu parceiro de filosofia, Engels, pessoa não grata pelo império da Prússia (tirano imperador Frederico Guilherme V, um republicano liberal), porque lutava através da filosofia pela igualdade de classes. Já, o brasileiro em questão, é autor de livros sobre opiniões de cunho "científico" bastante duvidoso, por ser ensaísta, por não aceitar debate dentro da academia sobre suas opiniões, sobre suas ideias, que por ter condições financeiras consegue publicar. Infelizmente, eu considero um atraso vergonhoso pro Brasil considerar esse homem uma pessoa digna de opinar sobre qualquer assunto da nossa realidade histórica.

terça-feira, 20 de novembro de 2018

JULIANA

Cavalgando com suavidade
Lentamente,
umedecida,
olhos fechados
e os cabelos no rosto
Deslizando com vontade
Subindo,
descendo
ao ritmo da nossa respiração

Ela descansa a cabeça
no meu ombro
Mas logo se ergue,
se empina
e continua
Suas mãos se apoiam
no meu peito
Ganha força,
ritmo,
intensidade

Feito uma águia selvagem
ela parece voar
por cima da cama,
por cima de mim
É uma fera incontrolável
que me doma,
me engole
E eu, totalmente entregue,
sou a sua presa.

( Cleydson Ramones )

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Ps: Fique à vontade para COMPARTILHAR ou MARCAR o seu namorado(a), crush, amigo, amiga. 

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segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Eduardo Bolsonaro: “Eu começo a ‘entender’ a importância da figura masculina na vida de uma mulher quando minha ex-namorada que já se declara feminista é vista em uma balada LGBT acompanhada de um médico cubano, usando uma roupa vulgar e, como se não bastasse, rebolando até o chão. E ainda posta isso na internet, como se fosse uma atitude louvável. Lembrando que antes do feminismo ela andava com roupas discretas, não rebolava até o chão, e namorava comigo. ;) #FeminismoÉDoença”

Patrícia Lélis: “Eu comecei a entender a importância do feminismo quando fui abusada por seu amigo de partido e você me pediu para ficar calada, mesmo sabendo que era verdade e me vendo machucada fisicamente e psicologicamente. Foi daquele dia em diante que eu comecei a entender o feminismo. Até então eu aceitava as suas grosserias, abusos e traições. Foram 3 anos e 8 meses em um relacionamento abusivo. Eu estou percebendo que tudo na vida evolui, menos você. Falta de elegância ficar pedindo para terceiros te passarem informações sobre onde e com quem estou. Você consegue desrespeitar até mesmo pessoas que você nunca viu na vida, menosprezando e desvalorizando o próximo. Sabe qual foi o principal motivo que nos levou ao término? Eu descobrir que eu sou dona de mim, descobrir que sou um ‘mulherão da porra’, e quando descobri isso, você ficou com medo. Moleques não aguentam mulheres fortes. Só para terminar esse post: esse médico cubano que você tentou menosprezar nesse post, além de ser um baita ‘homão da porra’, me leva pra balada, não reclama das minhas roupas e maquiagem, dança comigo, e cá entre nós: tem uma ‘pegada’ que você nunca teve na vida. Beijo, Eduardo. E vê se para de me ligar e mandar mensagens dizendo que tá com saudades, tá chato já!”

terça-feira, 13 de novembro de 2018

Incondicionalmente amar de novo

A inspiração para que possamos recomeçar não está colocada onde queríamos. Ao contrário disso, ela sempre nos pega de surpresa, nos toma para si feito uma chuva repentina acalmando o ardor de tantas incertezas.
Recomeçar, então, é encarar as dúvidas, as dívidas e as reticências. Não há como não ter perguntas e anseios sobre o futuro, não há como esquecer que já errou tanto por ser ingênuo. Duvidar é acreditar no próprio eu do presente perdoando os erros que se foram, almejando alento no porvir.
As promessas vão sendo deixadas de lado e ficamos devendo algumas explicações incoerentes e outras reflexões que chegarão na hora exata. São dívidas que ficaram de ser pagas e nós deixamos de cobrar por pura vontade de seguir pra nunca mais voltar. São as nossas desculpas esfarrapadas livres, leves e soltas.
Enfim, restam solenes as continuidades soberanas. Sim, a vida continua mesmo que quiséssemos estagná-la! Não, não há como remediar os três pingos de vida que seguem sem nos deixar pedir "licença pode me esperar". Vida que segue que chama, né?
É! A vida não deixa de ser companheira do tempo, passando por entre os dedos divinos e escapando feito menina liberta, livre para re(a)mar. Em uma rota de tempestades no mar, tememos continuar. Amar é persistir mar adentro, em mar aberto,  amar e pronto.
 Não, amar não é de erro, não há equívoco. Se errar por isso, perdoe-se imediatamente, e jamais se arrependa de recomeçar a acreditar no amar da vida. Não há como viver sem recomeçar quantas vezes for preciso para reaprender, reinventar. Reamar é amar quantas vezes for indispensável por ser de amor movido.
A inspiração para que possamos recomeçar não está colocada onde queríamos. Ao contrário disso, ela sempre nos pega de surpresa, nos toma para si feito uma chuva repentina acalmando o ardor de tantas incertezas da vida.
Recomeçar, então, é encarar as dúvidas, as dívidas e as reticências. Não há como não ter perguntas e anseios sobre o futuro, não há como esquecer que já errou tanto por ser ingênuo, duvidar é acreditar no próprio eu do presente.
As promessas vão sendo deixadas de lado e ficamos devendo algumas explicações incoerentes e outras reflexões que chegarão na hora exata; são dívidas que ficaram de ser pagas e nós deixamos de cobrar por pura vontade de seguir pra nunca mais voltar.
Enfim, restam as continuidades soberanas. Sim, a vida continua mesmo que quiséssemos estagná-la! Não, não há como remediar os três pingos de vida que seguem sem nos deixar pedir "licença pode me esperar"... Vida que segue que diz né?
É! A vida não deixa de ser companheira do tempo, passando por entre os dedos divinos e escapando feito menina livre, liberta para de re(a)mar. Amar não deve ser um erro. Se errar por isso, perdoe-se imediatamente, e jamais se arrependa de recomeçar a acreditar na vida. Não há como viver sem recomeçar quantas vezes for preciso para aprender a amar.

segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Até um dia desses éramos os que ajudavam a construir o futuro da nação, agora somos os maiores inimigos. Somos "inimigos" da família de bem; "opositores" do governo de bem; "adversários" da empresa de bem; "rebeldes" contra a ideologia de bem; "revoltados" contra a igreja de bem. Somos do mal, do contra e do lado avesso. Até um dia desses éramos os que deveriam ser respeitados, os que deveriam ser abraçados pelo tamanho da responsabilidade que temos maior do que cuidar da nossa própria família. Agora somos os que devem se calar ou repetir o que o livro escolhido por eles disser. Seremos papagaios de estimação????? Querem uma legião de pessoas sem criticidade andando pelo mundo a esmo??? Querem sucumbir a alma de um povo???? A alma é a capacidade de sentir, de se indignar e de se contrapor ao que considera injusto. Se a educação não desenvolver a criticidade, QUEM FARÁ? A TV? A INTERNET? AS FAKENEWS??? A SUA TIA APOSENTADA QUE JÁ NÃO LÊ NEM MAIS PALAVRAS CRUZADAS SÓ olhando bobagem no wtsp??? Fomos largados. Eu já sinto o peso. Irei resistir. E mesmo que me tirem os livros, não conseguiram tirar o conhecimento tatuado no meu corpo e na minha mente. Educarei independentemente de tudo. A luta é por uma nação de gente e não de zumbis!

quinta-feira, 1 de novembro de 2018

O que eles querem é bloquear qualquer forma de liberdade garantida. A única "liberdade" que eles aceitam é a liberalidade, isto é, o princípio liberal tal qual os clássicos desse pensamento preconizavam,  Smith, Locke, Stuart Mill. Nada de liberalismo soa como liberdade, nem mesmo quando garante os direitos individuais. Por isso que devemos nos cuidar bastante. O liberalismo estipula o que e como é ser "livre" e garante que seja de fato apenas "liberado". Quem regula essa lei? O pensamento dos donos do meio de produção. E está liberado apenas aquilo que pode ser consumido. Daí o princípio falho do senso comum "o dinheiro traz a felicidade".

segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Eu li uma vez em artigo de um historiador, desses que estão fora de moda no Brasil, que o nosso país é das contradições gigantescas. Monarquia que faz  independência  ao império; Império que faz golpe e instaura a república; república que faz golpe militarista; operário que faz modernização do sistema liberal ultrapassado para a democracia neoliberal mais contemporânea possível. Aqui a surpresa não acaba. Mas fico feliz da vida de ver, essa radicalidade da nossa esquerda sendo jovial e contemporânea! Boulos representa a nossa diversidade faraônica. Somos contraditoriamente um país de surpresas! Enquanto todos esperaram de Ciro a luta democrática, mesmo que fosse apenas por uma reverência ao criador do partido que lhe acolhe Brizola; somos surpreendidos por um radical de esquerda fazendo o aceno livre pela democracia plena! Meu presidente seria Boulos, votei sem medo de ser feliz e livre!

quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Esse caos é o efeito mesmo que eles querem. Quanto maior a dor, o sofrimento e a angústia gerada mais eles crescem. Eles se alimentam da nossa dor e nós jamais somos culpados por de certa forma sermos suas presas. Ao contrário, sonos na mesma medida o veneno. Uma pessoa que sofre ao ver tanto horror e desumanidade, só pode ser totalmente contra essa forma de poder e por isso é sua oposição. O que enfraquece esse mal é quando nós o DESPREZAMOS. DEVEMOS DESPREZAR ESSE IMPRESTÁVEL! A luta agora é para apagar ele da mente das pessoas e só faremos isso falando, fazendo e reverberando outras coisas e outras energias. Tire ele da sua vida. Se purifique . Purifique a sua família. Pense, fale e reverbere outra coisa . Não se deixe dominar por esse mal, que eles querem exatamente é serem os senhores das nossas mentes. E não serão!

