sábado, 14 de setembro de 2019

Te elegem a pessoa mais feia da turma no fundamental.
Insistem com uns apelidos que nunca foram engraçados.
Falam do seu cabelo, da sua pele, do seu corpo, do que você veste, da sua família.
Tramam brincadeiras pra te ridicularizar em público, pra te mostrar que você é menos, que não é um deles.
Você passa a se sentir mal o tempo todo, ansioso, sufocado, mas ainda nem entende direito o porquê
Você aprende a se odiar, e chega no ensino médio com vergonha de si.
Lá vc passa os 3 anos mais confusos da vida.
Excesso de informação, de decepção, de falsidade, de choro.
Conflito com amigo, com família, com os próprios sentimentos, conflito consigo mesmo.
Sensação de impotência. Apoio em lugar nenhum.
Chega o Enem e da pele pra dentro vc ainda é uma bagunça, tentando consertar o rombo psíquico do ensino fundamental.
Vendendo a saúde pra não frustrar os pais.
Tendo toda sua vida resumida a esconder o que sente.
O sorriso é sempre o mesmo.
O espelho ainda machuca.
Você se defende do jeito que dá, mas por dentro é só angústia, ansiedade, e medo.
Medo de não saber se você é uma pessoa incrível ou o lixo que te falaram.

Não é normal.
Era pra ser escola, mas criaram uma fábrica de distúrbios, ansiedade, depressão, e suicídio.

O que pra você é brincadeira, pro outro é sofrimento, que sangra todo dia, que tortura, que deprime, e tem gente que desiste, que só quer um ponto final.

Nesse dia não adianta chorar, fazer camisa, nem dizer que não sabia, pq as mãos sujas não são as dele, são as nossas.

As nossas!
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Texto: Luiz Guilherme Prado

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"Quebrem as correntes dos seus pensamentos e conseguirão quebrar as correntes do corpo..." ("A História de Fernão Capelo Gaivota" BACH, 1970, p. 122/3).
Hilda Freitas, Belém/PA