sexta-feira, 29 de março de 2019

CEDO OU TARDE EU IA TRADUZIR A ABERTURA DA ODISSEIA.

O homem conta-me, Musa, o multimodal que por muitos
males passou, arrasando a santa muralha de Troia,
vendo e sabendo de muitas cidades e mentes humanas,
muitas dores sofrendo no mar e dentro do peito,
ao proteger seu alento e o retorno de seus companheiros,
sem conseguir salvá-los, por mais que assim desejasse:
pois se perderam pela própria perversidade,
tão pueris que comeram o gado do Sol Hiperônio,
e este por isso então lhes tomou o dia da volta.
Deusa filha de Zeus, começa por um desses pontos.

 Ἄνδρα μοι ἔννεπε, Μοῦσα, πολύτροπον, ὃς μάλα πολλὰ
πλάγχθη, ἐπεὶ Τροίης ἱερὸν πτολίεθρον ἔπερσε·
πολλῶν δ' ἀνθρώπων ἴδεν ἄστεα καὶ νόον ἔγνω,
πολλὰ δ' ὅ γ' ἐν πόντῳ πάθεν ἄλγεα ὃν κατὰ θυμόν,
ἀρνύμενος ἥν τε ψυχὴν καὶ νόστον ἑταίρων.
ἀλλ' οὐδ' ὧς ἑτάρους ἐρρύσατο, ἱέμενός περ·
αὐτῶν γὰρ σφετέρῃσιν ἀτασθαλίῃσιν ὄλοντο,
νήπιοι, οἳ κατὰ βοῦς Ὑπερίονος Ἠελίοιο
ἤσθιον· αὐτὰρ ὁ τοῖσιν ἀφείλετο νόστιμον ἦμαρ.
τῶν ἁμόθεν γε, θεά, θύγατερ Διός, εἰπὲ καὶ ἡμῖν.


Tradução de um trecho da ODISSEIA por professor Guilherme Gontijo Flores 😱😱😱😱😍😍😍💙💜💙💜💖💖💖

quarta-feira, 27 de março de 2019

Um dia eu peguei o que eu não tinha e parti. Ir embora sem nada é mais fácil porque é só seguir. Estou em frente não porque deixei, larguei, abandonei ou sai. Não. Eu desanimei, desistir assim é só colocar um pé na frente e o outro logo depois...
Eu não quero voltar para onde estive. Não quero mais continuar à deriva no mar da vida, um oceano para mergulhar...e eu estava olhando os peixes sequinha. Agora eu vou pular. Quero sentir o mar aberto fazer meus olhos lacrimajarem de verdade. Chorei olhando os peixes de um aquário, podendo nadar com as vidas marinhas mais loucas sem nem saber aonde iremos chegar. Mas vamos juntos, eu e esses seres todos de dentro do meu universo.
Aos que estão no lugar de onde eu segui, deixo a amizade de portas, janelas e braços abertos. Eu sei que ser amor é aprender antes de tudo compartilhar. E vamos partilhar novas histórias, novidades e os amores que se aproximaram de nossas longas conversas agora em horas marcadas. O relógio é um aliado de pessoas descontroladas e controvérsias como eu sou. E vai me dizer o que fazer na hora certa da chegada e da revoada.
Hoje é um dia de fazer a vida valer a pena.
Sou, desde garoto, um sujeito lento. Rápido no pensar, lá isso eu sou, mas muito lento no agir. Quem gosta de mim diz, com benevolência, que eu tenho um tempo próprio de fazeção das coisas. Deve que tenho mesmo. Pelo sim, pelo não, adotei como um dos meus lemas o mineiríssimo "Festina lente" ("Apressa-te lentamente") dos latinos, que me permite viver sem culpa uma vida em que lavar e pôr para secar a roupa, observar o movimento dos calangos no quintal ou o voo das andorinhas sobre a minha morada são etapas do dia tão importantes quanto escrever mais algumas páginas do livro de memórias ou terminar de preparar a oficina que oferecerei neste fim de semana em São Paulo. Junto à lentidão (talvez a marca maior do meu temperamento pessoal) a opção pela frugalidade. Fazer do pouco algo que perdure, quem sabe alguma alegria para sempre: isto é, sim, comigo. Sem pressa nenhuma. Porque, além de já ser lento de nascença, aprendi a valorizar ainda mais a lentidão desde que li pela primeira vez, logo que foi publicado, este primoroso ensaio do geógrafo-pensador Milton Santos que volta e meia eu reposto aqui. "Vos desejo uma excelente viagem" - faço minhas as palavras grafadas por Bispo do Rosário num estandarte - pelo texto do professor Santos. Terei muito gosto em saber, à noite, se quiserem me contar, que o dia de hoje foi para vocês agradavelmente lento.

