quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

Ao meu corpo

Não sei ao certo como me comunicar com vc, afinal foram anos de invizibilização, de mordaça, de sobrecarga e de subjugação. Eu te calei, te escondi, te sobrecarreguei e te subjuguei ao que minhas inseguranças impunham. Eu te esqueci, te violei, te desprezei, quis te anestesiar, fiz de tudo para que fosses punido por eu existir. Foram tantos anos de cárcere e de maus tratos que nossa conversa é sempre difícil. Não consigo te escutar, te respeitar, te sensibilizar para si e te ajudei a se "congelar" a tal ponto que hoje há uma era glacial aqui. Não sabia que eras o que eu sou de fato, que ao te maltratar estava me fazendo tanta crueldade. Pode até nem parecer mas nossa relação foi sempre confusa e ruim. Apesar de tudo isso, eu quero te reconhecer, quero voltar a te sentir com espontaneidade e desejo que nosso elo vigore pelo tempo que eu continuar a viver. Não desista de mim antes de me fazer te sentir integralmente e livremente. Desejo-nos, enfim, um recomeço sem rancor. Espero que me perdoe, corpo meu de cada pequeno instante do existir.

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"Quebrem as correntes dos seus pensamentos e conseguirão quebrar as correntes do corpo..." ("A História de Fernão Capelo Gaivota" BACH, 1970, p. 122/3).
Hilda Freitas, Belém/PA