O MEU CORPO PADRÃO
Minha aparência me agrada, mas não foi sempre assim. Dois anos já se passaram desde o meu parto e nesse caminho eu já achei que minha vida havia sido estragada pela gravidez. Já tive raiva, vergonha e muita insegurança. Eu não sei o que me fez mudar. Talvez tenha sido um tanto de feminismo com mais um tanto de amor próprio conseguido a duras penas em frente ao espelho.
Hoje eu consigo admirar coisas que já odiei. Manchas de sol na pele do rosto, manchas de espinhas, olheiras,rugas. A pele que começou a aceitar o tempo. Dentes nem tão brancos, lábios grandes e grossos, nariz largo. Orelhas pequenas, testa grande. Cabelo entre o crespo e o cacheado, alguns fios quebrados, outros tantos fios bem lindos.
Meu corpo cumpre sua função de me levar ao encontro das pessoas que amo e me dar prazer. Prazer sexual, prazer no trabalho, prazer no convívio, prazer de comer, de cantar, de ser.
Peitos que amamentam não são duros nem empinados e, mesmo assim, eu os amo. Amo o prazer que me proporcionam no sexo, na amamentação e ao contemplá-los diante do espelho.
A barriga tem mais pele que antes e essa pele tem as marcas de um dos momentos mais doces e deliciosos que minhas lembranças guardam. A espera por minha filha. As estrias, a flacidez, o umbigo que ficou diferente. Tenho amor, respeito e gratidão especiais por minha barriga.
Minhas coxas não estão mais duras. Pretendo fortalecê-las em busca de mais saúde para os meus joelhos. Minhas pernas me levam e eu as agradeço diariamente por suportarem meu desejo intenso de experimentar o mundo.
Não há quem me convença a me anestesiar e me submeter a uma cirurgia para consertar o que está perfeito. Meu corpo está perfeito e nele eu carrego a minha história.
Cremes caros, tratamentos doloridos... desculpem, tenho preguiça. (Mas maquiagem eu adoro!)
Eu me sinto triste às vezes. Em alguns momentos, me sinto terrivelmente triste. Chega a doer. Vez ou outra me sinto absurdamente feliz e eufórica. Na maior parte do tempo, estou bem. Sinto-me serena, tranquila.
Não preciso medicar minhas tristezas. Elas fazem parte de mim. É também por elas que eu me amo e que outras pessoas me amam. Não quero normalizar meus sentimentos. Quero ser eu e poder sentí-los todos.
Há um enorme mercado a vender normalidade. Sem crítica, acabamos aniquilando as nossas características mais únicas e especiais para entrarmos dentro de um padrão. O peito duro e empinado, a barriga reta e sem gordura, a vulva de tal jeito, a pele, o cabelo, os pelos, as unhas, o humor, o sono, o tamanho do pênis, a grossura dos lábios... não tem fim.
Aliás, tem. O ponto final, eu coloquei. Hoje me sinto bem como sou, tranquila com a minha aparência, com meus desejos e amores. Um dia nos disseram que precisávamos refazer nosso corpo. Consertá-lo! Caso contrário, o marido iria embora! Um dia nos disseram que ele olharia para a outra mulher mais jovem na rua. E nós acreditamos! Eu mesma acreditei até ver casais se desfazendo e maridos indo embora depois da abdominoplastia e da mamoplastia que deixaram o peito empinado, a barriga reta e o corpo “correto” denovo.
Minhas descobertas se tornaram doces quando eu descobri que meu corpo despertava desejo e amor e encantamento mesmo flácido, marcado e “errado”. O medo da dor de transar depois do parto foi substituído por deliciosas experiências regadas de zelo, afeto e desejo!