terça-feira, 23 de outubro de 2018

Um trecho do sensacional e fundamental "Introdução à vida não fascista" do Foucault:

Essa arte de viver contrária a todas as formas de fascismo, estejam elas já instaladas ou próximas de sê-lo, é acompanhada de certo número de princípios essenciais, que resumirei como segue, se eu devesse fazer desse grande livro um manual ou um guia da vida cotidiana:
 • Liberem a ação política de toda forma de paranóia unitária e totalizante.
• Façam crescer a ação, o pensamento e os desejos por proliferação, justaposição e disjunção, e não por subdivisão e hierarquização piramidal.
 • Livrem-se das velhas categorias do Negativo (a lei, o limite, as castrações, a falta, a lacuna) que por tanto tempo o pensamento ocidental considerou sagradas, enquanto forma de poder e modo de acesso à realidade. Prefiram o que é positivo e múltiplo, a diferença à uniformidade, os fluxos às unidades, os agenciamentos móveis aos sistemas. Considerem que o que é produtivo não é sedentário, mas nômade.
 • Não imaginem que seja preciso ser triste para ser militante, mesmo se o que se combate é abominável. É a ligação do desejo com a realidade (e não sua fuga nas formas da representação) que possui uma força revolucionária.
 • Não utilizem o pensamento para dar a uma prática política um valor de Verdade; nem a ação política para desacreditar um pensamento, como se ele não passasse de pura especulação. Utilizem a prática política como um intensificador do pensamento, e a análise como multiplicador das formas e dos domínios de intervenção da ação política.
 • Não exijam da política que ela restabeleça os “direitos” do indivíduo tal como a filosofia os definiu. O indivíduo é produto do poder. O que é preciso é “desindividualizar” pela multiplicação e o deslocamento, o agenciamento de combinações diferentes. O grupo não deve ser o liame orgânico que une indivíduos hierarquizados, mas um constante gerador de “desindividualização”.
 • Não se apaixonem pelo poder.
Minha amiga, o silêncio do corpo é a dormência da mente. Os antigos gregos diriam "mente sã, corpo são", em igual proporcionalidade. Nem uma medida de consequência será deixada para trás. Os que apoiam com medo e pensam "estamos seguros", se enganam. Uma cadela raivosa e faminta não escolhe sua comida. Quem de longe enxerga o cheiro de sangue e se afasta - está em perigo, mas se protege. Quem de perto cheira e consome os restos, não sabe a hora que os olhos que lhe enxergam são a bocarra que lhe dilacera.
Reduzir a maioridade penal é dar a autorização institucional do Estado matar os pobres e negros ainda mais cedo. O extermínio da nossa juventude negra é um péssimo sinal de que, o que o Estado não dá conta, ele elimina. Elimina jogando para baixo do tapete, para 7 palmos do chão. Um Estado sádico, tirano e desumano. Esse é o Estado neoliberal. O mesmo que "deu certo" em vários lugares do mundo é só fazer um "comparação espontânea" com o socialismo radical  "pra vc ver". Eric Hobsbawm não seria tão radical: "Ambas as tentativas de viver à altura dessa lógica totalmente binária dessas definições de 'capitalismo' e 'socialismo' faliram". E nós ainda buscando agulha no palheiro. Esse Estado tirano é o que não combina humano e produção porque só pensa na lucratividade e na produtividade. Ser um estado democrático antes e tudo no século XXI será superar a tensão entre gente e suas criaturas. Superar o desequilíbrio entre ter e ser. Conduzir o bem comum em direção ao bem das pessoas e não das suas criaturas, como o mercado. As pessoas, enfim, devem estar acima de qualquer outro "bem" social. Quando pensamos mais no celular roubado do que no menor que o roubou, não pensamos como pessoas. Pensamos como parentes de objetos pelos quais vivemos, trabalhamos condenadamente e por quem morremos ou matamos. E essa humanidade é triste.

sábado, 20 de outubro de 2018

O legado do patriarcado é a psicopatia! Sério, além de ver gente se fingindo de "contra a corrupção", mas declarando que queria ver morte ...de leve...ainda temos que ver gente alucinada reverberando suas fantasias. O que querem os loucos? Eu diria que mais sanidade aos "doutos". Ironicamente, a loucura é mais sã em tempos extremos e a "sanidade" aparente é só um jeito falho de esconder a irracionalidade dos sentidos.

quinta-feira, 18 de outubro de 2018

Falem-nos sobre remediar. Nós queremos muito ouvir! Qual é o remédio e, antes de tudo, qual a doença? Sintomas estão esparsos. Efeitos se espraiam. Nesse caos democrático, vivenciando por todo o mundo em que esse sistema é vigente, há problemas difusos. Tudo o que fazemos é lançar mão de mecanismos operantes na teoria contemporânea. E eu pergunto: como vc se aparelha para analisar essa problemática? Quais seus preceitos? A metodologia é a alma da resposta científica.

quarta-feira, 17 de outubro de 2018

Quando a filosofia, as artes, a ciência, a racionalidade e a humanidade são consideradas erradas, não há mais referências. O obscurantismo se baseia na demonização de tudo isso.
Devemos tomar muito cuidado com os senhores em quem nos apoiamos. Newton já dizia "enxerguei mais longe porque me apoiei em ombros de gigantes". Os saberes são gigantes, não há um homem sequer que possa se autonomear gigante, senão já perdeu sua sabedoria. A maior virtude de quem é sábio é a humildade.
Quando olhar no espelho, se questione sobre os gigantes em que você está apoiado. Pode ser que a baixeza de sua humanidade lhe garanta poucos andares de escadas inseguras. Os gigantes estão na pequenez daquele que reconhece sua necessidade de saber. Se veja. Se mova. Se deixe saber. Logo seus olhos poderão alcançar um mundo que era improvável até o instante anterior. O saber nos mostra sua gigantesca força quando nos faz enxergar de longe a humanidade que nos identifica e nos unifica. Não há espaço para o saber onde não há humanidade de ser.
A idolatria que desde Moisés é temida consiste nesse sistema. Idolatrar um ser ou ideia como fosse a única possibilidade de verdade. A ciência sempre combateu essa forma de expressão cultural, foi a luta do renascentismo e o mote do iluminismo. Tudo quanto foi criado durante a era medieval sofreu com as sombras da adoração à monarquia aparelhada pela igreja. O absolutismo foi a tirania, o fascismo dessas eras. Nenhuma ciência vigorava, apenas o obscurantismo. Foram tempos difíceis para as mentes. Ainda são tempos difíceis para as mentes. Onde há idolatria, há demência e dormência da mente. Em geral, a arte foi sempre o refúgio da humanidade, do próprio humanismo. Ela será o nosso suporte, eu não duvido.

sábado, 13 de outubro de 2018

É depressor esse sistema! Fico impressionada como pessoas que conheço desde a infância, que sempre foram educadas para aniquilar outras; que sempre foram adeptas do dar porrada para calar a boca do fulano; que embora tivesse boas notas na escola era sempre fã da pancadaria generalizada e das piores práticas como aluno em escolas "militaristas"; acho incrível como essas pessoas dizem que "só vão votar no coiso porque odeio o PT". Eu vejo de longe a covardia dessa gente. Quero ver maninho correndo quando enfrentar o sistema que ele pensa que o protegerá. A covardia dessa gente é farejada a léguas. Há uma cadela raivosa e faminta na espreita. Se eu sou contra ela, eu reconheço suas pegadas. Se alguém for um covarde/comensal que se esconde atrás dela para ver o sangue jorrar, eu te pergunto: quem ela vai matar primeiro? É uma simples lógica.
Está escrito não idolatrarás outros deuses, e mesmo assim o pastor, o candidato à presidência parecem verdadeiros deuses defendidos e idolatrados, louvados e adorados por seus fiéis seguidores. O segundo mandamento é claro sobre quem idolatrar outros deuses. Jesus como é um fiel a lei de Moisés diz na porta do grande templo em Jerusalém aos fariseus "dai a César o que é de Cesar e dai a Deus o que é de Deus". Além do mais, nunca houve uma "abolição" do furto na "lei" de Jesus, como fiel aos eternos ensinamentos antigos, ele garante a lei quando condena um ladrão ruim, embora perdoe o outro, o ladrão bom. O que salva o ladrão bom, segundo padre Antônio Vieira, é a restituição dos bens. Aquele que restituir o que furtar em sua totalidade será digno de perdão, conforme manda a lei de Moisés. É preciso ler e interpretar, porque só decorar trechos da bíblia não salva ninguém!

segunda-feira, 8 de outubro de 2018

Sua tia não é fascista, ela está sendo manipulada

 Você se pergunta como um candidato com tão poucas qualidades e com tantos defeitos pode conseguir o apoio quase que incondicional de grande parte da população?

 Você já tentou argumentar racionalmente com os eleitores deles, mas parece que eles estão absolutamente decididos e te tratam imediatamente como inimigo no mais leve aceno de contrariedade?

 Até sua tia, que sempre foi fofa com você, agora ataca seus posts sobre política no facebook?

 Pois bem, vou contar uma história.

 O principal nome dessa história é um sujeito chamado Steve Bannon. Bannon tinha uma visão de extrema direita nacionalista. Ele tinha um site no qual expressava seus pontos de vista que flertavam com o machismo, com a homofobia, com a xenofobia, etc. Porém, o site tinha pouca visibilidade e seu sonho era que suas ideias se espalhassem com mais força no mundo.

 Para isso, Bannon contratou uma empresa chamada Cambridge Analytica. Essa empresa conseguiu dados do facebook de milhões de contas de perfis por todo mundo. Todo tipo de dado acumulado pelo facebook: curtidas, comentários, mensagens privadas. De posse desses dados e utilizando algoritmos, essa empresa poderia traçar perfis psicológicos detalhados dos indivíduos.

 Tais perfis seriam então utilizados para verificar quais indivíduos estariam mais predispostos a receber as mensagens: aqueles com disposição de acreditar em teorias conspiratórias sobre o governo, por exemplo, ou que apresentavam algum sentimento de contrariedade difuso ao cenário político atual.

