A diferença entre narcisismo e hedonismo parece não existir na cultura ocidental contemporânea.
Quando leio a tragédia de Narciso sendo contada como se fosse uma história de alguém que se "apaixona" por si mesmo, que praticamente se idolatra(talvez), isso me deixa intrigada.
Narciso nem se conhecia, não sabia o que via, defrontou-se com um abismo (a imagem de si) - recorrendo aqui à proposta interpretativa de Nietzsche que elucida o aparente paradoxo ao entender que olhar fixamente para os monstros pode torná-los algo familiar, pois são como abismos refletidos...
Digam se não parece essa a situação em que se encontra Narciso, que morre... (ou se suicida...quem sabe?) ???
Narcisismo parece um termo colocado no mesmo sentido que hedonismo, que é muito mais romano do que grego. Muito mais romântico do que trágico.
Me parece que sofremos de um tempo hedonista radical em que o prazer é levado ao seu ápice. Mas isso não é bom. O prazer radicalizado é tirano, autoritário, controlador, ditatorial.
Parece mais com um outro personagem da tragédia de Narciso, o pai de Narciso, o ESPETACULAR Zeus, o famoso, o belo, o forte, o sedutor, o maravilhoso líder do Olimpo. O cara da mitologia grega, profundamente hedônico por sinal. Um mito mesmo.
Todas as besteiras que ele fazia eram "perdoadas" pela sua mulher (ciumenta, famigerada, megera) que castigava os filhos de adultério dele, como fez com Narciso.
Mas eu também tenho uma visão disso, sabe... Sei lá, talvez a Hera fosse só uma mulher que proclamava tragédias, como um oráculo, embora nesta fase da civilização as mulheres já tivessem sido fortemente distanciadas da divindade, pois a era dos patriarcas já havia se espalhado nos anos 4,3, 2 antes de Cristo (aproximadamente entre 400 e 100 a.c.).
Perto perigosamente da era judaico-cristã que chegará interpretando ao seu modo tudo que enxerga pela frente.
Ah, os romanos... não só a língua "socializaram", mas dominaram até os sentidos das coisas...
Bom...é isso.
Queria saber o que vcs acham dessa proposta de acepção dos termos narcisismo e hedonismo que eu tenho?
Boa noite, meus amigos!
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"Quebrem as correntes dos seus pensamentos e conseguirão quebrar as correntes do corpo..." ("A História de Fernão Capelo Gaivota" BACH, 1970, p. 122/3).
Hilda Freitas, Belém/PA