quarta-feira, 27 de março de 2019

Sou, desde garoto, um sujeito lento. Rápido no pensar, lá isso eu sou, mas muito lento no agir. Quem gosta de mim diz, com benevolência, que eu tenho um tempo próprio de fazeção das coisas. Deve que tenho mesmo. Pelo sim, pelo não, adotei como um dos meus lemas o mineiríssimo "Festina lente" ("Apressa-te lentamente") dos latinos, que me permite viver sem culpa uma vida em que lavar e pôr para secar a roupa, observar o movimento dos calangos no quintal ou o voo das andorinhas sobre a minha morada são etapas do dia tão importantes quanto escrever mais algumas páginas do livro de memórias ou terminar de preparar a oficina que oferecerei neste fim de semana em São Paulo. Junto à lentidão (talvez a marca maior do meu temperamento pessoal) a opção pela frugalidade. Fazer do pouco algo que perdure, quem sabe alguma alegria para sempre: isto é, sim, comigo. Sem pressa nenhuma. Porque, além de já ser lento de nascença, aprendi a valorizar ainda mais a lentidão desde que li pela primeira vez, logo que foi publicado, este primoroso ensaio do geógrafo-pensador Milton Santos que volta e meia eu reposto aqui. "Vos desejo uma excelente viagem" - faço minhas as palavras grafadas por Bispo do Rosário num estandarte - pelo texto do professor Santos. Terei muito gosto em saber, à noite, se quiserem me contar, que o dia de hoje foi para vocês agradavelmente lento.

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"Quebrem as correntes dos seus pensamentos e conseguirão quebrar as correntes do corpo..." ("A História de Fernão Capelo Gaivota" BACH, 1970, p. 122/3).
Hilda Freitas, Belém/PA