domingo, 25 de setembro de 2022

falta de consciência de gênero = patriarcado ou violência patriarcal

Esse posicionamento que às vezes coincide com alguma frase curta não explicada relacionada ao feminismo,  por exemplo "meu corpo minhas regras" ou "não monogamia " ou "liberdade sexual feminina", resulta da heteronormatividade que subjetiva, em especial, mulheres com cisheterossexualidade autoafirmativa. Não é somente chamado de "feminismo liberal", também pode ser diretamente definido como "feminismo branco ou brancocêntrico" que reproduz a lógica do dominador/opressor diante de uma automisoginia "inconsciente ", ou alienação patriarcal ou ainda ausência de consciência de gênero - tal como se vê na falta de consciência de classe. Algumas leituras são super interessantes para autoproteção e autocuidado contra essa subjetivação muito agressiva e violenta mesmo: "A criação do patriarcado ", da Gerda Lerner; " A liberdade é uma luta constante ", da Angela Davis; "Saúde mental, gênero e dispositivo " da Valeska Zanello. Porque não é exatamente sobre "alimentar" ou não o "prazer maschista". É exatamente sobre NÃO MAIS EXERCER SOBRE SI MESMA E SOBRE OUTRAS MULHERES A VIOLÊNCIA ESMAGADORA que é o "dar prazer " ao patriarcado (que não tem gênero) enquanto uma mulher está sendo submetida a uma violência e uma violação sobre sua sexualidade e sobre o seu próprio corpo.

Super válido tudo, mas acredito que chamar de liberal engloba todas as outras questões.
Em um mundo capitalista, que é dominado por homens cis, brancos e héteros é natural que os discursos, mesmo que o feminista, sejam adaptados e moldados pra eles.
O capitalismo é capaz de vender qualquer coisa, inclusive militância.
Essa de "meu corpo minhas regras" é o slogam das estratégias comerciais que envolvem empoderamento feminino.
A gente tem que tá afirmando o tempo todo que o feminismo liberal é perigoso, seduz jovens que vão se expor em um mundo que ainda é perigoso pra elas, facilita a vida do agressor e dificulta ainda mais a nossa.
E pra isso precisamos facilitar ainda mais o discurso quando falamos de feminismo, mesmo entendendo que o assunto é mais complexo. Porque afinal a finalidade é que toda e qualquer mulher compreenda o espaço que ocupa na sociedade.

Dependendo do público alvo é indispensável deixar muito prático mesmo o que é feminismo sem descartar as diversas visões desse saber. Em um lugar de conversa entre manas, precisamos mesmo instrumentalizarmos-nos. Entre manas vizinhas, em uma roda, dizemos sobre o cuidado com o carinha que se faz de "desconstruído", por exemplo, ou àquele esquerdo macho que só gosta do rolê não mono quando a mana não é a namorada "oficial " dele, aquela que ele apresenta "pra família " e tem uma relação de "monopólio " sexual sobre ela. Porém,  é preciso falar abertamente sobre o que já existe de livros, vídeos do YouTube,  podcast para que mulheres como eu e você e quantas mais de nós o possível possam se proteger e proteger umas às outras.  Como já ensina a Audre Lorde em "Irmãs outsider":  " silêncio no patriarcado é a voz da cumplicidade ", pois falar e não calar, nem a si mesma e nem outra mana é instrumento de combate à violência de gênero que nos fere, nos explora, nos abusa, nos agencia,  nos derruba, nos mata. É para não mais ver mulheres caladas diante de homens exploradores, estupradores, abusadores e violentos que eu me posiciono.

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"Quebrem as correntes dos seus pensamentos e conseguirão quebrar as correntes do corpo..." ("A História de Fernão Capelo Gaivota" BACH, 1970, p. 122/3).
Hilda Freitas, Belém/PA