terça-feira, 17 de dezembro de 2024

quando a tragédia e a comédia se encontram ou sobre a morte e o prazer na apaixonante história de amor catastrófica

Eu sou o zero depois da linha de chegada, enquanto ela corre atrás do pódio na velocidade máxima. Eu caí antes de começar a disputa, e a maratonista queimou duas vezes o início na largada. Histórias de fracassos épica mediocridade do cotidiano. Ontem eu queria suspirar, meu travesseiro afogava a minha ânsia.  Eu rangia os dentes, triste e mórbida.  O banquete na casa dela tinha poções generosas caídas da sala à cozinha; os quartos eram bagunça entre lençóis fora do lugar. Ela gargalhava sonoras notas agudas, cansada e indiferente embora molhada e inteira.
O caminho entre nós está necessariamente demarcado de zero ao potencial elevado ao quadrado de 10 vezes alguma coisa. Enquanto ela solta pirueta no ar, eu tenho preguiça de elevar a pestana do olhos e perder a cabeça. O fogo e o perigo de ser tocada excitam a mente e arrepiam pelos. A água e o medo de ser consumida endurecem os músculos e a pele esfria esvaindo o que pudesse ser dúvida.  Ela, não tenho medo de olhar; enquanto eu sou dela monstruosidade silêncio e erro. A catástrofe de amar o contraditório se instaura antes que se possa lutar contra.
O prazer dá medo, constrange e confunde a mente aturdida.  A morte é motivo de dor do qual se foge por causa óbvia da própria existência.  Como se move para o prazer quando ele machuca? Por que se busca na morte o sentido de vida? O complexo da fênix,  no ensinamento do analista inspira essa loucura de amor na noite desse dezembro fatalista. Onde não se pode ter paz, não se demore: lê-se no letreiro em destaque diante da vista. Entretanto,  se não for a morte propriamente dita? E se for apenas metaforicamente o prazer em desmedida?
Quando se busca na morte conotativa um motivo para se recomeçar,  há vontade de permanecer viva. O milagre de se vencer o perigo de um dia partir está na certeza do agora já que vivente se respira. E o prazer apavorante tomado pela fantasia de dor por perda é reconfortante quando vivenciado por uma reciprocidade jamais concebida.
A tragédia está aí,  pois o prazer não é mútuo,  não se traduz em uma reciprocidade oferecida.  O que possibilita alguma comédia triunfante nesse desencontro de amor no qual final feliz não se concretiza. Então,  nem o fim se pode de fato dizer que exista. Talvez,  o incerto instaure um eterno inacabado desfecho. Tudo que há de insano ao amor se apraz.

sexta-feira, 9 de agosto de 2024

ela me surta

O primeiro nome na rede social mais pop de todas...Twitter [tuite pros íntimos,  como nós fomos]. Porcausadajuh foi um codinome exato pros tempos investidos de tempo e deslocamentos no espaço que nutriu nosso biênio.  Fizemos desse momento um itinerário dinâmico e frequente.  Tudo entre nós foi perene e por isso mesmo não sinto medo do devaneio, éramos e tudo que passou nos tornou presentes como somos no hoje-futuro. Faz 7 anos que seguimos rotas divergentes e por acaso nos reencontramos na nova rede social top do momento: Instagram. Ultrapassamos as barreiras no tempo.
Uma vez escrevi "ela me surta" e compreendi cada microdetalhe dessa sensação alucinante.  Hoje ela já são muitas elas. Elas invadiram meus planos e desde o princípio eu queria esse sentimento vívido. Amar é desarmar as armadilhas que eu mesma coloquei no caminho. É dispor o novelo na entrada do labirinto e proclamar a saída em si mesma, comigo. 
Eu queria dizer mesmo que me encontro hoje surtando felizmente, amorosamente e me amando e  me admirando por isso. E muito mais do que fosse possível eu surto mesmo longe dos seus lábios,  porque neles eu afinco a minha razão de sentidos. Tudo sentido nos seus seios sossego. Colo que desejo na lonjura entre minha rede e seu edredon branco macio feito sua pele e seus pelos, no toque furtivo debaixo da mesa do bar no pôr de sol de domingo. E surtar assim é amansar desejos de esconderijos antes de seus cabelos, enrolados pelos meus dedos livres, enlaçados pelo cheiro vício no teu travesseiro. E seus olhos? [meu olhar] fugindo...será o beijo o medo que meço entre nós no mesmo lençol do lado do seu abismo, abrindo-se como o rio transbordando no sul do nosso corpo-caminho.

sábado, 13 de julho de 2024

não deixem que te exijam uma atitude que nem mesmo quem requer teria

Eu estou cansada de gente achando que sabe o que eu preciso
Enquanto até mesmo eu não estou me fazendo essa pergunta 
Eu não sei e nem quero saber do que ao levantar esqueço
E quando preciso urjo anseio sedento e caio
Urgência é um prenúncio de certezas e eu sinto
Eu sinto muito
Eu tenho sentidos antepassados
Um pedaço de mundo em mim se abre
Eu desvaneço em buraco negro de necessidades 
Então,  me recuso a saber de minhas urgências 
Umedeço os lábios depois enxugo cada porção de desejo
Minhas sedes eu engulo gota a gota no deserto insano
Eu desmorono nas areias mmovediças sob meus pés cansados 
Um a um meus medos sereno antes de fechar os olhos
Sou sedenta, faminta, desenredo psíquico da minha vida
O prelúdio de minha demanda acalento sangrando por dentro
Uma vasta fome que ninguém sabe o preço e minha prece eu mesma rezo

quarta-feira, 10 de janeiro de 2024

cristianismo para ser rico: uma violência contra os pobres

Sobre o cristianismo da riqueza e a demonização da pobreza: a violência como FÔRMA da "fé".