terça-feira, 26 de março de 2019

Texto lindo... página do Facebook "Ventre feminista"

Tem um texto de uma escritora portuguesa chamada Matilde Campilho que começa assim :
 "Escute só, isto é muito sério.
Anda, escuta que isso é sério!
O mundo está tremendamente esquisito"

Sim Matilde, o mundo está tremendamente esquisito. Não há como discordar.
E o desamor anda solto. Parece até cafona gostar dos outros.
O caso é que sou cafona e gosto dos outros. E meu jeito mais sincero de demonstrar amor é através do cuidado.
Meu pai não está muito bem nos últimos tempos. Claro que isso me abala. Ele é idoso, está com a saúde frágil. Até poucos dias eu levava almoço pra ele. Agora levo almoço e janta. Ele precisa comer direitinho. E me deixa feliz poder fazer isso por ele. Alimentar alguém, pra mim, é uma forma de ofertar vida, sabe?
Hoje um dos meus cachorrinhos começou a gritar de dor. A unha da patinha tinha quebrado e entrado na carne dele. Uma dor imensa, imagino. Chamei a veterinária, ela veio e ele está bem agora. Cuidar dele e vê-lo bem me alivia o peito.
Agora há pouco eu estava na cozinha fazendo comida (sim, de novo) para meu filho que vai chegar do estágio. Ele poderia fazer a própria comida? Claro que poderia e faz na maioria das vezes. Mas eu gosto de cozinhar pra ele e ouvir ele dizer "tava uma delícia mãe! Obrigado!"
Faço porque gosto, de verdade.
Sim, o mundo está tremendamente esquisito. E a gente vai deixando de cuidar da gente, de cuidar de quem a gente ama e de aprender a receber cuidado também quando precisamos. Às vezes ninguém oferece cuidado. Eu sei. Não vivencio atualmente, mas sei porque já vivenciei.
Tô falando de cuidado aqui e sei que pode surgir alguém para levantar a lebre de " cuidar dos outros é um papel social das mulheres imposto pela sociedade patriarcal" Concordo. É sim, e eu sei que é. Mas eu GOSTO de cuidar das pessoas (já disse isso?)
Eu gosto de sentar aqui quando posso e ler os relatos de vocês. Eu gosto de poder oferecer uma palavra de conforto quando há palavras que confortam. Eu gosto de cozinhar para meu filho, para minha família, para meus amigos. Eu gosto de ouvir os problemas das minhas amigas e procurar, junto com elas, as soluções. Eu gosto de dar lembrancinhas pra quem eu amo. Eu gosto. Eu gosto de gente. Gosto de bicho. Gosto de existir e sou grata pela honra de poder ofertar um pouco de acolhimento e afeto num mundo tão, tão tremendamente esquisito.
E como diz um outro trecho do texto/poema de Matilde Campilho :
" eu acredito que exista, agora, alguém profundamente acordado. Alguém que esteja vivendo entre o intervalo tênue entre o sonho e a agilidade. Suponho que ele saiba perfeitamente que este começo de século será nosso batismo do voo para nossa persistência no amor."
Eu acho que cuidar (e receber cuidado) é uma forma bonita de persistir no amor.
Cuidem de vocês, como se vocês valessem ouro (na verdade vocês valem MESMO!) E se puderem e quiserem, cuidem, na medida do possível, de quem vocês amam. Seja bicho ou gente.
O mundo tá ruim, esquisito, doido e doído. Mas a gente pode e deve persistir no amor.
SUGESTÕES DE LEITURA, ENQUANTO ELES COMEMORAM O ANIVERSÁRIO DO INFAME GOLPE DE 1964:

