Ler é ouvir; ouvir leitura não é ler.
Em meus cursos de literatura, sobre prosa ou poesia, não abro mão de ler os textos em voz alta. Tenho a convicção de que, ao escrever, o autor aciona também sua fala, e conta não apenas com os olhos, mas com os ouvidos do leitor, que devem captar o ritmo, os timbres, as inflexões, as pausas, as tonalidades afetivas dos textos. Esses textos são todos indicados no programa do curso, já na primeira aula: quero que sejam lidos, ouvidos e estudados ANTES da minha leitura em voz alta. Esta será apresentada como uma INTERPRETAÇÃO, e é nessa forçosa condição que deve ser debatida. Ainda quando interpretado por um grande ator ou atriz, por quem seja capaz de revelar e realçar muitas potencialidades expressivas da linguagem, um texto literário não dispensa o acolhimento inicial do leitor que lhe dará a forma de sua própria captação pessoal. O impacto da primeira leitura que cada um faz de um texto, marcada pelas naturais limitações de um contato ainda pouco refletido, não pode ser substituído pelo impacto de quem já o leu e agora pronuncia sua recepção pessoal. Se eu ouvir a gravação de um conto do Guimarães Rosa lido por Lima Duarte, estarei, obviamente, ouvindo a leitura que faz Lima Duarte de Guimarães Rosa. Pode, evidentemente, ser belíssima e inspiradora. Ainda assim, não substitui aquela multiplicação virtual das leituras que brotam da voz de um autor que reconheço quando o leio e o ouço em meu momento de concentração. Não um momento solitário: um momento carregado da humanidade que o escritor estende a cada um que o leia, adensando o que Adorno, tratando da recepção da poesia lírica, chamou de “corrente coletiva subterrânea”.
Em meus cursos de literatura, sobre prosa ou poesia, não abro mão de ler os textos em voz alta. Tenho a convicção de que, ao escrever, o autor aciona também sua fala, e conta não apenas com os olhos, mas com os ouvidos do leitor, que devem captar o ritmo, os timbres, as inflexões, as pausas, as tonalidades afetivas dos textos. Esses textos são todos indicados no programa do curso, já na primeira aula: quero que sejam lidos, ouvidos e estudados ANTES da minha leitura em voz alta. Esta será apresentada como uma INTERPRETAÇÃO, e é nessa forçosa condição que deve ser debatida. Ainda quando interpretado por um grande ator ou atriz, por quem seja capaz de revelar e realçar muitas potencialidades expressivas da linguagem, um texto literário não dispensa o acolhimento inicial do leitor que lhe dará a forma de sua própria captação pessoal. O impacto da primeira leitura que cada um faz de um texto, marcada pelas naturais limitações de um contato ainda pouco refletido, não pode ser substituído pelo impacto de quem já o leu e agora pronuncia sua recepção pessoal. Se eu ouvir a gravação de um conto do Guimarães Rosa lido por Lima Duarte, estarei, obviamente, ouvindo a leitura que faz Lima Duarte de Guimarães Rosa. Pode, evidentemente, ser belíssima e inspiradora. Ainda assim, não substitui aquela multiplicação virtual das leituras que brotam da voz de um autor que reconheço quando o leio e o ouço em meu momento de concentração. Não um momento solitário: um momento carregado da humanidade que o escritor estende a cada um que o leia, adensando o que Adorno, tratando da recepção da poesia lírica, chamou de “corrente coletiva subterrânea”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
"Quebrem as correntes dos seus pensamentos e conseguirão quebrar as correntes do corpo..." ("A História de Fernão Capelo Gaivota" BACH, 1970, p. 122/3).
Hilda Freitas, Belém/PA