  A estratégia seria fazer com que esse indivíduo suscetível a essas mensagens mudasse seu comportamento, se radicalizasse. Como as pessoas passaram a receber as notícias e a perceber o mundo principalmente através das redes sociais, não é difícil manipular essas informações. Se você pode controlar as informações a que uma pessoa tem acesso, você pode controlar a maneira com que ela percebe o mundo e, com isso, pode influenciar a maneira como se comporta e age.

 Posts no facebook podem te fazer mais feliz ou triste, com raiva ou com medo. E os algoritmos sabem identificar as mudanças no seu comportamento pela análise dos padrões das suas postagens, curtidas, comentários.

 Assim, indivíduos com perfis de direita e seu tradicional discurso “não gosto de impostos” foram radicalizados para perfis paranóicos em relação ao governo e a determinados grupos sociais. A manipulação poderia ser feita, por exemplo, através do medo: “o governo quer tirar suas armas”. Esse tipo de mensagem estimula um sentimento de impotência e de não ser capaz de se defender. Estimula também um sentimento de “somos nós contra eles”, o que fecha a pessoa para argumentos racionais.

 Sites e blogs foram fabricados com notícias falsas para bombardear diretamente as pessoas influenciáveis a esse tipo de mensagem. Além disso, foi explorado também um sentimento anti-establishment, anti-mídia tradicional e anti “tudo isso que está aí”. Quando as pessoas recebiam várias notícias de forma direta, e não viam essas notícias repercutirem na grande mídia, chegavam à conclusão de que a grande mídia mente e esconde a verdade que eles tem.

 Se antes a mídia tradicional podia manipular a população, a manipulação teria que ser feita abertamente, aos olhos de todos. Agora, todos temos telas privadas que nos mandam mensagens diretamente. Ninguém sabe que tipo de informação a pessoa do lado está recebendo ou quais mensagens estão construindo sua percepção de realidade.

 Com esse poder nas mãos, Bannon conseguiu popularizar a alt right (movimento de extrema direita americana) entre os jovens, que resultou nos protestos  “unite de right” no ano passado em Charlottesville, Virgínia que tiveram a participação de supremacistas brancos. Bannon trabalhou na campanha presidencial de Donald Trump e foi estrategista de seu governo. A Cambridge Analytica trabalhou também no referendo do Brexit, que foi vencido principalmente por argumentos originados de fakenews.

 Quando a manipulação veio à tona, Mark Zuckerberg foi chamado ao senado americano para depor. Pra quem entendeu o que houve, ficou claro que a democracia da nação mais importante do mundo havia sido hackeada. Mas os congressistas pouco entendimento tinham de mídia social; e quem estaria disposto a admitir que a democracia pode ser hackeada através da manipulação dos indivíduos?

 Zuckerberg estava apenas pensando em estabelecer um modelo de negócios lucrativo com a venda de anúncios direcionados. A coleta de dados e a avaliação de perfil psicológico das pessoas tinham a intenção “inocente” de fazer as pessoas clicarem em anúncios pagos. Era apenas um modelo de negócios. Mas esse mesmo instrumento pode ser usado com finalidade política.

 Ele se deu conta disso e sabia que as eleições brasileiras podiam estar em risco também. Somos uma das maiores democracias do mundo. O facebook tomou medidas ativas para evitar que as campanhas de desinformação e manipulações ocorressem em sua rede social. Muitas contas fake e páginas que compartilhavam informações falsas foram retiradas do facebook no período que antecede as eleições.

 Mas não contavam com a capilarização e a popularização dos grupos de whatsapp. Whatsapp é um aplicativo de mensagens diretas entre indivíduos; por isso, não pode ser monitorado externamente. Não há como regular as fakenews, portanto. Fazer um perfil fake no whatsapp também é bem mais fácil que em outras redes sociais e mais difícil de ser detectado.

 Lembram do Steve Bannon, que sonhou com o retorno de uma extrema direita nacionalista forte mundialmente? Que tinha ideias que são classificadas como anti minorias, racistas e homofóbicas? E que usou um sentimento difuso anti “tudo que está aí”, e um medo de os homens se sentirem indefesos para conquistar adeptos?

 Pois bem, ele se encontrou em agosto com Eduardo Bolsonaro. Bolsonaro disse que o Bannon apoiaria a campanha do seu pai com suporte e “dicas de internet”, essas coisas. Bannon é agora um “consultor eventual” da campanha. Era o candidato ideal pra ele, por compartilhava suas ideias, no cenário ideal: um país passando por uma grave crise econômica com a população desiludida com a sua classe política.

 Logo depois de manifestações de mulheres nas ruas de todo o Brasil e do mundo contra Bolsonaro, o apoio do candidato subiu, entre o público feminino, de 18 para 24 por cento. Um aumento de 6 pontos depois de grande parte das mulheres se unir para demonstrar sua insatisfação com o candidato.

 Isso acontece porque, de um lado, a grande mídia simplesmente ignorou as manifestações e, por outro, houve um ataque preciso às manifestações através dos grupos de whatsapp pró-Bolsonaro. Vídeos foram editados com cenas de outras manifestações, com mulheres mostrando os seios ou quebrando imagens sacras, mas utilizadas dessa vez para desmoralizar o movimento #elenão entre as mais conservadoras.

 Além disso, Eduardo Bolsonaro veio a público logo após a manifestação e declarou: “As mulheres de direita são mais bonitas que as de esquerda. Elas não mostram os peitos e nem defecam nas ruas. As mulheres de direita têm mais higiene.” Essa declaração pode parece pueril ou simplesmente estúpida mas é feita sob medida para estimular um sentimento de repulsa para com o “outro lado”.

Isso não é nenhuma novidade. A máquina de propaganda do nazismo alemão associava os judeus a ratos. O discurso era que os judeus estavam infestando as cidades alemãs como os ratos. Esse é um discurso que associa o sentimento de repulsa e nojo a uma determinada população, o que faz com que o indivíduo queira se identificar com o lado “limpo” da história. Daí os 6 por cento das mulheres que passaram a se identificar com o Bolsonaro.

 Agora é possível compreender porque é tão difícil usar argumentos racionais para dialogar com um eleitor do Bolsonaro? Agora você se dá conta do nível de manipulação emocional a que seus amigos e familiares estão expostos? Então a pergunta é: “o que fazer?”

 Não adiante confrontá-los e acusá-los de massa de manobra. Isso só vai fazer com que eles se fechem e classifiquem você como um inimigo “do outro lado”. Ser chamado de manipulado pode ser interpretado como ser chamado de burro, o que só vai gerar uma troca de insultos improdutiva.

 Tenha empatia. Essas pessoas não são tolas ou malvadas; elas estão tendo suas emoções manipuladas e estão submetidas a uma percepção da realidade bastante diferente da sua.

Tente trazê-las aos poucos para a razão. Não ofereça seus argumentos racionais logo de cara, eles não vão funcionar com essas pessoas. A única maneira de mudar seu pensamento é fazer com que tais pessoas percebam sozinhas que não há argumentos que fundamentem suas crenças e as notícias veiculadas de maneira falsa.

 Isso só pode ser feito com uma grande dose de paciência e de escuta. Peça para que a pessoa defenda racionalmente suas decisões políticas. Esteja aberto para ouvi-la, mas continue sempre perguntando mais e mais, até ela perceber que chegou num ponto em que não tem argumentos para responder.

 Pergunte, por exemplo: “Por que você decidiu por esse candidato? Por que você acha que ele vai mudar as coisas? Você acha que ele está preparado? Você conhece as propostas dele? Conhece o histórico dele como político? Quais realizações ele fez antes que você aprova?”

 Em muitos casos, a pessoa tentará mudar o discurso para falar mal de um outro partido ou do movimento feminista. Tal estratégia é esperada porque eles foram programados para achar que isso representa “o outro lado”, os inimigos a combater.

Nesse caso, o caminho continua o mesmo: tentar trazer a pessoa para sua própria razão: “Por que você acha que esse partido é tão ruim assim? Sua vida melhorou ou piorou quando esse partido estava no poder? Como você conhece o movimento feminista? Você já participou de alguma reunião feminista ou conhece alguém envolvido nessa luta?”

 Se perceber que a pessoa não está pronta para debater, simplesmente retire-se da discussão. Não agrida ou nem ofenda, comportamento que radicalizaria o pensamento de “somos nós contra eles”. Tenha em mente que os discursos que essa pessoa acredita foram incutidos nela de maneira que houvesse uma verdadeira identificação emocional, se tornando uma espécie de segunda identidade. Não é de uma hora pra outra que se muda algo assim.

 Duas das mais importantes democracias do mundo já foram hackeadas utilizando tais técnicas de manipulação. O alvo atual é o nosso país, com uma das mais importantes democracias do mundo. Não vamos deixar que essas forças nos joguem uns contra os outros, rasgando nosso tecido social de uma maneira irrecuperável.

  P.S.: Por favor, pesquise extensamente sobre todo e qualquer assunto que expus aqui, e sobre o qual você esteja em dúvida. Não sou de nenhum partido. Sou filósofo e, como filósofo, me interesso pela verdade, pela ética e pelo verdadeiro debate de ideias.

A arte é o nosso maior sentido. O corpo humano só existe enquanto se sente pela arte.

