quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

Eu fumo e bebo sim

Eu fumo quando estou com raiva de mim
Não me proíba disso
Não tenha pena também
É assim
Sou menos desespero quando bebo
Não resisto ao marasmo dentro de mim
Tenho a influência dessas energias
Dessas fontes revezes de dor em dor
Tenho anseios que não alcanço
Me derramo em sombras quase sempre
Fumo quando me desprendo das redes
De afeto e solidão calmas que cultivo
Entrego-me a sal, o suor e severos
Desafetos que me guardam
Que me assegaram dos sons
Dos meus meios e dos meus fins
São tudo eu
Eu bebo e mergulho
Sou também afastamento
Os mais improváveis medos
Nos goles de cada cerveja que invento
Para não dizer o que entala
Engulo cada palavra velha
Cada sentido adormecido
Adoecido já meu coração
Reparte em efeitos doses
Eu bebo para me vencer
Desculpa se isso é veneno
Isso é minha própria aposta
Versos e reversos meus em mim

Nenhum comentário:

Postar um comentário

"Quebrem as correntes dos seus pensamentos e conseguirão quebrar as correntes do corpo..." ("A História de Fernão Capelo Gaivota" BACH, 1970, p. 122/3).
Hilda Freitas, Belém/PA