A vida que é cuidada e garantida todos os dias pelo trabalho repetitivo, indispensável, impagável e vital, a vida não é produto. Por isso, muitas teorias sobre o "trabalho produtivo que gera riqueza" nunca pensaram de fato no que é a mais valioso no mundo: estar vivo.
Sabe quem estava passando o café, lavando a roupa, lavando a louça, arrumando a cama, cuidando de quem adoece em casa, fazendo a criança resistir aos primeiros dias de inteira dependência e vulnerabilidade: uma mulher.
Mulher que no mundo da super tecnologia não tem mais a cultura do cuidado como sua responsabilidade única e hoje também está frenética na fábrica, no supermercado, na indústria, na ciência, na engenharia, comprando tudo que puder, vestindo tudo que quiser e sabotando a si mesma, porque o consumo da vida também é seu negócio agora.
Na sociedade capitalista, do progresso e do bem-estar social, a casa não é mais lugar de ninguém e quem sobra é um indivíduo partindo pra violência sem afeto, sem o cuidado, sem uma educação, sem a humanidade da família, o que já foi trabalho único de mulheres em sociedades primevas.
Agora nem mais cuidar de si mesmo se sabe. O cuidado precisa ser terceirizado por um preço que não paga a conta da violência, da doença mental, das famílias sem nenhuma cultura de afeto só consumo até o último fio de vida que termina.
A vida acaba. Os produtos, chamados de riqueza, vão pro lixo antes de virarem algo que realmente importa. E parece que tem gente indo pro lixo junto com o que consome.
O trabalho primordial, o cuidado cotidiano com a vida, a casa, a comida, a limpeza, a natureza do jardim, um animal ou outro que se tenha ou que se perceba na rua, esse cuidado perdeu o valor pra muita gente que tem celular, livro, vestuário e coleciona produtos. O que não tem preço não tem valor na visão do mundo capitalista. E tem muita gente que se esqueceu que o capitalismo destrói antes de tudo a humanidade de si.
O consumo do produto exaurido é o consumo de si. E a vida acaba. O trabalho mais importante do mundo deveria ter mais valor para as pessoas e não deveríamos achar que o cuidado doméstico é inferior a qualquer outra atividade humana vital. É como respirar. Quando o trabalho doméstico acaba é porque a vida acabou ali.
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"Quebrem as correntes dos seus pensamentos e conseguirão quebrar as correntes do corpo..." ("A História de Fernão Capelo Gaivota" BACH, 1970, p. 122/3).
Hilda Freitas, Belém/PA