Em algumas igrejas, percebemos um tipo de dogma que endeusa a acumulação de bens materiais e, de modo inversamente proporcional, demoniza o que considera pobreza. Ou seja, nessas igrejas (religiões), a pobreza é vista como um tipo de "pecado" que precisa ser perseguida enquanto que a riqueza é defendida como uma "graça  alcançada" através da fé. 
A fé é um sentimento exercido por meio de uma religião.  Ela possui várias formas de ser praticada. Por exemplo, cantar para Deus, vestir-se para ir ao encontro de Deus em um determinado lugar (templo), ajudar pessoas que estejam em situação de necessidade ou até caminhar em procissão seguindo um determinado símbolo. Existem muitos RITUAIS que demonstram a fé de uma pessoa.
No caso do cristianismo para ser rico - uma espécie de religiosidade muito comum atualmente no Brasil (mas comum no mundo todo também) -, existe algumas maneiras de se expressar essa fé.  A fôrma na qual alguns estão sendo talhados (moldados) parece apontar para uma demonstração de aproximação da riqueza de bens materiais e distanciamento da  simplicidade (espiritual). Ilustro aqui: quanto mais bens materiais você parecer ter, mais abençoado filho de Deus você parecerá. Ou ainda: se você tem um carro, demonstra a riqueza material dada pelo próprio Deus na sua vida, de forma que trocar de carro seja quase um testemunho de milagre. E isso é bem estranho se comparado ao menino Jesus, denominado pela própria narrativa bíblica,  como o filho de Deus. Não é? 
Eu fico imaginando como que essas mentalidades religiosas imaginam que o pobre galileu (Jesus) seria se chegasse hoje...Será que pensam que ele seria um bilionário,  como Elon Musk? Ou será que ele estaria sendo humilhado, mal trapilho, perambulando pelas ruas asfaltadas do nosso imenso, rico, país? Será que ele gostaria das roupas lavadas ou exigiria a grife mais cara da última moda chique das passarelas de Milão? Será que comeria hambúrguer ou juntaria restos de comida despejados dos banquetes das mesas fartas das casas pomposas dos seus fãs? Eu acho que Jesus não iria querer nascer hoje se pudesse escolher, não nasceria. 
A violência expressa contra a pobreza é a prática de constante humilhação dos pobres produzida por tantos religiosos. É inacreditável perceber que quem dá mais dízimo, oferta e remuneração para padres, pastores, "servos" da fé e afins costuma ser melhor tratado dentro dos templos. Sei lá o que se fala hoje no sermão contra os vendilhões do templo. Hoje eu não sei mesmo COMO se "vende" tanto sucesso material como o milagre da vida. Comprimiram a beleza da crença em um anel de ouro e diamantes que não vale nada além do valor na prateleira de uma joalheria. 
A fé que antes valia ao espírito, hoje alterna o valor conforme o dólar. E - sem nenhuma vergonha - condena a pobreza à morte, como no alto do monte uma cruz se erguia. Ser pobre é um pecado na mercadoria das igrejas vazias. Cheias de bancos, repletas de ornamentos enquanto milhares dormem ao relento nas noites. A alma desse cristianismo da riqueza sucumbe ao papel moeda, pois as almas estão olhando a aparente vestimenta de luxo da benção nas mãos sedentas por mais cédulas.  O dólar não perde a importância em contrapartida a sobrevivência não tem garantia.
Precisamos repensar a fé materialista, consumista, porque ela nos faz perder a capacidade de se sentir humano diante de outro ser humano. E essa perda leva à descrença verdadeira na importância de amar a vida de todas as pessoas.

segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

para lembrar sempre em 2024

O patriarcado é um condicionamento tão violento para nós,  mulheres, que derruba nosso senso de realidade mesmo. A realidade,  no sentido histórico  (material-dialético), é composta do que se vê,  se sente, se experiencia,  se sente e se compreende a partir de tudo isso. Complexo e natural para nós humanos, de acordo com o Wittgenstein,  tanto quanto os limites da linguagem são em proporção o limite (as fronteiras) do nosso mundo. E, para mulheres, a misoginia é uma linguagem codificada na carne, que exerce sentido no nosso corpo e pode ser autossabotadora quando, em algum momento,  nossa alienação (falta de consciência de classe, como diz Marx) nos aprisiona no cativeiro de paredes douradas, ou o amor romantizado (heteronormativo, para Butlher). É a consciência de gênero (consciência de ser mulher nesse mundo) que nos liberta pouco a pouco, sem ilusão,  sem troféu na mãe,  com mil e umas lutas silenciadas que começam a ser EXPRESSAS EM LETRAS E SONS maiores do que a fantasia do "herói " salvador da mocinha. Para mim, o percurso foi vivido do lado das letras de Gerda Lerner, Audre Lorde, Angela Davis, Silvia Federici, Valeska Zanello Zanello e outras irmãs de cura que estão presentes na vida vida me lembrando que nós mulheres merecemos sim ser partes de uma realidade melhor para nós.  Sigamos VIVAS e juntas de olho vivo contra o opressor. #nenhumaamenos