Se eu mergulho em mim, derramo amor...prazer... ódio... rupturas. Se eu te mergulho, deságuo em fúrias...feras...feridas...e amar. É sobre o encontro de mágoas às vezes, mas em um vigoroso oceano há sempre vida!
quinta-feira, 10 de junho de 2021
amamentação compulsória e outras formas de escravização de mulheres e pessoas com útero no sistema tirano do patriarcado
E, é sempre bom lembrar de mulheres que não quiseram ou tiveram sérios problemas para amamentar. Afinal de contas, faz parte do discurso da violência simbólica misógina a amamentação compulsória. Por exemplo quando uma menina, ainda muito nova engravida, é obrigada a gestar, a parir, a amamentar...por causa do dispositivo materno (violência de gênero). Um sofrimento devastador e muito solitário invade essa menina. Da mesma forma, mulheres e pessoas com útero que são obrigadas (são um enésimo dado silenciado e amordaçado) a levar gestações - indesejadas e adoecedoras, talvez enlouquecedora - e ouvem uma voz social que naturaliza o aprisionamento das fêmeas que devem ser a fábrica da humanidade. Esse é um ponto que me toca porque minha irmã é mãe solo, de uma gravidez não planejada, amamenta até hoje (depois de já 3 anos do filho), sem poder trabalhar, sem poder ter sua autonomia legitimada e muitas vezes silenciadas em vozes que repetem " a mãe é sagrada", mas esquecem que somos compulsoriamente obrigadas a nos reproduzir em muitas situações de circunstâncias diversas. A amamentação é também um direito da criança conforme as prerrogativas de aleitamento como princípio de desenvolvimento saudável de pequenas gentes. E, mais uma vez, o discurso da maternidade compulsória e violenta se faz sem nem a declaração de direitos humanos perceber. Afinal, mulheres ou pessoas que possuem útero têm mesmo o direito de decidir? Somos iguais em "liberdade" e integridade do nosso corpo como qualquer um? Será que é assim? São indagações necessárias para um feminismo político e prático. A vida de mulheres e pessoas que possuem útero não deveria se resumir às consequências biológicas de gestar, parir e amamentar como se fossemos fêmeas, animalizadas, escravizadas pelo controle externo que o patriarcado retém sobre o nosso existir. Apesar de tudo isso, eu sou plenamente a favor da garantia dos direitos das pessoas que possuem útero de gestar, parir e amamentar se assim for minimamente para o seu próprio bem e da sua própria vontade. Mas eu acho que o que eu defendo anda utópico demais.
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"Quebrem as correntes dos seus pensamentos e conseguirão quebrar as correntes do corpo..." ("A História de Fernão Capelo Gaivota" BACH, 1970, p. 122/3).
Hilda Freitas, Belém/PA