sexta-feira, 18 de setembro de 2020

fome

Por isso que entre a fome e a vontade de comer o abismo se chama capitalismo genocida.  Não se come mais o alimento, mas o símbolo que ele representa dentro da sociedade do espetáculo e da autoafirmação, o status quo do capital é a marca e não a necessidade. Então, quem precisa comer terá o que os alimentos simbólicos não dão. E quem se direciona para saciar a vontade de ser alguém que "come bem" também de fato nunca tem o anseio satisfeito. No mundo da satisfação como imagem (foto para ser curtido por exemplo), ninguém está de fato suficientemente satisfeito, todos temos fome, fomes diferentes e nenhuma é melhor do que a outra, mas há fomes que são mais urgentes. E o prato de comida sem um pouco de arroz e de feijão  não ganha nenhuma admiração.  Recebe invisibilidade e desprezo,  mas está na sombra do prato que transborda e deixa cair no chão.  A colonização da percepção humana da fome causa a desnutrição da humanidade, a banalização das mortes por miséria e a desumanização de quem não "pode" ter nem vontade de ser gente.

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"Quebrem as correntes dos seus pensamentos e conseguirão quebrar as correntes do corpo..." ("A História de Fernão Capelo Gaivota" BACH, 1970, p. 122/3).
Hilda Freitas, Belém/PA