Se eu mergulho em mim, derramo amor...prazer... ódio... rupturas. Se eu te mergulho, deságuo em fúrias...feras...feridas...e amar. É sobre o encontro de mágoas às vezes, mas em um vigoroso oceano há sempre vida!
domingo, 20 de março de 2022
não há uma só verdade feminista...a branquitude não consegue se governar
Eu não gosto da interpretação que fazem dos livros da Clarissa. Gosto demais do estilo poético dela. Sou professora de Língua Portuguesa, Literatura, Arte, Redação. Estudo um pouco de antropologia, filosofia, historigrafia (feminista), feminismos, psicanálise e literatura feminista, marxista, negra e dissidente. Aprendi muito que os comentários, as leituras mesmo, as interpretações (às vezes um tanto equivocadas mesmo) são fruto de uma falta de leitura própria sobre os livros sabe. Sobre como quando falam de Freire, só por falar, só para descredibilizar mesmo. Eu acho ruim isso. A Clarissa é de origem russa e por isso se tornou pesquisadora das narrativas ancestrais da sua ascendência familiar. A família dela foi morar nos Estados Unidos e, mesmo assim, havia quem se opusesse ao agressivo processo de aculturação tão caro aos supremacistas do racismo estadunidense, a maioria até dos intelectuais (até Zygmunt Bauman e Chommysk). Então, li "Ciranda das mulheres sábias" como quem sentava ao lado de uma irmã mais velha ou uma vizinha mais velha e seguia ao alento do tempo. É um bálsamo, sabe. Tenho muitas leituras duras, aflitivas e cheias de dororidade. Ler Clarissa me colocou em um colo e me ninou. Eu sosseguei. Há quem distorça, por exemplo, "Mulheres que correm com os lobos". O que para mim é uma agressividade desleal de leitor ruim mesmo. Dizer por exemplo que ali se tem "arquétipos universais" ou tipos generalizantes de gente é de uma superficialidade que parece um resumo ruim de internet. É uma pesquisa tão autobiográfica, porque se trata de narrativas genealógicas de uma ascendência quase siberiana. Por isso os lobos, por isso os fantasmas azuis, por isso a selvagem mulher ser em si uma mulher de um lugar primitivo, mítico mesmo e elementar para a própria autora. Chega a ser parecido com ler narrativas lendárias ameríndios e amazônicas. Ou ouvir minha mãe (ribeirinha, população tradicional no Pará) falar das histórias que ela ouvia quando criança. Me vejo olhar as margens de rios de águas escuras e serenas, cheias de verdades escondidas sobre a mulher tão profunda que me habita em algum lugar clandestino da mente perdida. Então, me desculpe se eu estou sendo chata ou inconveniente, não se pode culpar a autora pelo uso distorcido, pela interpretação apressada e pela justificativa injusta de quem leu para se alienar.
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"Quebrem as correntes dos seus pensamentos e conseguirão quebrar as correntes do corpo..." ("A História de Fernão Capelo Gaivota" BACH, 1970, p. 122/3).
Hilda Freitas, Belém/PA