sexta-feira, 13 de abril de 2018

Gelo e lava

Tah tudo bem estranho aqui dentro...

Eu tô me sentindo escalando a Torre de Marfim maciço, tudo gélido e sem cor.
 Não sei por que eu me deixo aqui, não sei por que eu me abandono assim no lugar dos meus piores desatinos.
Eu tô muito mal, nunca mais tinha sentido o peito tão duro, sem nenhuma possibilidade de ar.
"não vá me bater... eu fiquei com ela"...eu ri de pronto pra não deixar o pranto me fazer enternecer. Rir é mais bruto, chorar custa caro e eu estava sentindo o maior frio da minha existência.
Cada letra do nome não dito, cada palavra não esclarecida, cada segredo feito de amor e fantasia, me deixava sem paz e sem mais.
Eu ali era lava feita num oceano glacial de asperezas. 
Ele era ali profundezas e um coração sem outro do lado igual.
Eu era calor em abraço dolorido e incolor.
Ele selvagem nevasca, despencando da torre onde ao longe se colocou.
Eu estava me sentindo defunto que acabou de ser espasmos, dores, feridas e rubor.
Ele uma estátua em plena renascença, repleta de carraras rochosas de uma beleza imensa, indolor, sem nenhum pouco de vida.
Eu fui vida.
Ele me matou.

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"Quebrem as correntes dos seus pensamentos e conseguirão quebrar as correntes do corpo..." ("A História de Fernão Capelo Gaivota" BACH, 1970, p. 122/3).
Hilda Freitas, Belém/PA