Eles não são imbecis, ELES SÃO PERVERSOS. Há muitos perversos fora do armário que se aproveitaram da "onda" para satisfazerem seus desejos irracionais. Não há racionalidade é puro gozo incubado. Eles se aprazem com o esvaziamento do outro, com sua desumanização, com seu pagamento. São muitos sim e derrubam ao chão qualquer esforço humanitário. Claro que há quem seja absolutamente neurótico e medroso por isso. Por pura fraqueza, há os que se filiam por medo achando que podem estar salvos de baixo das asas de um dragão desses. Nosso maior inimigo é o vazio de humanidade, a desumanização pensada por Saramago, por Freud, por Nietzsche e por tantos e tantos outros. Somos uma imitação de máquinas que já não sabe sublimar. A arte não tem mais sentido para muitos porque eles perderam a percepção, a sensibilidade estética profundamente humana. Como revogar esse caos? Sensibilizar! Que trabalho platônico teremos pela frente! Que trabalho titânico! Será um tempo, embora a democracia vença temporariamente, de lutas diárias. Esmorecer, jamais! Mas que a arte nos comova e nos liberte desse mal durante esse tempo. A maior perda sem dúvida é se tornar um deles, como diria Darcy Ribeiro.

sexta-feira, 28 de setembro de 2018

É uma falta tão exagerada de um "pai" que a população se agarra nessas fantasias. É como se esse "super-herói" brabo e resistente representasse a própria fraqueza da população, que assim demonstra se sentir carente de autodefesa. Realmente, não temos uma autoproteção, não sabemos nos cuidar, falta-nos a capacidade de nos defender. Somos uma nação tão carente que se agarra nas pernas desses "salvadores da pátria". Eles sabem da nossa fraqueza, eles quem nos fizeram assim: povo carente, necessitado de si. O engano da nossa visão é a própria ironia no espelho. A gente se olha e não reflete sobre quem de fato somos. A nossa grandeza de povo está esvaziada pelo poder daqueles que nos querem fracos para que eles possam dominar tudo.
 o incrível é que padre Antônio Vieira (séc. XVII) já falava sobre isso. Em um sermão entitulado "Bom ladrão" ele exatamente afirma a lógica da teologia clássica sobre a justiça e é enfático "uma tropa de varas e ministros de justiça levavam a enforcar uns ladrões, e começou a bradar: - Lá vão os ladrões grandes a enforcar os pequenos". Nossa "justiça" se comporta como há muitos séculos a concepção de "direito" se estabelece: ao que mais poder tiver, a segurança; ao que menos puder ter, a sentença. Uma estrutura de poder complexa e destrutiva, como diria Capitão Nascimento (Tropa de Elite) "O sistema é foda!". Foucault não conseguiu ser tão certeiro, em poucas palavras se resume o capitalismo.

quinta-feira, 20 de setembro de 2018

Hoje estou decidindo, devagarinho, acabar com uma ilusão de estimação que venho cultivando como se fosse algo bom, MAS NÃO É! Não é bom mendigar beijo, implorar abraço, suplicar carinhos. O que nao é espontâneo, nao pode ser fabricado, nem inventado, nem ilusionisticamente vislumbrado, amar tem que ser natural.
Eu ando mendigando, suplicando, inventando amor onde há apenas parceria. A parceria é fundamental para um negócio, para um trabalho em grupo, mas ela não é boa para um relacionamento afetivo. Afeto tem que ter verdadeira vontade, desejo simples e livre. Não há como amar em liberdade condicional. Hora livre para receber, mas aprisionado em si quando é chamado a dar. Está na hora de se levantar da mesa porque o amor não foi servido. Está na hora de seguir em frente e dizer mais uma vez "adeus".
Essa é a boa hora em que a vida se fortalece junto com toda dor abraçada e em seguida colocada em minha pequenina bagagem. Vou levar daqui o jeito gostoso de amar sem nenhuma medida e sem quadratura. É a hora exata de seguir para outra viagem. Quem sabe se encontre amor, mais uma vez, seria a maior benção dessa vida. Mas, se não houver esse encontro, haverá outras dádivas dentre elas a felicidade, a dignidade, a lealdade, a autoestima, o autocuidado, o autoconhecimento, a alegria do saber sobre a experiência sobre existir em demasia. Quero ser feliz e viver cada dia.

sábado, 15 de setembro de 2018

ELEIÇÕES, SABATINAS E ALGUNS PENSAMENTO AÍ...

Fernando Haddad deu um baile hoje (14), no Jornal Nacional!

Seu brilhante desempenho me evocou lembranças. Fiz uma campanha para governador de São Paulo (PSOL), em 2014, que tem residual importância histórica.

Assistindo o petista - em situação mil vezes mais importante e dramática - me voltaram sensações que talvez todo candidato em desafios semelhantes tenha. Digo dos candidatos que não rezam pela cartilha dominante.

Montamos há quatro anos uma pequena e dedicada equipe, com a qual aprendi muito. Entre eles estavam Francisvaldo Mendes de Souza, Denise Simeão , Edson Carneiro Índio e Pedro Ekman. Bia Barbosa e Cláudio Camargo também deram apoio fundamental

A primeira sensação que se tem em debates desse tipo é uma solidão quase absoluta.

A SOLIDÃO - Você está num estúdio, com jornalistas à sua frente que - quase sempre - querem apenas jogar cascas de banana esperando você fazer um papelão. Ao entrar e se sentar, você está só - sozinho! - e com uma responsabilidade monumental nos ombros. Se vacilar ou falar bobagem, dezenas e dezenas de camaradas, candidatas e candidatos que dão o sangue para construir uma ideia, um projeto e um partido podem ser rejeitados nas ruas e nas urnas. Vale uma analogia.

Fui nadador desde a adolescência e participei de centenas de campeonatos. É talvez o esporte mais solitário existente. Quando você é chamado para a borda da piscina, posta-se atrás da baliza e aguarda o apito do juiz para subir. Entre o segundo silvo, para se abaixar, e o tiro de largada, passa-se no máximo um segundo. Nesse microtempo, você olha cinquenta metros de água adiante e a solidão é parecida. É você com você. Uma saída malfeita, uma entrada torta na água ou uma virada ruim, pronto! Está comprometido não apenas seu desempenho, mas a pontuação de toda a equipe.

A OFENSIVA - A segunda sensação nos debates é que você está num jogo de esperteza, muito mais do que numa troca de idéias. Se vacilar, dança. Não pode baixar a guarda em momento algum  É algo extremamente tenso.

Haddad começou nervoso e foi se assenhorando do ambiente. É essencial nunca deixar a bancada tomar a ofensiva. Ou seja, as perguntas não podem lhe pautar. Há que virar o jogo e tentar você definir o ritmo da batalha. Como dizia Brizola, "Estamos numa democracia, você pergunta o que quiser e eu respondo o que quero".

Nesse ponto, eu fazia outra comparação. "Estou numa guerra e ninguém aqui é meu amigo", pensava. E me vinha à mente uma longa conversa mantida há exatas duas décadas com M. Roger Brochet, um francês de 80 anos, casado com Mme. Suzanne, uma extrovertida e divertida professora de francês, dois anos mais velha que ele. Moravam ambos numa casinha com quintal ao fundo, no bairro de Perdizes em São Paulo, desde o final dos anos 1940, quando chegaram ao Brasil.

M. Roger me fascinava. Fora piloto de caça na II Guerra Mundial. Com a França ocupava, integrou-se a uma esquadrilha de Spitfires da RAF, sediada em Nice. Sua história nada tinha de romântica: dos 72 pilotos, apenas ele e outro conterrâneo sobreviveram. Falava com amargor de episódios que eu via como heroicos.

Duas frases grudaram na minha cabeça. A primeira é: "Nunca deixe o inimigo ficar em sua cauda. A possibilidade de ser atingido é de 110%". A segunda era: "Quando você o tiver na alça de mira, não vacile, abra fogo. Em combate não existe segunda chance".

Nos debates, a analogia da solidão se completava com as palavras de M. Roger, que em gestos contidos desenhava no ar manobras realizadas mais de meio século antes.

JUNTO E MISTURADO - Não permita que assumam a ofensiva, quando puder, vá para cima, não os deixe pautá-lo, mentalize o tempo de fala, vá direto ao assunto, não enrole, não demonstre intimidade com quem está no estúdio. Isso repetiam meus camaradas de campanha nas reuniões preparatórias. E sobretudo, lembre-se, diziam eles, você não está conversando com quem está à sua frente. Abstraia-os. Tem de falar com quem está em casa!

Piscina, Spitfires e a paciência dos amigos se fundiam em vastas emoções e pensamentos imperfeitos. Eu ia com um frio na espinha para as emissoras. Às vezes me saia bem, às vezes malomenos.

A campanha, como disse, foi microscópica. Não quero fazer nenhuma egotrip aqui. Detesto ser cabotino.

Mas ao assistir Haddad hoje - e Boulos e Ciro em outras oportunidades -, eu me admiro com a maestria deles, embora cada um exiba um estilo. Encaram situações muito mais duras e cheias de armadilhas do que as enfrentadas por mim. Tenho enorme orgulho em ver gente do nosso lado dando show de arte e competência!

P. S. Disso tudo, só uma tristeza fica. Nunca mais vi M. Roger. Não havia celulares em profusão há vinte anos. Quando, tempos depois, busquei a casinha em Perdizes, um edifício tinha lhe tomado o lugar.

M. Roger Brochet, herói da luta contra o nazismo, faria cem anos neste 2018. Sei lá, tem tudo a ver com o que vivemos...

Gilberto Maringoni

segunda-feira, 10 de setembro de 2018

Murar o Medo
O medo foi um dos meus primeiros mestres. Antes de ganhar confiança em celestiais criaturas, aprendi a temer monstros, fantasmas e demônios. Os anjos, quando chegaram, já era para me guardarem. Os anjos atuavam como uma espécie de agentes de segurança privada das almas.

Nem sempre os que me protegiam sabiam da diferença entre sentimento e realidade. Isso acontecia, por exemplo, quando me ensinavam a recear os desconhecidos. Na realidade, a maior parte da violência contra as crianças sempre foi praticada, não por estranhos, mas por parentes e conhecidos. Os fantasmas que serviam na minha infância reproduziam esse velho engano de que estamos mais seguros em ambiente que reconhecemos.

Os meus anjos da guarda tinham a ingenuidade de acreditar que eu estaria mais protegido apenas por não me aventurar para além da fronteira da minha língua, da minha cultura e do meu território. O medo foi, afinal, o mestre que mais me fez desaprender. Quando deixei a minha casa natal, uma invisível mão roubava-me a coragem de viver e a audácia de ser eu mesmo. No horizonte, vislumbravam-se mais muros do que estradas.

