Fui professora efetiva da rede estadual do Maranhão de 2016 até 2019. Profesora do Ensino Médio, nos 3 anos, com português e redação.
Minha forma de encarar o papel do professor na escola pública mudou completamente.
Tivemos resultados sigbificativos em simulados estaduais, URE Zé Doca (IDH médio muito inferior à linha da pobreza ). Nesse caso, eu fui professora em uma sede municipal que fazia o suporte de ensino para POVOADOS, muitos com mais de 60km de distância em chão batido, outros com pontes para dar acesso em rios e até próximas a comunidades indígenas e quilombolas.
O que eu vi:
Alunos no 3° ano que sabiam ler MUITO POUCO, escrever COM MUITA dificuldade e tinham grande parte da família analfabeta.
Quando não havia merenda escolar, passávamos por isso durante alguns PERÍODOS, até MESES, os alunos tinham um rendimento MUITO MENOR, isso porque a FALTA DE COMIDA é AINDA MAIS IMPORTANTE do que a falta de conteúdo, celular, computador, internet.
Não comer é muito mais grave do que não ter nem dados móveis para celular, imagine internet BANDA LARGA.
Essa população foi atendida em mais de 75% da sua CARGA HORÁRIA letiva (remota ou híbrida) ano passado.
Meus amigos professores que são apenas 25% efetivos, isto é, TEM em sua maioria professores contratados (ganhando 1/3 do salário de um efetivo, sendo isso mais ou menos R$1500 POR MÊS. Esses professores fizeram trabalho remoto NO INTERIOR DE UM MARANHÃO sem qualidade de internet, nem com fibra óptica.
E os alunos tiveram prejuízos por causa das aulas, mas um pouco, o mínimo possível de alento com o vale alimentação que é MUITO POUCO para alimentar MUITAS VEZES uma família, porque o auxílio emergia do governo federal não chegou exatamente onde deveria porque há muita corrupção, além de toda a desigualdade social ALIMENTADA pelo sistema genocida do atual irresponsável criminoso da República.
Por isso, o lugar dos alunos deveria ser sempre olhado também por nossa voz política de professores.
Sem o nosso olhar, o olhar da escola enquanto comunidade, O REAL DIREITO constitucional da educação formal é uma farsa.
Assim que eu vejo.
Todo o apoio qualquer aluno meu, NA SEDUC do Pará, terá. Farei o que estiver AO MEU ALCANCE COMO PROFESSORA efetiva que sou, concursado para isso, para dar aos alunos O BÁSICO, O MÍNIMO que depender de mim.
Assim que penso, porque a minha alimentação está ao menos garantida, assim como minha saúde enquanto trabalho de casa. É o mínimo da minha parte que vai além do papel de um professor. É a minha ética como educadora em instituição pública nestes tempos DEVASTADORES para todos, mais ainda para aqueles que não tem sequer o básico que eu tenho.
Para mim, isso é romper com uma pedagogia do oprimido e, ao mínimo mesmo, pensar em uma possibilidade de educação que transformadora e cidadã - como foi defendido claramente por Paulo Freire, tanto em Pedagogia do oprimido (ou da OPRESSÃO) e "Professora sim, tia não: cartas a quem ousa educar". Esse é o mínimo mesmo. Nessa situação caótica, pensar nos alunos que padecem muito mais com esse sistema esmagador de desigual é ética.
[26/3 23:09] Hilda: Se um aluno diz que o governo estadual é ruim por causa do Lockdown, a questão não é política partidária ... A questão é maior
[26/3 23:10] Hilda: O Pará teve HOJE mais mortos do que UM PAÍS na América do Sul, mesmo com lockdown
[26/3 23:12] Hilda: Se o aluno não tiver de algum modo a ciência de que o Lockdown está salvando a vida dele...e que ir trabalhar "pra poder comer" ou morrer é uma injustiça, uma DESUMANIDADE, ele nunca vai entender a importância da educação de fato... DAR A DIGNIDADE do conhecimento formal e do reconhecimento, ao menos, da própria cidadania.
[26/3 23:14] Hilda: Esse aluno não está só expondo o governo estadual...ele está falando do sistema, da educação que é prática e pensada por pessoas. Minha pergunta é: para quem é feita a educação pública no nosso país?
Essa pergunta ainda precisamos responder não com palavras...nem com planilhas (com certeza), embora isso seja uma exigência do Ministério Público, porque se trata de um direito... temos que responder com prática.
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"Quebrem as correntes dos seus pensamentos e conseguirão quebrar as correntes do corpo..." ("A História de Fernão Capelo Gaivota" BACH, 1970, p. 122/3).
Hilda Freitas, Belém/PA