Andamos muito até aquele dia. A velocidade que ela corre entre carros, motos, bicicletas e embarcações me assusta. Ela domina o movimento, enquanto eu olho os relógios para passar o tempo. Ela sabe transpor por estradas, rios e nuvens. Eu olho pro céu e vejo a lua e as estrelas desaparecem entre um dia e outro do alto do meu travesseiro.
Dois mundos se encontraram na roda da fortuna da minha história. A leoa mansa, rainha felina, que defende a liberdade e a alegria. E uma loba amendrotada, escondida no seu canto, se camuflando enquanto foge das gentes. Foi feitiço de estrela cadente rompendo o céu naquele julho atribulado. Foi perfume de bota saindo dos poros enquanto suamos de baixo dos lençóis. Foi promessas de amor e caos.
Eu queria derramar em chamas. Ela me acordou e a erupção foi incontrolável. Feito lava varrendo tudo em cinzas, eu caí no turbilhão de ciúmes e agressividade. Os murros no estômago que o amor consegue dar atravessaram nossos dias. Atropelamos o início da história. E fomos vivendo tudo na velocidade avassaladora das paixões mais ferozes. Ela pedindo ternura, cuidado e autonomia. Eu perdendo o senso, ultrapassando todos os limites, sentindo um amor em brasas. Um vulcão ativo é demolidor. Aquece noite e dia sem perder a vontade de queimar até que vira pedra fria depois de um tempo fora das profundezas onde se escondia. Mesmo um vulcão pode ser parado pelo tempo. Tudo o que eu pedia era que ela pudesse esperar em meio ao fogo...mas eu não queria que ela sofresse tanto quanto suportar a fúria daqueles dias.
Como é possível amar em meio às tragédias? Por que não poderia ser algo mais simples de se viver? Por que eu pedia para o meu amor fazer algo tão drástico a fim daquela história sobreviver? Por que era tão desastroso o que a gente vivia? Eu matei as ilusões com palavras dolorosas e distorções doentias. Ela teve que sobreviver em meio a lama fervente que eu deixava no caminho. Como caminhar nessa loucura? Como ela conseguiu ficar por tanto tempo nessa constante luta pela vida?
Eu busquei as saídas, quis os mapas para fugir daquela tragédia. À minha frente, um labirinto me paralisava. A minha mente se consumiu de dor e insanidades. Eu queria saber aonde estavam as portas, por onde a gente conseguiria fugir dali. Eu corri demais e perdi as forças. Embora a única esperança era poder viver aquele sentimento de um jeito melhor para nós duas.
Ela foi perseverança, inteligência emocional e rebeldia. Onde ela via espaço, colocava vida e nutria. Cultivou tudo de bom que pode pelo caminho. Alimentou de generosidade um prato vazio. Fez da cozinha a varanda, cheia de flores gostosas para serem servidas. Sua comida é colorida como um buquê de flores. Seu sorriso continua brilhando mesmo quando o sol nublado nos olhos avistamos no horizonte do dia. Os abraços dela são ternura e força numa medida que me cuidam. Enquanto eu abri apenas a porta da casa para ela naquela noite vazia.
Ela preenche os espaços da casa. Tem seus cosméticos no banheiro, no quarto e na sala. Por onde ela passa, tem o perfume dela me deixando ciente de que estou na sua companhia. Ela é presente, eu não merecia. Eu queria ser dela desde o primeiro dia. E queria morar em todos os seus dias. O forma que ela me ama derruba meus monstros. Eu só queria poder fazer a vida dela mais feliz. Um dia queria ver ela livremente correndo mundo à fora sem o medo de perdê-la de vista. Mas a vastidão de um universo como ela não se compreende pelos olhos, somente pela liberdade tatuada no coração.
Ao meu pedido de amor lindo para a estrela cadente.