Nessa altura algo me sugeria o seguinte: que há, neste mundo, mais medo de coisas más do que coisas más propriamente ditas.

No Moçambique colonial em que nasci e cresci, a narrativa do medo tinha um invejável castinginternacional. Os chineses que comiam crianças, os chamados terroristas que lutavam pela independência e um ateu barbudo com um nome alemão. Esses fantasmas tiveram o fim de todos os fantasmas: morreram quando morreu o medo.

Os chineses abriram restaurantes à nossa porta, os ditos terroristas são hoje governantes respeitáveis e Karl Marx, o ateu barbudo, é um simpático avô que não deixou descendência. O preço dessa construção de terror foi, no entanto, trágico para o continente africano. Em nome da luta contra o comunismo, cometeram-se as mais indizíveis barbaridades.

Em nome da segurança mundial, foram colocados e conservados no poder alguns dos ditadores mais sanguinários de toda a história. A mais grave dessa longa herança de intervenção externa é a facilidade com que as elites africanas continuam a culpar os outros pelos seus próprios fracassos.

A Guerra Fria esfriou, mas o maniqueísmo que a sustinha não desarmou, inventando rapidamente outras geografias do medo: a Oriente e a Ocidente e, por que se trata de entidades demoníacas, não bastam os seculares meios de governação. Precisamos de intervenção com legitimidade divina.

O que era ideologia passou a ser crença. O que era política, tornou-se religião. O que era religião, passou a ser estratégia de poder.

Para fabricar armas, é preciso fabricar inimigos. Para produzir inimigos, é imperioso sustentar fantasmas.

A manutenção desse alvoroço requer um dispendioso aparato e um batalhão de especialistas que, em segredo, tomam decisões em nosso nome. Eis o que nos dizem: para superarmos as ameaças domésticas, precisamos de mais polícia, mais prisões, mais segurança privada e menos privacidade. Para enfrentarmos as ameaças globais, precisamos de mais exércitos, mais serviços secretos e a suspensão temporária da nossa cidadania.

Todos sabemos que o caminho verdadeiro tem que ser outro. Todos sabemos que esse outro caminho poderia começar, por exemplo, pelo desejo de conhecermos melhor esses que, de um e de outro lado, aprendemos a chamar de “eles”. Aos adversários políticos e militares juntam-se agora o clima, a demografia e as epidemias. O sentimento que se criou é o seguinte: a realidade é perigosa, a natureza é traiçoeira e a humanidade, imprevisível.

Vivemos como cidadãos, e como espécie, em permanente situação de emergência. Como em qualquer outro estado de sítio, as liberdades individuais devem ser contidas, a privacidade pode ser invadida e a racionalidade deve ser suspensa. Todas essas restrições servem para que não sejam feitas perguntas, como por exemplo, estas: por que motivo a crise financeira não atingiu a indústria do armamento? Por que motivo se gastou, apenas no ano passado, um trilhão e meio de dólares em armamento militar? Por que razão os que hoje tentam proteger os civis na Líbia são exatamente os que mais armas venderam ao regime do coronel Kadafi? Por que motivo se realizam mais seminários sobre segurança do que sobre justiça? Se queremos resolver e não apenas discutir a segurança mundial, teremos que enfrentar ameaças bem reais e urgentes.

Há uma arma de destruição massiva que está sendo usada todos os dias, em todo o mundo, sem que seja preciso o pretexto da guerra.

Essa arma chama-se fome.

Em pleno século XXI, um em cada seis seres humanos passa fome. O custo para superar a fome mundial seria uma fração muito pequena do que se gasta em armamento. A fome será, sem dúvida, a maior causa de insegurança do nosso tempo.

Mencionarei ainda uma outra silenciada violência: em todo o mundo, uma em cada três mulheres foi — ou será — vítima de violência física ou sexual durante o seu tempo de vida. É verdade que, sobre uma grande parte do nosso planeta, pesa uma condenação antecipada pelo fato simples de serem mulheres.

A nossa indignação, porém, é bem menor que o medo. Sem darmos conta, fomos convertidos em soldados de um exército sem nome e, como militares sem farda, deixamos de questionar. Deixamos de fazer perguntas e discutir razões. As questões de ética são esquecidas, porque está provada a barbaridade dos outros e, porque estamos em guerra, não temos que fazer prova de coerência, nem de ética nem de legalidade.

É sintomático que a única construção humana que pode ser vista do espaço seja uma muralha. A Grande Muralha foi erguida para proteger a China das guerras e das invasões. A Muralha não evitou conflitos nem parou os invasores. Possivelmente morreram mais chineses construindo a muralha do que vítimas das invasões que realmente aconteceram. Diz-se que alguns trabalhadores que morreram foram emparedados na sua própria construção.

Esses corpos convertidos em muro e pedra são uma metáfora do quanto o medo nos pode aprisionar.

Há muros que separam nações, há muros que dividem pobres e ricos, mas não há hoje, no mundo um muro, que separe os que têm medo dos que não têm medo. Sob as mesmas nuvens cinzentas vivemos todos nós, do sul e do norte, do ocidente e do oriente. Citarei Eduardo Galeano acerca disto, que é o medo global, e dizer:

“Os que trabalham têm medo de perder o trabalho; os que não trabalham têm medo de nunca encontrar trabalho; quando não têm medo da fome têm medo da comida; os civis têm medo dos militares; os militares têm medo da falta de armas e as armas têm medo da falta de guerras.

E, se calhar, acrescento agora eu: há quem tenha medo que o medo acabe.
(Mia Couto)

sexta-feira, 7 de setembro de 2018

você me
de
ses
tru
tu
ra

você me dá aquela sensação
de poder ser eu mesma
sem armaduras
e nossos olhares são capazes
de causar um incêndio
onde tudo era faísca
come on, baby
que eu voltei até a ser clichê
dizendo que sim quando você
me chama pra visitar
todos esses universos
que cê carrega dentro de si

eu sou maravilhosa sozinha
mas com você sou o dia todo
poesia

eu quero conversar contigo
por muitas madrugadas
ouvir sobre o que te faz leve e o que te apavora
ouvir sobre quando você foge
e quando você se demora
quais são os discos que te curam
quais são as músicas que
te recomeçam
por onde você viajou
quais os gostos que cê guarda
nesse sorriso que soltou

eu sei que você também tem vontade
de me ouvir um tanto assim
tem partes de você que se reconhecem em mim
cê não sabe disfarçar não
nossas histórias se esbarraram do nada
ou será que a loucura da vida
já tinha a intenção?

eu to na sua
então pode perguntar
sobre meus livros, minhas constelações
minhas inseguranças
eu te conto sobre todas as minhas revoluções
minhas andanças

se quiser me descobrir com a língua
não tem erro, cê sabe por onde começar
e se você quer me ver dançar
é só escolher o som

cê sabe que se eu te chamar
cê vai querer ficar
não tem jeito
eu sou esse motim
no seu peito
e eu gosto de caminhar
com quem tem coragem
de viver o que sente
e aí, cê vem?

ryane leão

#ondejazzmeucoracao
 Desculpem, mas estou cansada dessw argumento demagógico e falacioso. Ninguém aqui está falando de respeito sobre este ou aquele! Eu estou exatamente demarcando o lugar de fala de quem realmente precisa de cuidado e proteção, veja bem, porque NÃO TEM! Todos os dias morre a nossa gente negra, nós mulheres, crianças, gente absolutamente desfavorecida por diversos fatores e NINGUÉM defende eles antes de acontecer a tragédia. Eu fico muito triste de observar tanta comoção para um político, todo protegido, inclusive para incitar violência contra pessoas vulneráveis (como nós mulheres em caso de estupro) e não vejo a mesma guerra para combater a violência incontrolável contra quem realmente necessita porque - repito - não tem como se defender. Eu não estou dizendo " bem feito", eu não sou quem diz "mereceu isso" (como já ouvi o próprio energúmeno dizer sobre mulheres estupradas e gente torturada), eu não estou no mesmo lugar de fala dele e não tenho porquê para pedir desculpa. Não tenho que pedir desculpa porque não incito a violência. Não tenho que fazer a mea-culpa porque sou ABSOLUTAMENTE CONTRA A FORMA DELE DE ENXERGAR O MUNDO E PRINCIPALMENTE AS MULHERES E  AS MINORIAS. Eu não vou pedir desculpas para ninguém porque eu não faço apologia à agressão de nenhuma forma. Meu argumento sobre mulheres violentadas e mortas é sobre QUEM PRECISA DE MAIS CUIDADO E PROTEÇÃO. E eu te pergunto: quem precisa realmente de cuidado, proteção e defesa???? Deixe a mídia comover a quem ela quer enganar, mas nenhuma demagogia me seduz! Não há demagogia em mim. Defendo as nossas vidas porque elas também importam e inclusive agora morreu mais uma criança, ontem foram centenas de periféricos e hoje são muitas as mulheres estupradas a cada 11 minutos! Eu quero ver a minha gente cuidada, não quero nem saber de gente que tem todo cuidado e apoio e ainda faz pouco da nossa cara.