Hoje eu sei e sinto que o meu corpo só deve e precisa servir a mim. Quem quiser ir embora que vá. Eu fico. Inteira. Eu não me abandono nunca mais. ❤️
Minha aparência me agrada, mas não foi sempre assim. Dois anos já se passaram desde o meu parto e nesse caminho eu já achei que minha vida havia sido estragada pela gravidez. Já tive raiva, vergonha e muita insegurança. Eu não sei o que me fez mudar. Talvez tenha sido um tanto de feminismo com mais um tanto de amor próprio conseguido a duras penas em frente ao espelho.
Hoje eu consigo admirar coisas que já odiei. Manchas de sol na pele do rosto, manchas de espinhas, olheiras,rugas. A pele que começou a aceitar o tempo. Dentes nem tão brancos, lábios grandes e grossos, nariz largo. Orelhas pequenas, testa grande. Cabelo entre o crespo e o cacheado, alguns fios quebrados, outros tantos fios bem lindos.
Meu corpo cumpre sua função de me levar ao encontro das pessoas que amo e me dar prazer. Prazer sexual, prazer no trabalho, prazer no convívio, prazer de comer, de cantar, de ser.
Peitos que amamentam não são duros nem empinados e, mesmo assim, eu os amo. Amo o prazer que me proporcionam no sexo, na amamentação e ao contemplá-los diante do espelho.
A barriga tem mais pele que antes e essa pele tem as marcas de um dos momentos mais doces e deliciosos que minhas lembranças guardam. A espera por minha filha. As estrias, a flacidez, o umbigo que ficou diferente. Tenho amor, respeito e gratidão especiais por minha barriga.
Minhas coxas não estão mais duras. Pretendo fortalecê-las em busca de mais saúde para os meus joelhos. Minhas pernas me levam e eu as agradeço diariamente por suportarem meu desejo intenso de experimentar o mundo.
Não há quem me convença a me anestesiar e me submeter a uma cirurgia para consertar o que está perfeito. Meu corpo está perfeito e nele eu carrego a minha história.
Cremes caros, tratamentos doloridos... desculpem, tenho preguiça. (Mas maquiagem eu adoro!)
Eu me sinto triste às vezes. Em alguns momentos, me sinto terrivelmente triste. Chega a doer. Vez ou outra me sinto absurdamente feliz e eufórica. Na maior parte do tempo, estou bem. Sinto-me serena, tranquila.
Não preciso medicar minhas tristezas. Elas fazem parte de mim. É também por elas que eu me amo e que outras pessoas me amam. Não quero normalizar meus sentimentos. Quero ser eu e poder sentí-los todos.
Há um enorme mercado a vender normalidade. Sem crítica, acabamos aniquilando as nossas características mais únicas e especiais para entrarmos dentro de um padrão. O peito duro e empinado, a barriga reta e sem gordura, a vulva de tal jeito, a pele, o cabelo, os pelos, as unhas, o humor, o sono, o tamanho do pênis, a grossura dos lábios... não tem fim.
Aliás, tem. O ponto final, eu coloquei. Hoje me sinto bem como sou, tranquila com a minha aparência, com meus desejos e amores. Um dia nos disseram que precisávamos refazer nosso corpo. Consertá-lo! Caso contrário, o marido iria embora! Um dia nos disseram que ele olharia para a outra mulher mais jovem na rua. E nós acreditamos! Eu mesma acreditei até ver casais se desfazendo e maridos indo embora depois da abdominoplastia e da mamoplastia que deixaram o peito empinado, a barriga reta e o corpo “correto” denovo.
Minhas descobertas se tornaram doces quando eu descobri que meu corpo despertava desejo e amor e encantamento mesmo flácido, marcado e “errado”. O medo da dor de transar depois do parto foi substituído por deliciosas experiências regadas de zelo, afeto e desejo!
Hoje eu sei e sinto que o meu corpo só deve e precisa servir a mim. Quem quiser ir embora que vá. Eu fico. Inteira. Eu não me abandono nunca mais. ❤️
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"Quebrem as correntes dos seus pensamentos e conseguirão quebrar as correntes do corpo..." ("A História de Fernão Capelo Gaivota" BACH, 1970, p. 122/3).
Hilda Freitas, Belém/PA