terça-feira, 15 de setembro de 2020

A pseudociência atrasa a ciência. 

Imagine ser um cientista pesquisador, e, ao invés de trabalhar na investigação de possíveis curas do câncer, ter que parar tudo para iniciar uma nova pesquisa para descobrir se um composto químico pode curar câncer, porque ele caiu na mídia. O resultado, obviamente, é que o composto não cura câncer. Mas esse é apenas UM resultado da pesquisa. Além do veredito, a pesquisa causou movimentação de dinheiro, de pessoal, equipamentos, políticas, e tempo - elementos preciosos na corrida científica contra doenças mortais.

A cada nova teoria mirabolante espalhada por gente ingênua, mais tempo cientistas e educadores precisam perder para desmentir as fraudes, ao invés de usar esse tempo para fazer avanços. 

Cura com cristais, imposição de mãos, homeopatia, constelação familiar, cloroquina, radiestesia, design inteligente, entre outras, são pseudociências tão populares, que precisam movimentar um mercado inteiro de pesquisas para provar o que o simples bom senso poderia admitir em poucos segundos: que não funcionam. Que não se baseiam em princípios biológicos ou químicos. Que não têm pé nem cabeça. Que não poderiam funcionar, porque não têm lógica.

Para se ter um ideia, universidades religiosas ao redor do mundo já gastaram milhões para estudar se orações seriam capazes de curar  câncer. A pesquisa é tão sem sentido, que mesmo o cálculo do resultado ficou confuso e difícil de concluir. 

Ao invés de partir do ceticismo, a população geral parte da crença. Invertem o ônus da prova, e pedem que a ciência vá atrás de provar que suas alegações fantásticas são falsas. Pedem que se prove a ineficácia antes mesmo de haver alguma eficácia comprovada. 

E assim, cientistas de todo o mundo precisam abandonar seus trabalhos que poderiam salvar milhões de vidas, para tentar engarrafar o vento de ideias absurdas e mentirosas que caem no gosto do cidadão médio sem conhecimento básico de ciência. 

Uma pessoa que tem noção da realidade não precisa de estudo para saber que homeopatia é uma farsa. Basta saber que "reverberação a níveis subatômicos" é uma afirmação ridícula e sem qualquer conexão com física. Qualquer um que sabe o mínimo sobre pesquisas com aceleradores de partículas sabe que o nível subatômico ainda é um campo quase desconhecido, e que, portanto, nenhuma "medicina" milenar seria capaz de afirmar qualquer coisa embasada em ciência.

E para aqueles que insistirem que é preciso ter fé e considerar a experiência individual com tratamentos alternativos, apenas insisto: você não sabe como a ciência funciona. 

Parem de criar curas milagrosas. Deixem a ciência trabalhar em paz.

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"Quebrem as correntes dos seus pensamentos e conseguirão quebrar as correntes do corpo..." ("A História de Fernão Capelo Gaivota" BACH, 1970, p. 122/3).
Hilda Freitas, Belém/PA