quinta-feira, 6 de setembro de 2018

Sinceramente, não quero NEM SABER DESSE TAL. Para mim, quanto mais vcs ficam com pena mais ele entra na mentalidade fraca da população viciada em novela. É muita chorumela pra pouco velório! Gente, ninguém morreu neste caso específico, ao contrário está super bem trado e vai ganhar flores de boa noite. Mas continua sendo machista, homofóbico, transfóbico, racista, xenófobo!!!! Parem de se preocupar com pouca merda! Tem gente morrendo agora na favela, mais um menino negro, mais uma moça estuprada que estava chegando do trabalho! Só parem! Menos... Beeeeeeeeeeeem menos!!! Bora se preocupar com o que REALMENTE É PRA SE PREOCUPAR!
RESPOSTA A UM ARGUMENTO FALACIOSO...
 desculpe me intrometer no seu comentário, mas é muita demagogia usar o discurso reverso tentando culpar as pessoas que estão claramente destacando onde o ódio pode chegar. Vou tentar te esclarecer sobre o seguinte: quem deixa claro o posicionamento contra violência, não quer a violência em nenhuma hipótese, e - enfatize-se aqui - não irá defender ou estimular ódio e agressão física. Quando uma pessoa é claramente e irrevogavelmente contra a violência (em qualquer das suas instâncias e dos seus espectros), ela jamais incitará a violência, ela ao contrário refuta a violência através de argumentos fatídicos (desta feita, indiscutivelmente cabais). Não aceito a atitude absurdamente demagógica daqueles que se dizem radicalmente contra a violência mesmo em caso de desafetos, mas praticam essa violência simbólica por meio de discurso reverso. Ou seja, dizer que há racismo em discursos de negros "contra brancos", de que as mulheres misândricas são um perigo, ou outras falácias, devem ser evitadas. Não há porquê para se pensar que estamos culpando a vítima, ninguém disse que ele estava pedindo para tomar uma facada. Ninguém disse nesta postagem que ele "mereceu". Note que este é o discurso falacioso do próprio indivíduo sobre vítimas frequentes na sociedade. Aqui ninguém está culpando a vítima, isso é discurso e argumento falacioso. Não recorra à violência simbólica, ela não passa despercebida! Somos mulheres que possuem opinião absolutamente clara sobre a violência! Nenhuma a menos! Queremos reduzir a violência em todas as suas nuances, mesmo quando ela se dá de forma sutil, mas cínica!

domingo, 2 de setembro de 2018

Estamos vivendo tempos extremos no Brasil, onde candidatos extremamente criminosos por suas posturas racistas, homofóbicas, machistas e xenófobas possuem todo apoio da "alta sociedade" a fim de destituir a democracia. Está difícil, desanimador e parece um rolo compressor. Não é sobre um candidato, é sobre a democracia que está vacilante. Creio que iremos enfrentar essa árdua batalha, mas não perderemos a guerra. A guerra aqui é contra o terrorismo neoliberal que está agindo com todo seu aparato bélico, com todo o seu aparelhamento ideológico. Estamos sitiados, não somente por Lula. Mas ele é o exemplo mais claro, sem dúvida. Independente de quem quer ou não votar neste ou naquele candidato, o Brasil está dando uma aula de tirania☹️

Dor de ser mulher

As pessoas não acreditam mesmo que nós mostremos provas. Não adianta, vc é mulher e, por esse único argumento machista, já está errada. Infelizmente, os agressores adoram nos ver amedrontadas, entristecida, julgadas, apedrejadas no lugar deles, destruídas em nossas condições emocionais. Quanto mais eles sabem do nosso sofrimento mais eles se alimentam. Eu fico muito, muito mesmo, mal por ver que isso vai ser carregado por você por anos, assim como será em mim. Existem feridas que nunca deixam de doer, isso é o nosso corpo nos lembrando que devemos sempre e cada vez mais nos defender. Existem dores que nunca saram, mesmo sem nenhuma cicatriz aparente mas elas estão latentes. Como diz Roberto "Eu sei que as cicatrizes falam
Mas as palavras calam
O que eu não me esqueci", as palavras silenciam diante de dores irremediáveis. São nossas e de mais ninguém, ninguém sabe o que de fato doeu, como doeu, porque dói ainda e em que lugar essa dor ficou guardada (sendo que nós mesmas não podemos arrancar). Não estou falando de amor, não é romantismo. É a mais dura e cruel realidade. Por isso, saiba que sua dor é só sua, mas somos muitas mulheres doloridas por todo o mundo. E não estamos sós. Enquanto sua dor arder, aqui eu na minha dor sei da sua valentia, da sua persistência em sobreviver, da alegria em se ver mais livre dessa dor a cada dia, para que ela NUNCA TE DOMINE. Você é uma mulher e a sua natureza é de coragem e força. Esse inimigo não te vence mais. Sigamos juntas!

domingo, 26 de agosto de 2018

E eu bobamente achando que foi coisa do Brasil não ter uma boa formação de leitores. Claro, sendo eu apenas uma professora de língua portuguesa, formada em letras naturalmente, não tenho como opinar diante de fatos tão mais claros do que essa minha medonha conjectura. Além do "exército" aparelhado de não leitores, que sustenta a televisão sem nenhum prejuízo de valores ao contrário certo lucro sensível aos olhos, eu ainda poderia elencar a falta de interesse em assuntos variados, em fatos apropriados historicamente pertinentes, ou mesmo o elevado custo do "capital intelectual" - construído feito pirâmides por nosso inocente sistema neoliberalista. De tudo, me valeu esta pertinente leitura, que a mim me faço, porque nessas palavras não me posso apoiar sem serenas dúvidas.

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Textos cruéis demais para serem lidos rapidamente (Leitura diária que amo!!!)

eu sempre te disse que sou intensa
e foi com toda a minha intensidade que vivi a nossa relação
em cada um dos dias que estivemos juntos.

eu fiz questão de demonstrar tudo que eu sentia
descobrir cada detalhe sobre você
e te contar tudo que eu considerava mais importante sobre mim.

eu estive do seu lado em todos os seus momentos mais sombrios
mais apavorantes, mais assustadores
mas também te vi crescer
e dividi contigo todos os seus sorrisos mais bonitos
pelas conquistas mais admiráveis.

eu estive aqui pra tudo que você precisou
escutei todos os seus desabafos
abri o meu coração e te deixei ver
até mesmo as minhas inseguranças mais fortes
e medos mais desesperadores.

eu te amei com tudo que eu tinha
com tudo que eu era
e por isso foi tão difícil me desprender
e entender que eu poderia voltar a viver sem você
e que você poderia deixar de fazer parte da minha rotina
(ou ao menos continuar sendo parte dela
mas de forma completamente diferente).

eu fui intensa, como sempre
e isso fez com que cada momento feliz fosse ainda mais marcante
mas também fez com que as dores
me fizessem pensar que eu sequer conseguiria voltar a estar bem.

mas, meu bem, eu consegui
você conseguiu
continuamos vivos
e cada vez mais fortes.

e que orgulho que eu tenho da gente
por essa vontade de seguir
ainda que sós.

domingo, 5 de agosto de 2018

Meia ausência basta...sobre ela

"me confirmei que agora e não depois
vou ter que seguir em frente...
Preocupa, não...que eu não vou bater no seu portão
Preocupa, não...que não vai ver mais o meu nome em nenhuma ligação
Preocupa, não...que eu vou tomar vergonha na cara
Preocupa, não ...pra um bom entendedor meia ausência basta" .
                     "Ausência" - Marília Mendonça

Que a ausência dela sempre foi forte e me modificou muito, nunca deixei de perceber. Hoje são fragmentos, como estilhaços que quebraram em mim. Feriu. Sou dolorida por isso. Queria sempre poder dizer que superei, mas não é verdade.
Hoje, apenas, tenho uma certeza, mesmo boba, honesta: não serei dela como eu sempre quis. Serei minha sim, mas por ela eu me compartilharia. Mas há tempo pra tudo debaixo do céu. E o tempo dela, pousou rápido demais.
Ela é uma mulher que eu não tenho como negar que eu amo. Mas nunca será minha, nem me deixaria chegar tão perto para um dia sê-lo. É uma mulher forte e valente para se deixar entregar assim. Essa é uma doação inteira que não aceita devolução nem se deixa enganar.
Ela é muito importante para mim, o suficiente para eu lhe amar a anos luz de distância. E meu tempo nunca pousou para ela. Sempre foi um vento que retira as folhas e não as repõe. Eu fui, antes dela. Passei que nem nuvem passageira.
Fui, ela foi. Embora haja nós.

quarta-feira, 20 de junho de 2018

Porque gosto de sentir ela deslizando sobre a folha que estava branca. Também gosto demais de lápis ou lapiseira, ainda mais com as pontinhas bem afinadinhas, são como um caminhar na grama sem sapato. Gosto demais de ouvir o risco fazendo música enquanto escreve uma versão da vida, que pode ser embolada e jogada fora, mas um dia já foi pensada, às vezes foi também sonhada antes de ser apenas um bolinha amassada de papel.

sábado, 9 de junho de 2018

"eu misturei tudo...eu escolhia os livros pelos títulos e não pelos autores" essa declaração é claramente uma resposta para o entrevistador despreparado que foi até Clarice. Ela está visivelmente contrariada por ser colocada em um lugar que não se enxerga, isto é, o lugar da autoria das ideias. Barthes, quando falava da morte do autor, com certeza denunciava isso. Antes do sujeito que escreve, a inscrição, a palavra. Clarice não era um ser iluminado, apenas fazia seu trabalho de escrever sobre a vida com sensibilidade e arte. A arte que reclama fama e sucesso não é a expressão estética. E Clarice diz exatamente que não tinha nem porquê para conhecer os autores já que buscava o livro, a palavra. O objeto livro e a palavra são os meios de fruição, a pessoa, o sujeito não são meios, são os próprios fins. A raiva que Clarice verbaliza é claramente um "estou com raiva de ter feito isso comigo" , talvez ter aceitado essa entrevista sobre a qual mais disse para o mesmo propósito: o de venderem a imagem do ser enigmático que ela por certo não se queria. É o humano Clarice que estava perdido, como no conto de Machado de Assis "No espelho", em que Jacobina não se enxerga por não estar usando sua máscara social. A aparência, ou a aparente figura, que sucumbi a real vivência que é recolhida à vida de cada um de nós entre os nossos, que não é pública e nada pode vendê-la. Talvez essa tenha sido uma oportunidade de resistência de uma mulher que se sentia mais usada em sua imagem como uma vitrine do que uma alma, uma alma humana quando encontra outra.

