Se eu mergulho em mim, derramo amor...prazer... ódio... rupturas. Se eu te mergulho, deságuo em fúrias...feras...feridas...e amar. É sobre o encontro de mágoas às vezes, mas em um vigoroso oceano há sempre vida!
terça-feira, 9 de março de 2021
álcool, cerveja, mulher, violência doméstica e feminicídio ...uma perspectiva histórica
Lendo "História da sexualidade 3: o cuidado de si", de Foucault, lembrei de um regime cuja intenção era purificar a sexualidade , equilibrar e promover hábitos saudáveis. Entre diversas sugestões, a prática de beber vinho era a melhor avaliada porque tinha princípios masculinos. Isto é, assim como a prática clerical de assimilar o vinho ao sangue do Cristo exaltava essa bebida e seu vínculo patriarcal, havia outra que era inferiorizada. Adivinha? O costume de beber cerveja. Uma bebida historicamente relacionada ao trabalho de mulheres. Outra leitura indispensável me ratificou isso. Gerda Lerner, em "A criação do patriarcado : história da opressão das mulheres pelos homens", comprova que as fazedoras de cerveja eram as subalternas em propriedades profundamente patriarcais. A misoginia sempre explicaria historicamente a inferiorização do gênero de bebida assimilado ao feminino. Então, essa prática muito atual de cervejaria artesanal é um apagamento (gourmetizador) da relação entre mulheres e cervejas. Um apagamento que garante o maior status para a cerveja artesanal. E, cruelmente, demonstra a relação macabra entre o consumo abusivo de bebida alcoólica (em especial a cerveja, pelo consumo nas classes proletárias) com o índice explosivo de feminicídios. É, tristemente, diretamente proporcional a relação entre maior consumo de álcool e maior número de violência doméstica e morte de mulheres. Tudo que escrevi aqui, me perdoe pelo textão, é um desabafo. Eu mesma fui criada em um ambiente com violência doméstica, tentativa de feminicídio e abuso psicológico intenso intimamente ligado com alcoolismo. Eu precisa dizer.
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"Quebrem as correntes dos seus pensamentos e conseguirão quebrar as correntes do corpo..." ("A História de Fernão Capelo Gaivota" BACH, 1970, p. 122/3).
Hilda Freitas, Belém/PA