sábado, 4 de dezembro de 2021

eu-leitora

Quando eu era criança, os livros eram uma cabana para minha infância...um abrigo, sabem como é?
Era onde eu guardava a fantasia de poder explorar um mundo incrível e cheio de coisas inimagináveis. Era além de cabana, além de abrigo, além de tudo...um baú. Os livros eram meus tesouros de pequenina pirata. Eu sonhava porque lia. Eu não sonhava às noites. Eu sonhava enquanto lia. 
Na adolescência, descobri que os livros eram amigos também. Eles ouviram além de falarem. Antes de tudo, os livros gostavam de me escutar. Eu nem abria a boca, mas os livros escutavam meus pensamentos. Só eles para compreenderem tantas invenções de menininha ainda que eu sempre tinha. Eu carregava a minha bolsa imaginária, invisível. Nela eu guardava tesouros...eram os livros que eu já carregava desde a infância na minha bagagem de vida.
Lia, lia, lia. Talvez eu já falasse demais assim como vocês me conhecem...mas muito mais do falar...eu lia. E eu escutava o mundo da biblioteca que minha vida já carregava. Eu leio desde que nem falava. Eu lia quando era bebê e mamãe me carregava, vovó me embalava na rede estendida na sala, papai me acompanhava com olhos risonhos, todos viam o quanto eu lia sem sequer compreender UMA PALAVRA. É que ler é maior que o alfabeto das letras, fonemas e frases. Ler o alfabeto da vida foi-me ensinado ainda quando mamãe me gestação, do ladinho da minha irmã gêmea. A gente nasceu leitora de mundos. Meninas que lêem mais do que papel carrega, a gente lê mais do que a visão das coisas indicava.
Cresci somente como leitora, afinal eu sou baixinha e braba. Sim, mesmo sendo uma mulher pequenina e aparentemente meiga, eu sou braba. Quem me conhece sabe quando as palavras me escorrem feito cataratas...eu trovejo também. Eu sou pequena mulher onça. Onça urbana e domesticada, que lê (se me permitem a autometáfora).
Cresci leitora. Alcei voos de águia das palavras, mas escuto ainda os livros da infância, escuta ainda as vozes da adolescência. Eu sou tão amada por meus amigos da leitura. Nos conhecemos desde que nascemos juntos. Espero que nosso fim não seja senão repleto dessa leitura inteira de vida que me acompanha nas lutas, nas manhas e na garra. Enfim, ser uma mulher da leitura, ela é meu sobrenome, trouxe-me até aqui, nessa última linha, até o ponto que nunca acaba.

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"Quebrem as correntes dos seus pensamentos e conseguirão quebrar as correntes do corpo..." ("A História de Fernão Capelo Gaivota" BACH, 1970, p. 122/3).
Hilda Freitas, Belém/PA