domingo, 3 de junho de 2018

A educação ainda assim pode ser uma chave para abrir a porta de muitas outras soluções. Veja bem, não se trata de dizer que a escola irá resolver tudo sozinha como se fosse um super-herói de quadrinhos. Ao contrário trata-se de mudar a lógica educacional a qual estamos submetidos. Enquanto as escolas estiverem fechando as portas, erguendo seus muros, segregando os não selecionados e escasseando seus benefícios, ela será um dos meios mais fecundos de proliferação da violência. Ainda mais quando as prisões estão de portas sempre abertas dizendo "venham a mim". Os shoppings são espaços de formação em massa de uma população com sede de saber. Saber não é conteúdo, saber não é instrumento, saber é experiência, saber está no corpo que se move e que constrói seja lá o que for. As escolas estão guardadas, seus livros, seus atores, seus conhecimentos e suas oportunidades são para os poucos que "merecem". Essa lógica é perversa e gera perversos. Solucionar essa equação está longe de ser fácil ou simples, mas por certo abrir as janelas, as grades, as portas e derrubar os muros das escolas é uma das principais formas de desconstruir esse sistema. Quando a comunidade perceber que a escola lhe pertence, que o saber é compartilhado, as portas dos presídios terão que se fechar pois ninguém mais irá querer ir para lá. A escola que abre suas asas para a comunidade é um infinito lugar de experiência, um lugar de comunicação e vivência. Educação não é transmitida como se pensa estar fazendo hoje em dia. Educação não é doença para ser transmitida. É como alimento que deve ser compartilhado. Ninguém educa ninguém, o sábio Freire já avisava. A gente é educada na mesma mesa onde se serve todo dia um pão para todos e para qualquer um sem distinção.

sexta-feira, 1 de junho de 2018

Acho estranho essa forma de combate e enfrentamento entre mulheres, não que a ausência de conflito seja possível, mas a radicalidade é também uma forma que flerta com o absurdo. Sabemos que o feminismo não começa nos livros e nem nas referências bibliográficas, ele está na nossa vivência, ele é experiência e não reflexão abstrata e filologismo político. Precisamos respeitar as diferenças se não nossas divergências nos afastarão mais ainda. Ser heterossexual, bissexual ou homossexual nunca será um opção, mas sempre precisa ser respeitada como uma identidade. Seja pela opressão patriarcal ou pela militância radical muitas somos influenciadas e isto não é legal porque converge para o ponto que realmente importa: opressão feminina. É uma repressão sexual "por coerência" ali, uma inibição comportamental pra não deixar o rolê acolá e o mundo sai do dominante (masculino) para o subordinador (masculinizante). Esse mito do super potente precisa ser ultrapassado nas questões sociais e políticas para que avancemos diante do que o feminismo em sua questão essencial impõe: direitos iguais, sem equiparações compulsórias. Ser o que se é não anda na moda, mas precisamos falar melhor sobre modismos e necessidades urgentes!

domingo, 27 de maio de 2018

A canção do senhor da guerra - ventos frios se aproximam

Hoje eu acordei com essa música, nada alegre na cabeça. Estou em uma cidade do interior do Brasil, sem TV e vendo apenas o que eu quero pela internet. Mas a minha intuição me diz que ventos ruins se aproximam do nosso país. Não será daqui a pouco, nem amanhã, nem no mês quem, mas acontecerá. Por favor, não é uma premonição é um medo racional: o povo brasileiro sedento e movido a ódio e desilusão não sabe mais se defender ou se cuidar.
É triste ver tantas senhoras, senhores, crianças, famílias, adolescentes e até mesmo jovens dizendo que querem armas nas mãos. E eu me pergunto "pra quê?", "por que nossa gente quer se armar?", "que guerra é essa que se arruma?". É uma profunda derrota guerrear, ainda mais contra a sua própria gente, contra os seus.
Brigamos, odiamos, julgamos, criticamos, bradamos ódio que só traz destruição. O nome desse senhor das guerras é um nome por trás de nossos tesouros, de nossa essência. Eles dizem "família", nós ouvimos "mata quem não é da minha". Eles dizem "amor", nós ouvimos "derruba aquilo que não for". Eles dizem "Jesus" e nós ouvimos "coloca na cruz". Eles dizem "em nome de Deus" e nós queremos adorar o senhor de toda essa guerra.
Não idolatre político, nenhum pode ser santificado, porque nem um de nós, nenhuma pessoa é santa, lembra? Não brigue com seus amigos, conhecidos e parentes por um assunto tão importante, se quiser discuta com respeito e disposição para ouvir. Não crie inimigos entre aqueles que te rodeiam porque um dia você poderá precisar da misericórdia de quem não tem mais nem pena pra olhar por você.
O senhor da guerra, já cantava Renato Russo, "não gosta de crianças", porque são elas livres para aprender coisas novas e para acreditar em outra pessoa de qualquer tamanho, idade ou raça. São as crianças que defendem a igualdade e não a democracia.
 A sua liberdade deixa de ser uma real liberdade quando atinge o outro em cheio e derruba sua liberdade. Não acredite em liberdade de comprar, de consumir, de usufruir, de expressar "sua opinião" agressiva (também conhecida como preconceito). Essa falsa liberdade é o nome que o senhor da guerra e das armas dá para o combustível que o alimenta. Não é livre quem quis matar e matou, não é livre quem quis ofender e magoou, não é livre quem quis ver sofrer e foi cruel. Isso é só maldade, não tem liberdade no ódio e na violência!
Lembre-se, se for possível: se seu candidato a presidente for alguém igual ao senhor da guerra, ele poderá te surpreender com a capacidade de ser mal que ele guarda. Ninguém consegue saber exatamente onde a maldade humana pode parar. Se o seu candidato fala em paz e em igualdade, saiba que não só o Brasil inteiro, mas a sua família será muito melhor cuidada. Não precisamos de guerras. Nosso país precisa de paz e igualdade.

A música que me acordou reflexiva hoje não é de melodia boa, mas traz uma mensagem bem clara sobre quem é realmente inimigo da nossa gente!

A Canção Do Senhor Da Guerra
Legião Urbana

"Existe alguém esperando por você
Que vai comprar a sua juventude
E convencê-lo a vencer
Mais uma guerra sem razão
Já são tantas as crianças
Com armas na mão
Mas explicam novamente que a guerra
Gera empregos, aumenta a produção
Uma guerra sempre avança a tecnologia
Mesmo sendo guerra santa
Quente, morna ou fria
Pra que exportar comida se as armas
Dão mais lucros na exportação?
Existe alguém que está contando com você
Pra lutar em seu lugar já que nessa guerra
Não é ele quem vai morrer
E quando longe de casa
Ferido e com frio
O inimigo você espera
Ele estará com outros velhos
Inventando novos jogos de guerra
Que belíssimas cenas de destruição
Não teremos mais problemas
Com a superpopulação
Veja que uniforme lindo fizemos pra você
E lembre-se sempre que:
Deus está do lado de quem vai vencer
O senhor da guerra não gosta de crianças
O senhor da guerra não gosta de crianças
O senhor da guerra não gosta de crianças
O senhor da guerra não gosta de crianças"

quinta-feira, 24 de maio de 2018

Ginecologista Sincera - página do Facebook MARAVIGOLD! SIGAM!!!

É IMPOSSÍVEL dar diagnóstico para essa moça, pro caso dela, pelo Instagram. Mas acho interessante pontuar pra todo mundo algumas probabilidades pra isso acontecer, porque de repente alguém se identifica e consegue resolver sem ajuda mesmo:

⏺️Sim, pode ser com eles. Podes ter tido o azar de pegar somente caras que acham que socar a piroca como se estivesse tentando achar o pré sal na sua vagina significa dar prazer. Ou até sabem que isso não é o que te dá prazer mas não estão nem aí pra você porque você não é importante pra eles ou porque acreditam que mulher não gosta de sexo, não goza, foi feita só pra servir pro prazer do homem, etc (sim, esses seres existem).
✔️ Resolva coordenando o sexo, dizendo pra ele ficar mais juntinho porque você não tem sarna nem nada (às vezes parece que o cara pensa que sim 😒), pra ele te abraçar e beijar mais, aí você rebola e esfrega esse clitóris nele sempre que for penetrada. Algumas mulheres preferem logo meter um DJ (esfregar os dedos) ou um vibrador no clitóris enquanto ele penetra, realmente é mais prático, mas vai do gosto de cada uma (eu, pessoalmente, prefiro uma bela sarrada!)

⏺️Sim, pode ser contigo também. Pode ser que você tenha sido educada pra achar sexo fora do casamento um pecado, por exemplo. Ou pode ter vivido uma experiência traumática que acaba te bloqueando na hora H, mesmo que você não fique lembrando dela naquele momento. Ou você pode carregar a dor de uma antepassada que foi violentada, por exemplo. Ou você pode ter a causa mais comum de disfunção sexual: ansiedade, medo de falhar ou não ser boa o suficiente na cama. Ou você pode estar com um certo grau de flacidez na musculatura do períneo e não estar sentindo todo prazer que poderia com a penetração. Existem várias possibilidades
✔️ Procure um bom terapeuta, de preferência que faça terapia sexual, além de um fisioterapeuta pélvico, pra ver se encontra algo em ti que esteja atrapalhando sua vida. E acredite sempre que sexo pode ser uma experiência maravilhosa e que você merece ter todo prazer que desejar. 💖

JS

Facebook ginecologista sincera, uma das minhas pagipág FAVORITAAAAAAS
Mulher braba é declaração de amor. Sério, para e pensa, olha o mundo como está, as pessoas estão deixando de se falar porque o outro demora para responder; ficantes deixam de ficar por simples diferenças, por uma palavra, uma frase dita ou lida de forma errada.

Mulher braba, mulher que te cobra, mulher que diz 'quero conversar contigo' é coisa rara no mercado, sabe por quê? Porque desistir tá fácil, seguir em frente, baixar o tinder, responder aquela cantada do insta, isso tudo é tão mais fácil do que ficar reclamando, do que ficar tendo que discutir a relação.

Sua garota te marca em cima? Então pode ter certeza que ela gosta MUITO de ti. Começa a se preocupar quando ela parar de mostrar que se importa, começa a se preocupar quando o silêncio dela for de decepção. Porque enquanto o silêncio dela for do  tipo 'to puta da cara' então as coisas então indo bem entre vocês. Mulher puta da cara é mulher que tenta arrumar as coisas. Agora, quando a mulher é invadida por aquela tristeza nos olhos, aí você está prestes a perdê-la.

