A formação em saúde é regida por uma heteronormatividade tão brutal que uma mulher lésbica tem seu cuidado em saúde negligenciado por que segundo os profissionais que a atendem, ela é "virgem" e por isso não pode ser examinada da forma como outras mulheres heterossexuais são.
VIRGEM! 2021 e profissionais de saúde ainda precisam do aval de um pênis para fazer o seu trabalho. Assim, uma mulher com endometriose ou outro comprometimento do seu aparelho ginecológico é orientada a não fazer um simples ultrassom transvaginal por que o transdutor vai penetrar sua vagina nunca antes penetrada por um pênis! Afff! Que burrice, que ignorância e que desconhecimento sobre as diversas formas de práticas sexuais, meu povo! Isso é objeto de estudo, também. Pode e deve ser aprendido.
Mulheres lésbicas podem compartilhar objetos durante relações e isso pode ser meio de transmissão de IST's, SIM! Elas devem fazer coleta de preventivo, sim! E se você tem alguma dúvida em relação às práticas sexuais delas e os cuidados médicos que elas demandam, PERGUNTE SOBRE ISSO A ELAS.
Fora que essa ideia de que primeiro precisa entrar um pênis na vagina para que ela possa ser examinada por um profissional de saúde é tão atrasada, machista e nada científica que chega a me dar vergonha.
A vagina é só uma parte do corpo feminino. Mais uma. Sim, envolvida em incontáveis tabus, mas é apenas uma região do corpo que precisa de cuidados específicos.
Acaso a mulher que nunca fez sexo oral com um homem não pode ter sua garganta examinada? Uma mulher que nunca praticou sexo anal não pode ter uma queixa intestinal investigada?
Recentemente, vi a Ginecologista Sincera conversando sobre isso na página dela e os relatos são absurdos.
E tem um debate muito mais cheio de tabu que é o debate da tal da virgindade... O valor que se dá a isso compromete a assistência a saúde das mulheres! Um horror!
E até onde eu sei, a tal da virgindade tem a ver com nunca ter transado. Ou seja, a mulher que foi estuprada nunca transou. A mulher que faz um ultrassom transvaginal nunca transou. A mulher que precisa fazer um exame ginecológico nunca transou. Mas as pessoas estão ligadas numa membrana que precisa estar intacta.
Aí, dessa lógica, nasce a ideia de que mulheres lésbicas que transam e são plenas e felizes exercendo a sua sexualidade são virgens! Que coisa bizarra! É tudo sobre o aval masculino, né. É tudo sobre o pênis, aquele órgão definidor de nossas vidas, da nossa moral, da nossa capacidade de ser mulher, e agora até da nossa saúde... Preguiça!
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"Quebrem as correntes dos seus pensamentos e conseguirão quebrar as correntes do corpo..." ("A História de Fernão Capelo Gaivota" BACH, 1970, p. 122/3).
Hilda Freitas, Belém/PA