A expedição Montaigne (1982), de Antonio Callado
A festa (1976), de Ivan Ângelo
Ainda estou aqui (2015), de Marcelo Rubens Paiva.
Amores exilados (1997), de Godofredo de Oliveira Neto
A noite da espera (2017), de Milton Hatoum
Antes do passado: o silêncio que vem do Araguaia (2012), de Liniane Haag Brum
A resistência (2015), de Julián Fuks
As meninas (1973), de Lygia Fagundes Telles
Avalovara (1973), de Osman Lins
A voz submersa (1984), de Salim Miguel
Azul corvo (2010), de Adriana Lisboa
Bar Don Juan (1971), de Antonio Callado
Cabo de guerra (2016), de Ivone Benedetti
Em câmara lenta (1977), de Renato Tapajós
Em liberdade (1981), de Silviano Santiago
Feliz ano velho (1982), de Marcelo Rubens Paiva
Felizes poucos (2016), de Maria José Silveira
História natural da ditadura (2006), de Teixeira Coelho
Incidente em Antares (1971), de Érico Veríssimo
K.: relato de uma busca (2011), de Bernardo Kucisnki
Lobos (1997), de Rubem Mauro Machado
Mulheres que mordem (2015), de Beatriz Leal
Não falei (2004), de Beatriz Bracher
Não verás país nenhum (1981), de Ignacio Loyola de Brandão
Nem tudo é silêncio (2010), de Sônia Regina Bischain
Nos idos de março (2014), org. de Luiz Ruffato
O indizível sentido do amor (2017), de Rosângela Vieira Rocha
O fantasma de Buñuel (2004), de Maria José Silveira
O que é isso companheiro? (1979), de Fernando Gabeira
O torturador em romaria (1986), de Heloneida Studart
Os carbonários (1980), de Alfredo Sirkis
Os pecados da tribo (1976), de José J. Veiga
Os que bebem como os cães (1975), de Assis Brasil
Os tambores silenciosos (1977), de Josué Guimarães
Os visitantes (2016), de Bernardo Kucinski
Outros cantos (2016), de Maria Valéria Rezende
Palavras cruzadas (2015), de Guiomar de Grammont
Paris – Rio – Paris (2017), de Luciana Hidalgo
Poemas do povo da noite (2017), de Pedro Tierra
Primeiro de abril (1994), de Salim Miguel
Quarup (1967), de Antonio Callado
Reflexos do baile (1977), de Antonio Callado
Retrato calado (1988), de Luiz Roberto Salinas Fortes
Silêncio na cidade (2017), de Roberto Seabra
Sombras de reis barbudos (1972), de José J. Veiga
Um romance de geração (1980), de Sérgio Sant’Anna
Volto semana que vem (2015), de Maria Pilla
Zero (1975), de Ignacio Loyola de Brandão

segunda-feira, 25 de março de 2019

Ela me surta

Não quero ser sua ex
É um preço alto demais
Apagar seus eles
do meu ouvido
Eu não aceito
Eu não me permito
Nao quero ser sua ex
Tenho duas escolhas
Duas estradas avessas
Não ser seu lamento ou
Ser sua o resto da vida
Não quero entrar na sua lista
No seu caderninho de ex
Escrito na sua memória reprimida
Tenho outros planos pra nós
Escolha se eu serei sua
Ou se serei uma webamiga
Não quero ser sua ex
Andar de mãos dadas
Pra toda vida
Ou nunca sentir o calor
Das suas mãos nas minhas ânsias
A minha insônia tem seu nome
No meu nick do chat
No meu link do WhatsApp
E se você me surta
O meu suéter
É teu abraço à noite
Quando o sono me vence
Depois de muita luta
Me diz que eu nao vou ser sua ex
E nem mais uma garota chata
Que fica "dodói" e sem graça
Com o nome da Lila toda hora
E da Lili dizendo que é
Uma super heroína da sua vida
Eu não quero ser mais uma ex sua
Me deixa fazer parte da sua eternidade
Ou me deixe fazer amor com você
Numa tarde, sem saber seu gemido
Sem saber se seu sorriso
Foi eu quem fez...
Eu não quero ser sua próxima ex
Me dá uma chance de dizer
Isso outra vez...

sábado, 23 de março de 2019

Doutora Júlia Rocha direto do Facebook

O MEU CORPO PADRÃO

Minha aparência me agrada, mas não foi sempre assim. Dois anos já se passaram desde o meu parto e nesse caminho eu já achei que minha vida havia sido estragada pela gravidez. Já tive raiva, vergonha e muita insegurança. Eu não sei o que me fez mudar. Talvez tenha sido um tanto de feminismo com mais um tanto de amor próprio conseguido a duras penas em frente ao espelho.