Mulher braba é declaração de amor constante, só não fica deixando ela de lado, ouve bem o que ela diz e aprende a entender o que as reações dela significam. Elas tentam, lutam muito, mas se cansar, se ela não sentir que você realmente se importa.. aí brother... já era.

Felipe Sandrin

domingo, 20 de maio de 2018

Sexualidade feminina em questão

Que lindo ver que alguém quis compartilhar conosco sua intimidade! Muito obrigada, mulher. Às vezes, aquilo que está guardado na gente é muito útil pras outras pessoas. Eu fiquei bastante interessada no seu depoimento, não sei se eu posso dizer assim. Isso aconteceu porque fiquei pensando sobre a sexualidade e a nossa vivência mesmo em um relacionamento amoroso. Nem sempre sexo é a mais importante característica na relação com o outro, porém talvez ele possa ser uma boa experiência de conhecer o outro. E algumas vezes a gente acha que já sabe tudo e perde até o interesse pelo outro e por nós mesmos. Eu vivi isso. Perdi o interesse por mim, uma depressão me levou de mim mesma durante um tempo. Eu não sentia nenhuma vontade nem de me dar prazer. O outro que quisesse fazer isso ou que tentasse sentir prazer comigo teria uma péssima experiência, como houve várias. Eu colocava no piloto automático e ia. Nada sentia, era anestesiada. Tudo era assim. Poucas coisas me faziam me sentir. E eu me sucumbia. Tomei remédio, fiz terapia, um hipertireoidismo foi descoberto e a depressão saiu do armário! Eu precisava reconhecer que não estava tudo bem em me sentir tão nada, tão sem gosto, tão sem vontade até de viver. Fui buscar ajuda quando estava para pirar com dores em todo o corpo que me clamava para lhe ouvir. Hoje estou em tratamento. Muito melhorou e voltei a me ouvir. Tenho poucos parceiros e ainda sou bastante frígida e muito mais criteriosa, exijo muito cuidado e um olhar carinhoso a todo momento. Mas acho que as coisas vão melhorar, já me sinto e já me cuido, me dou carinho e me busco, sempre tentando fazer de mim a única que realmente ouve o meu corpo com respeito e cuidado.

segunda-feira, 7 de maio de 2018

Solidão de madrugada

Mais um poema de solidão e de noite
Pela janela de vidro negro, destemperada
Vou olhando o meu espelho bobo
Eu fixo e no olho que vejo
Desejo mesmo outro
Ele quem eu fito.

As minhas pupilas dilatadas
São apenas um pedaço desse instinto findo
Zune fino o vento na minha orelha
Arfando hálito cético
Nenhum sentido, nenhuma palavra
Apenas um nada e poeira.

Esse vão entre eu mudo
E ele quieto do outro lado na cama
Esse abismado vazio
Um corte entre o meu outro
E a mensagem nem lida
Instantes pequenos
14 quartos de horas
E a cada passo no ponteiro
Eu vejo de longe o sua ausência
Eu desconheço seu rosto
Daqui é certo estar cego
E eu fico, me finco
Há somente solidão e eu madrugada.



quinta-feira, 3 de maio de 2018

Ryane Leão Facebook

eu vou ser sincera
eu quero sempre ser sincera
contigo e comigo
eu tô um bagaço
olheira, boca seca, falta de apetite
eu ando cansada demais
minhas costas doem muito
às vezes tenho a sensação
que perdi mesmo a cabeça
mas os dias continuam
e eu vou dando um jeito
de ir com eles
você percebe que chamam a gente
de forte o tempo todo
mas esquecem que somos
carne e osso?
eu não quero ter que fugir de mim
eu não quero ter que fugir de você
eu não quero ter que fingir
que sou inabalável
desde quando se empoderar
é não cair?
conhecer as ladeiras
nem sempre evita
que a gente escorregue por lá
e estabaque a cara no chão
e tudo bem, tudo bem errar

ontem eu deitei na cama
fechei os olhos
e tentei esquecer
todos esses nomes
que moram em mim
são tantos andando aqui dentro
que fico alternando entre ser tão boa
e tão péssima nessa coisa de deixar ir
depois tentei lembrar do barulho das ondas
morar longe do mar
me murcha inteirinha
como me faz falta o desaguar
hoje eu só vou dar conta de cuidar de mim
não posso doar quando estou oca, entende?

você me chama de rainha
mas não banca o elogio
porque não reina comigo
eu amo a minha solidão
mas também preciso de abraço
de colo, de porre, de convite
de ajuda, de norte, de fé
comigo ninguém pode
ou eu é que não posso
com ninguém?

às vezes quando falo sobre desmoronar
dizem pra deixar pra lá
eu nunca vi tristeza passar
sem ser sentida
ignorar as feridas
não vai estancá-las
tem que parar, olhar
lavar, passar remédio
e soprar, não tem?
a poesia não quer dizer
que sobreviver é artístico
sobreviver dói e arranca sangue
é que as palavras tem dessas
de acalentar

não se iluda
hoje eu não vou pra fronte da luta
nem precisa me chamar
eu não desisti não
só tenho que me restaurar

então vem sentar no sofá comigo
falar besteira, fumar, beber
cozinhar alguma coisa
conversar sobre as galáxias
até seis da manhã

curar começa quando
dizemos nossas verdades.

Ryane Leão

quarta-feira, 2 de maio de 2018

Queria te dizer um confesso...
Confesso que perdi a linha
Me perdi todinha
Naquela sua forma de sossegar
Olhei pra trás e tinha um menino
Dormindo dentro das folhas de um livro
E era lindo o jeito dele de sonhar
O sono dele era bonito
Os olhos dele estavam tão fechadinhos
E eu só queria ser o sonho
Que fazia aquele sorriso tão gostoso aparecer
Ah, aquele jeito menino de dorminhocar
Era um moleque sorrindo que eu vigiava
Ele estava tão perto
Que eu podia abraçar
Mas ao mesmo tempo era de longe
Ele era distante de tudo que eu já tinha visto
Nunca sonhara com tamanha proeza
Era uma miudeza da vida
Mas eu sentia uma energia imensa
Vinha daquela maneira simpleza
Tudo que a presença dele fazia existir
E eu, confesso, olhei encantada
Fiquei perdidamente apaixonada
Pelo menino a dormir



terça-feira, 1 de maio de 2018

Nuvem, ser... céu ou seu...

Olhando as nuvens soltas no céu
Senti um imenso sentido
Um intenso desejo
Um sonho preferido
Ser seu

Senti um vento
Um sopro divino
E eu menino
Corri de dentro de mim
Fui meu

O céu era azulado
Tinha nuvens por todo lado
Eu, o céu e o vento
Ah, meu Deus
Imenso senti

Toda aquela amplidão em tudo
Era meu lugar no mundo
Eu e eu e o céu
Sem nenhum vazio
Sou eu

E olhei de lá do alto
E mesmo de tão longe
Eu vi chão
Me viu de lá a hora da chegada
Meu vão

E eu vi cair em mim
Uma realidade sem medida
Uma justa certeza
Voar tem suas fronteiras
Embora no céu

Não era só planar
Nem bastava só ventar
Tinha uma necessária queda
A liberdade estava nessa justeza
Entre mim e eu

Eu era um voador
Capaz de viver uma queda-livre?
Não podia achar a resposta
Antes de tentar quebrar a barreira
Em mim, meu

Desci até a experiência
Lhe senti todas as dores
Pude confessar medos e erros
Fui eu quem soube o limite da altura
Fui erro meu

E agora o caminho não é mais novo
Nem o sou mais um jovem pássaro
Eu, o céu e o chão
Eu seu e meu do mesmo jeito
Ser seu e ser são?

Ser de mim não me impede de estar contigo
E o meu céu é o limite para o seu chão?
Igual meu ser é o limite para o seu vão?
E seu chão é onde liberto o meu céu?
Seu céu, meu chão

Ao desamor que me fechou as portas e me fez abrir asas,

Vc não é o primeiro e não será a última pessoa a me fazer sentir assim... e esse é o meu maior presente, nem que quisessem aqueles que me desamaram conseguiriam me fazer desamar.
Eu sou dessas gentes que amam inteiramente e não há ferida que não cicatrize. O amor fez muitas marcas no meu corpo, ele escreveu assim sua essência na minha alma.
Eu sou amor da cabeça à última gota de sangue, até o último suspiro de noite e de manhã já me levanto pronta pra amar sem nenhuma medida exata. Eu amo tudo inteira e sou de amor uma desmedida infinda, essa dor um dia passa. E te olhar de frente não será nada além de um adeus honesto.
Você passará e a minha capacidade de amar nunca me basta! Quero amar todo dia da vida que me resta.
Ao desamor que me fechou a porta e me fez abrir as asas...

sexta-feira, 13 de abril de 2018

Gelo e lava

Tah tudo bem estranho aqui dentro...

Eu tô me sentindo escalando a Torre de Marfim maciço, tudo gélido e sem cor.
 Não sei por que eu me deixo aqui, não sei por que eu me abandono assim no lugar dos meus piores desatinos.
Eu tô muito mal, nunca mais tinha sentido o peito tão duro, sem nenhuma possibilidade de ar.
"não vá me bater... eu fiquei com ela"...eu ri de pronto pra não deixar o pranto me fazer enternecer. Rir é mais bruto, chorar custa caro e eu estava sentindo o maior frio da minha existência.
Cada letra do nome não dito, cada palavra não esclarecida, cada segredo feito de amor e fantasia, me deixava sem paz e sem mais.
Eu ali era lava feita num oceano glacial de asperezas. 
Ele era ali profundezas e um coração sem outro do lado igual.
Eu era calor em abraço dolorido e incolor.
Ele selvagem nevasca, despencando da torre onde ao longe se colocou.
Eu estava me sentindo defunto que acabou de ser espasmos, dores, feridas e rubor.
Ele uma estátua em plena renascença, repleta de carraras rochosas de uma beleza imensa, indolor, sem nenhum pouco de vida.
Eu fui vida.
Ele me matou.