terça-feira, 17 de setembro de 2019

Crônicas coutianas – Telma, eu sou gay!

De tanto ouvir boatos de que sou gay, decidi fazer essa crônica para tornar público que, sim! Eu sou gay! Me relaciono amorosamente com outros homens, amo outros homens! Quando amei o primeiro homem eu era criança, ainda. Ele era bem mais velho do que eu. Me apaixonei rapidamente pelo modo como ele me olhava, com aqueles olhos castanhos cheios de ternura e amor por mim. E eu não relutei em cair em seus braços! Era tanto amor entre nós que ele me carregava em seu colo, me beijava, me cheirava, me mimava o quanto podia. Muito embora fossem dois homens, ele não tinha vergonha de andar de mãos dadas comigo nas ruas! O povo olhava, admirado, mas a gente seguia de mãos dadas, orgulhosos do nosso amor!
Eu ficava admirando o fato de ele ser bem mais velho do que eu, de uma outra geração, mas não ter vergonha de andar de mãos dadas comigo nas ruas. Era tanto o amor entre nós que ele costumava me chamar de “filho” e eu retribuía chamando-o de “pai”. Este homem mais velho, o primeiro que eu amei, já se foi, mas sigo amando-o infinitamente e carrego muito dele em mim, orgulhosamente! Esse homem que eu amei foi um dos homens que me ensinou a amar, junto com tantas mulheres!
Depois que cresci amei muitos outros homens! E fui amado por eles também! Amei professores, colegas de classe, amei músicos que eu admirava, amei amigos meus e sempre gostei de beijá-los, abraçá-los, senti-los perto de mim! Como é bom ser gay e poder amar outros homens, sentir outros homens!
Mais recentemente estou amando um homem bem mais jovem do que eu. Sim, não tenho vergonha de admitir. É um jovem muito bonito, inteligente, muito alto, quase 2 metros de altura. Na verdade, foi o processo inverso do que aconteceu com o homem mais velho que eu amei quando era criança. Dessa vez, eu sou o homem mais velho e o amo desde que ele era criança! Conforme aprendi com meu primeiro amante homem, eu também costumo andar de mãos dadas com meu jovem amante! Eu, com cara de senhor de meia idade; ele, com cara de jovenzinho. Como as pessoas olham espantadas quando a gente passa abraçado nas ruas! E como eu gosto de abraçar e beijar esse jovem homem que eu levei pra cama desde que ele ainda era uma criancinha! Como eu gosto de lembrar do modo como eu o mimava e o fazia adormecer em meu colo! Como eu gosto do jeito como ele me olha, do jeito como ele me ama, do modo como ele se declara por mim! Certa vez, um senhor de idade avançada não resistiu e, ao nos ver caminhar abraçados na avenida Brás de Aguiar, me perguntou: “É pai e filho?” e eu disse: “é meu amor!”
Como é bom ser gay e poder amar outros homens! Como é bom ser gay e se sentir livre para amar outros homens! Como é bom ser gay e poder simplesmente amar! Porque não há nada mais humano, mais sublime, do que amar! Porque amar não cabe numa fórmula, numa caixinha, mesmo que ela carregue um rótulo religioso. Por sinal, Jesus, que amou Maria, Maria Madalena e tantas outras mulheres, amou tanto os homens que escolheu 12 como seus apóstolos! Amar é reproduzir Deus, Ele que é todo amor! Quanto mais amamos, mais Deus se reproduz entre nós e nos que nos rodeiam!
Não tenha mais dúvida, querido: eu sou gay! Durma tranquilo, certo de sua heteronormatividade doentia e castradora! E, se por alguma razão minha existência gay te incomoda, te faz sofrer, procure uma terapia. Te faço um convite, até: experimente abraçar, beijar, manifestar afeto livremente por outros homens! Experimente simplesmente amar e sentir-se amado, independentemente de qualquer rótulo! Que seja seu pai, seu filho, seu amigo, não desperdice a chance de amar e se sentir amado por outros homens! "Não se reprima!" (Menudo). Isso não fará de ti menos homem e não te impedirá de amar, igualmente, as mulheres, que eu também as amo tanto!
Eu seguirei amando outros homens sem medo de beijá-los, abraçá-los, querê-los perto de mim. Eu seguirei sendo gay! Como é bom ser gay no exercício livre de simplesmente amar! Sua homofobia o matará, pois quem não sabe amar se desmancha no ar de sua própria ignorância. Enquanto isso, I will survive! GratiGay!

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"Quebrem as correntes dos seus pensamentos e conseguirão quebrar as correntes do corpo..." ("A História de Fernão Capelo Gaivota" BACH, 1970, p. 122/3).
Hilda Freitas, Belém/PA