Hoje eu consigo admirar coisas que já odiei. Manchas de sol na pele do rosto, manchas de espinhas, olheiras,rugas. A pele que começou a aceitar o tempo. Dentes nem tão brancos, lábios grandes e grossos, nariz largo. Orelhas pequenas, testa grande. Cabelo entre o crespo e o cacheado, alguns fios quebrados, outros tantos fios bem lindos.

Meu corpo cumpre sua função de me levar ao encontro das pessoas que amo e me dar prazer. Prazer sexual, prazer no trabalho, prazer no convívio, prazer de comer, de cantar, de ser.

Peitos que amamentam não são duros nem empinados e, mesmo assim, eu os amo. Amo o prazer que me proporcionam no sexo, na amamentação e ao contemplá-los diante do espelho.

A barriga tem mais pele que antes e essa pele tem as marcas de um dos momentos mais doces e deliciosos que minhas lembranças guardam. A espera por minha filha. As estrias, a flacidez, o umbigo que ficou diferente. Tenho amor, respeito e gratidão especiais por minha barriga.

Minhas coxas não estão mais duras. Pretendo fortalecê-las em busca de mais saúde para os meus joelhos. Minhas pernas me levam e eu as agradeço diariamente por suportarem meu desejo intenso de experimentar o mundo.

Não há quem me convença a me anestesiar e me submeter a uma cirurgia para consertar o que está perfeito. Meu corpo está perfeito e nele eu carrego a minha história.

Cremes caros, tratamentos doloridos... desculpem, tenho preguiça. (Mas maquiagem eu adoro!)

Eu me sinto triste às vezes. Em alguns momentos, me sinto terrivelmente triste. Chega a doer. Vez ou outra me sinto absurdamente feliz e eufórica. Na maior parte do tempo, estou bem. Sinto-me serena, tranquila.

Não preciso medicar minhas tristezas. Elas fazem parte de mim. É também por elas que eu me amo e que outras pessoas me amam. Não quero normalizar meus sentimentos. Quero ser eu e poder sentí-los todos.

Há um enorme mercado a vender normalidade. Sem crítica, acabamos aniquilando as nossas características mais únicas e especiais para entrarmos dentro de um padrão. O peito duro e empinado, a barriga reta e sem gordura, a vulva de tal jeito, a pele, o cabelo, os pelos, as unhas, o humor, o sono, o tamanho do pênis, a grossura dos lábios... não tem fim.

Aliás, tem. O ponto final, eu coloquei. Hoje me sinto bem como sou, tranquila com a minha aparência, com meus desejos e amores. Um dia nos disseram que precisávamos refazer nosso corpo. Consertá-lo! Caso contrário, o marido iria embora! Um dia nos disseram que ele olharia para a outra mulher mais jovem na rua. E nós acreditamos! Eu mesma acreditei até ver casais se desfazendo e maridos indo embora depois da abdominoplastia e da mamoplastia que deixaram o peito empinado, a barriga reta e o corpo “correto” denovo.

Minhas descobertas se tornaram doces quando eu descobri que meu corpo despertava desejo e amor e encantamento mesmo flácido, marcado e “errado”. O medo da dor de transar depois do parto foi substituído por deliciosas experiências regadas de zelo, afeto e desejo!

Hoje eu sei e sinto que o meu corpo só deve e precisa servir a mim. Quem quiser ir embora que vá. Eu fico. Inteira. Eu não me abandono nunca mais. ❤️

terça-feira, 19 de março de 2019

Para mim, existe uma lógica de consumo na educação "bancária", como já definia Paulo Freire. Ela submete o fazer escolar ao clientelismo de satisfazer aos pais e aos alunos, o que de fato é uma inversão de valores em relação à escolarização adequada e digna. Em favor dessa clientelização, há realmente algumas tendências de escolas que "prometem" criar os filhos para os pais, que "prometem" satisfazer a fome e a sede dos alunos por sucesso e realização pessoal, que "prometem" através de profissionais multiespecializados ( "psicólogos coaching", neuropsicopedagogo em constelação familiar, etc) cuidar da saúde emocional dos filhos desses país que terceirizam a responsabilidade familiar para as escolas. Isso é realmente preocupante pelo absurdo que se promove e que possui rastros em outras práticas, por exemplo, o ensino integral no qual a escola coloca os professores para ficarem com os alunos 40hrs por semana (sendo escola integral em horário para o professor e para o aluno), a fim de retirar esses alunos das ruas, do assédio à violência do entorno de suas casas e comunidades - o que também é um absurdo. Veja que não há nessas escolas chamadas "integrais" o objetivo de compor um currículo transversal, com estímulo às artes, ao esporte e ao desenvolvimento tecnológico, por exemplo. O que há é a ocupação do tempo de professores e de seus alunos com mais aulas, mais horários de conteúdo (seja teoria e exercício) e não uma busca pela integralidade humana. O integral humano não é formado, trabalhado, explorado e pensado. É apenas uma terceirização da responsabilidade familiar ao que a escola bancária sempre se prestou, ser uma prestadora de serviço (do serviço que está sendo superficialmente demandado pelo mercado). Eu acredito que repensar o propósito da escolarização é a melhor maneira de avançar enquanto humanidade.

sexta-feira, 8 de março de 2019

Psiu, gostosa
Vem aqui
Ô linda
Foge não
Vadia
Nojenta
Vagabunda
Piranha
Bruxa
Lixo

Ô mocinha
Toma um banho
Limpa teu sangue
Eu prefiro limpa, assim
Limpa esse chão
Limpa essa louça aqui
Quero teu corpo limpo

Ô querida
Tão nervosa
Não precisa
É louca
É neurótica
Fica quietinha
Fecha a perninha
Sente como menininha

É tão frágil
É cristal
Mimo meu
Na minha estante
Calada
Muda
Silenciada

Ei, mulher
Eu tenho uma flor
Feliz dia
Sorria
Eu salvei o dia

Toma, boneca
Uma promoção de perfume
Maquiagem mais em conta
Lingerie na promoção
É teu dia, bonita!

Tá com frescura, gatinha?
Volta aqui
Vamos conversar
Eu não queria ter de te machucar
Vai dar jogo pro azar?
Bruxa
Vagabunda
Filha da puta

Eita, coitadinha
Tão novinha
Quis dar
Não soube se cuidar
Agora nada de abortar
Engula essa tua culpa
Mamãe
Trancada
Forçada
Quem mandou?

Ah, mas isso é fase
Hoje não quer ser mãe
Quando encontrar homem bom
Espera só, querida
Toda mulher nasce pra isso
É vocação
Questão de tempo
Espera só


Dupla jornada
Balela de louca
Eu sou um fofo
Estou aqui com sua pensão
Sua vocação
Não minha

Olha, putinha
Quer abortar?
Teu nome tá em sangue
Lá no chão da favela
1 milhão por ano
Clandestinas
É Gabriela?
Cravo ou Canela?
Não tem chá
Não tem pai
Não tem saúde
Não tem
Não

Não pode descuidar
Tem que tomar
A pílula
Engula
Um pouquinho a cada dia
Trombofílica
Hipertensa
Cancerígena
Mas descuidar não pode
Pode suas asas

Olha ali, tá gordinha
Desleixou
Tá descuidada
Desse jeito acaba sozinha
Mas tem rosto tão bonito
Não se cuida
Questão de saúde, sabe?
Me preocupo
Juro que não é padrão

Filme de terror
É rua escura
Passo próximo
Respiração ritmada
Pensou era demônio
Era homem
Ali
Sozinha
Suja
Pintando a sarjeta de sangue
Por hora são onze

Vocês querem falar sobre flores? Eu não quero nem vê-las. A bizarrice poética desse dia é fruto da dor das nossas mulheres: estupradas, silenciadas, subestimadas, impedidas, mutiladas, espancadas, violentadas, exploradas, forçadas.
Todos. Os. Dias.

8 de março é dia de luta.

Texto: Luiza passarin

domingo, 3 de março de 2019

Nenhuma pressa

Nem me alcança esse ritmo da vida
Esse imediatismo sem jeito
Essa falta de tudo
Que nada basta e nunca ta satisfeito
Eu não quero apressar nada
Nem me perdoaria que o adeus fosse antes da hora
Um dia tudo acaba
E com vc eu quero experimentar o eterno
Um infinito de tempo
Que não tem nome
Não vou correr com o relógio
Ter você é um presente
Sem mesmo você imaginar
Que eu já te tenho nas minhas horas
Nas minhas ansias de amar
Nos sonhos de acalanto
E eu em seus furtivos pesadelos
Então, o tempo e a hora vão precisar dizer
O que for preciso vai acontecer
Nao será de outra maneira
Que seja sem pressa
Essa é a minha prece
De tanto te amar